A ESCOLA TRADICIONAL E OS “EFENÓLOGOS”

Lembro-me como se fosse hoje, tinha um garoto na minha sala (uma turma de sétima série) que era o que chamávamos de “crânio”. Tirava notas estratosféricas, era o primeiro da turma, sempre invejado. O que me intrigava era que, numa conversa informal, ele parecia ser bem menos instruido do que as suas notas indicavam. Alguns anos depois encontrei com ele trabalhando em um mercadinho como embalador. Perguntei: E a faculdade, conseguiu?” Ele, com tom de melancolia, disse: Que nada, não passei. Agora trabalhando aqui não dá pra estudar”.

Fiquei um bom tempo sem entender porque o cara que tirava notas altas não havia seguido adiante nos estudos. Anos depois, numa aula de didática com a querida professora Hajnalka (acho que é assim que se escreve esse nome húngaro), aprendi que a escola tradicional criava falsos heróis. Vários alunos, exímios em decorar questionários, tinham fama de superdotados, de crânios. Fora da escola, quando eram postos a teste na vida real, sem o auxílio dos questionários, quase sempre fracassavam. Muitos deles sequer entendiam o porquê de terem passado de super alunos para mero coadjuvantes.

Nunca fui um aluno brilhante, tirava notas medianas, na área de exata minhas notas eram sofríveis. Mas sempre tive a compensação de me esforçar para estar bem informado e atualizado. Fazia parte de um grupo de adolescentes que, mesmo tirando notas medianas ou abaixo da média, discutia sobre política, música de qualidade, poesia. Enquanto os outros apenas assistiam aos filmes, nós assistíamos, discutíamos sobre a direção, roteiros, atores. Os decorebas não sabiam dessas coisas, afinal, após os filmes não tinha questionários para eles decorarem.

Os falsos instruídos eram como o Efenólogo”. Explico: diz uma fábula que existia um homem inteligentíssimo e muito instruído, sabia muito. Falava sobre florestas, sobre a França, sobre o fogo, sobre Francisco Ferdinando, entendia sobre fokstrot, fauna, feijão, fumo, fazendas, falsidade, fábricas... Um dia perguntaram-lhe: "Quem foi Arquimedes?". Ele pensou e não respondeu. Todos estranharam, o sabichão não sabia. Sua “erudição” era segmentada. Ele havia cumprido pena por assalto, passou dez anos na prisão. Tinha como companheiro de cela, um homem que guardava consigo uma enciclopédia. O tal homem ganhou liberdade e acabou esquecendo os volumes da enciclopédia referentes a letra “F”. Ele decorou tudo e virou um “efenólogo”, um especialista em assuntos da letra efe.

Os decoradores de questionário da minha época de escola eram todos efenólogos, tinham habilidades parciais, não estavam preparados para a vida. Esse universo anti-holístico produziu imensas distorções na escola tradicional e fez a tristeza de muita gente. O lema que enfeita o banner desse blog resume a ideia central desse post: informação é poder.

Comments

5 Responses to “A ESCOLA TRADICIONAL E OS “EFENÓLOGOS””

Sidclay disse...
3 de maio de 2011 às 02:29

Eu acho que todos temos alguns exemplos como esse seu... lembro particularmente de um amigo "cdf" no ensino médio, sempre introspectivo como uma forma de tentar evitar que as pessoas percebessem que ele não era tão brilhante como as suas notas, passou anos sem conseguir entrar na faculdade. Enfim, ele encontrou sua área, a física. Ao decorar fórmulas complicadas e estruturar para resolver problemas, ele se encontrou...

ED CAVALCANTE disse...
3 de maio de 2011 às 09:21

Isso, cada um tem que procurar o seu caminho sem se preocupar em ser o melhor, apenas ser feliz no que faz.

Rilton Taques disse...
3 de maio de 2011 às 17:40

Eu gostava muito de gravar na memória nomes de vultos históricos e seus feitos, mas era só pra curtir com a turma. Meu forte mesmo era as ciências, especificamente as exatas. Isso me fazia raciocinar dentro do real e imaginário e me forçava a criar novas formas de desembaraçar questões de ordem lógica. Quanto à parte político-economico, sócio-religioso e filosófico, eu não tinha no meu círculo de amizades nem na família quem curtisse tudo isso, mas, mesmo assim, eu buscava entender alguns fenômenos sociais e econômicos advindos da história da humanidade, porém não podia dirimir as dúvidas com pessoas vividas e que me esclarecessem tais fatos, então isso me desestimulava essa busca. Mas, eu tinha coleções de álbuns (de colar figurinhas) instrutivos nas diversas áreas de conhecimentos, nunca gostei de álbuns de figurinhas contendo artistas e jogadores de futebol, então fui criando comigo alguns hábitos que não me deixaram tão leigo nesse campo de conhecimento

ED CAVALCANTE disse...
3 de maio de 2011 às 17:43

Rilton, meu velho, vc está sendo modeso, o volume de conhecimento que vc acumulou ao longo da vida é o que facilita a compreensão de tudo que acontece hoje. Também colecionei álbuns, gostava de futebol e heróis de tv.

Abraço!

Evanir disse...
7 de maio de 2011 às 20:41

Minha mãe E sua Mãe
Que ao dar a benção da vida, entregou a sua...
Que ao lutar por seus filhos, esqueceu-se de si mesma...
Que ao desejar o sucesso deles, abandonou seus anseios...
Que ao vibrar com suas vitórias, esqueceu seu próprio mérito...
Que ao receber injustiças, respondeu com seu amor...
E que, ao relembrar o passado, só tem um pedido:
DEUS, PROTEJA MEUS FILHOS, POR TODA A VIDA!
Para você mãe, um mais que merecido:
Feliz Dia das Mães!
Você merece!!!
Meu abraço meu carinho para você

Feliz Dia Das Mães.
beijos e beijos com infinita
ternura,Evanir.
www.aviagem1.blogspot.com

Nosso Dia Das Mães..Brasil
Seguindo seu blog professor no desejo de voltar para ler melhor seu blog.
para minha volta só me resta pedir para seguir meu blog.
beijos meus.

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