OS MISTÉRIOS DE CLARICE ME AJUDANDO A RENASCER

Vi, por esses dias, o vídeo (que capturei no maravilhoso You Tube) do programa “30 Anos Incríveis”, especial sobre Clarice Lispector. Nunca havia visto uma imagem dela, o falar, o gestual. Conhecia apenas pelos contos e pelos livros que li. Clarice é cult não só pela forma de escrever. Percebi, no vídeo, que ela cultivava uma personalidade que suscitava essa classificação. Em pouco mais de 30 minutos de entrevista, ela fumou muito e não deu um sorriso. Recusou-se a responder algumas perguntas com a alegação de que as respostas eram segredo. No começo da entrevista me surpreendi com o sotaque dela. Uma espécie de francês misturado com nordestino. Sim, nordestino, ela viveu parte da sua juventude no Recife. O mistério, acerca da forma de falar da grande escritora, foi revelado pela sua biógrafa, Nádia Batella Gotlib. Segundo ela, não era nenhum sotaque. Clarice tinha a língua presa e nunca quis operar porque tinha pavor de cirurgias, achava que sentiria dor. Conservou o “defeito” que, ao meu ver, lhe conferia um charme ainda maior. Essa não é a única curiosidade envolvendo Clarice Lispector. Ela foi voluntária na Segunda Guerra Mundial servindo com enfermeira na Força Expedicionária Brasileira. O New York Times, em matéria do crítico e tradutor Gregory Rabassa, classificou a escritora como “a Kafka da literatura latino-americana”.

Clarice dizia que viveu várias vidas. Por quê? Ela explica: “quando não estou escrevendo eu estou morta. Agora mesmo eu estou morta. Quando voltar a inspiração e eu voltar a escrever, renascerei”. O amor de Clarice pelo seu ofício, de escritora, pode ser percebido no diálogo, entre ela e o jornalista José Castello, que reproduzo a seguir:

J.C. — Por que você escreve?

C.L. — Vou lhe responder com outra pergunta: — Por que você bebe água?

J.C. — Por que bebo água? Porque tenho sede.

C.L. — Quer dizer que você bebe água para não morrer. Pois eu também: escrevo para me manter viva.

Confesso que li pouco Clarice, apenas dois livros. O primeiro, “Água Viva”, li na década de 80 quando cursava o ensino médio. Não foi uma leitura fácil. A busca pela liberdade e todo aquele jogo de palavras me custaram uma nota baixa em literatura. Depois li “A Hora da Estrela”. Desse livro eu gosto bastante. Acho que Macabéa era a própria Clarice. A construção desse personagem deve-se muito ao tempo em que ela viveu no Recife.

Escrevi há algum tempo que a internet me distanciou um pouco dos livros. Estou tentando sanar esse problema mergulhando no universo (misterioso) de Clarice Lispector. Vou ler “Laços de Família” para renascer. Não se vive sem livros, percebo agora. Segue abaixo, a primeira parte da entrevista que cito no post. Lembrando que o vídeo completo, dividido em cinco partes, está disponível no You Tube. Você pode encontrar também as partes reunidas aqui.

Comments

8 Responses to “OS MISTÉRIOS DE CLARICE ME AJUDANDO A RENASCER”

Bete Meira disse...
19 de janeiro de 2009 às 03:12

Nota mil pra esse post,pra sua lembrança dessa excelente escritora.Li na adolescência e ainda guardo um livro de contos chamado "A felicidade clandestina".Amo ler,é uma das melhores coisas da vida,recomendo a todos que leiam,leiam,leiam... a leitura nos abre um mundo fantástico de percepções,mistérios,enredos,soluções,sonhos,expande nosso pequeno mundo e nossa mente!Você jamais será o mesmo após cada livro que se dispuser a ler!

Gabriela disse...
19 de janeiro de 2009 às 08:56

Para falar a verdade, nunca li nenhum livro da Clarice Lispector e lendo essa matéria fiquei curiosa para ler alguma obra dela!
Seu blog está de parabéns!!!

admin disse...
19 de janeiro de 2009 às 09:09

Nossa,
esitora de muita importancia, que anda esquecida por nos...
parabens cara, e atualize sempre!!




Se puder passa no meu blog:

http://paginadacomedia.blogspot.com/

Gabriela disse...
19 de janeiro de 2009 às 09:56

Gente, como gostei da Clarice! Seu blog está muito interessante, parabéns!

Rubens Rodrigues disse...
19 de janeiro de 2009 às 11:45

Li só um livro da Clarice Linspector, ano passado e foi pra escola. Na vdd eu nem li, vi só algumas cronicas que estavam no livro. Gostei, me pareceu meio sem pé nem cabeça no início, mas logo eu vi que a essência dela é bem diferente. Ela escreveu coisas que parecem idiotices, mas ao me ver, são importantes.
Curti a matéria, bye bye!

blog disse...
19 de janeiro de 2009 às 16:17

Um bom presente a seus leitores, Ed. Eu conheci Clarice. Aos 15 anos, fui passar férias no RJ e meu tio - que era amigo de um ex-marido dela, diplomata - levou-me até sua casa. Ela tinha tido um derrame e estava debilitada. Foi interessante, mas, na época, eu nem fazia idéia de quem ela era e de sua importância. Veja só! Havia gatos na casa, lembro-me bem. Uma figura.

Nunca a considerei uma grande escritora, embora tenha gostado de alguns de seus livros ("A Maçã no escuro" e "Felicidade Clandestina" me agradaram). Mas é primeiro time, para o Brasil.
Grande abraço.

30 de outubro de 2011 às 17:43

Querido Ed,
você me lembrou uma dívida que tenho comigo mesma, pois li a Lispector na década de 1980, dos livros que minha irmã tomava de empréstimo da biblioteca do SESC/Garanhuns. Isso já faz tanto tempo, que já passou a hora de uma renovação. Obrigada pelo lembrete, o texto está belíssimo.

ED CAVALCANTE disse...
30 de outubro de 2011 às 17:55

Obrigado, Ana, quanto a Clarice, nunca é demais viajar nas palavras dela.

bjin

if (myclass.test(classes)) { var container = elem[i]; for (var b = 0; b < container.childNodes.length; b++) { var item = container.childNodes[b].className; if (myTitleContainer.test(item)) { var link = container.childNodes[b].getElementsByTagName('a'); if (typeof(link[0]) != 'undefined') { var url = link[0].href; var title = link[0].innerHTML; } else { var url = document.url; var title = container.childNodes[b].innerHTML; } if (typeof(url) == 'undefined'|| url == 'undefined' ){ url = window.location.href; } var singleq = new RegExp("'", 'g'); var doubleq = new RegExp('"', 'g'); title = title.replace(singleq, ''', 'gi'); title = title.replace(doubleq, '"', 'gi'); } if (myPostContent.test(item)) { var footer = container.childNodes[b]; } } var addthis_tool_flag = true; var addthis_class = new RegExp('addthis_toolbox'); var div_tag = this.getElementsByTagName('div'); for (var j = 0; j < div_tag.length; j++) { var div_classes = div_tag[j].className; if (addthis_class.test(div_classes)) { if(div_tag[j].getAttribute("addthis:url") == encodeURI(url)) { addthis_tool_flag = false; } } } if(addthis_tool_flag) { var n = document.createElement('div'); var at = "
"; n.innerHTML = at; container.insertBefore(n , footer); } } } return true; }; document.doAT('hentry');