É
quase que uma unanimidade, quando a famigerada vinheta - “Em
Brasília, 19 horas” - ecoa nas ondas dos rádios, todo mundo fica
triste. Em nenhum país do mundo, que se diz democrático, existe
propaganda obrigatória do governo. No Brasil, inacreditavelmente,
ela resiste desde a Era vargas.
Criada
por Aramando Campos, um dublê de amigo e cabo eleitoral de Getúlio
Vargas, o programa foi ao ar pela primeira vez em 22 de julho de 1935
com o título de “Programa Nacional”. Dois anos depois mudou de
nome, passou a se chamar “A Hora do Brasil”. Em 1971, com a
programação totalmente voltada para a propaganda da ditadura
militar, passou a se chamar, por ordem de Médici, “A Voz do
Brasil”.
Depois
de quase oito décadas de existências, esse resquício de várias
ditaduras vem resistindo à redemocratização do Brasil. A partir da
década de 90, entretanto, vários veículos de comunicação
ganharam liminares na justiça para derrubar a obrigatoriedade da
exibição do programa. O foco dessa resistência se deu,
ironicamente, no estado natal de Getúlio Vargas, o Rio Grande do
Sul. A maioria das rádios gaúchas está desobrigada a exibir a
propaganda política do governo. Várias rádios do Rio de Janeiro e
de São Paulo também conseguiram liminares para fugirem da “Voz do
Brasil”.
A
resistência ao programa fez com que a Radiobrás (Empresa Brasileira
de Comunicação) mudasse o formato da Voz do Brasil. A atração foi
dividida em blocos e distribuída entre os três poderes. Adotou uma
linguagem mais informal semelhante aos noticiários das rádios
comerciais. O grande problema, entretanto, não é o formato e sim o
fato da atração ser uma imposição do governo. A manutenção
desse horário obrigatório é o último bastião de um período
negro da história do Brasil. O mais inacreditável é a força que
essa propaganda ditatorial ainda exerce nessa nossa frágil
democracia.
A
nós, pobres mortais conectados a rede, resta gritar e lembrar que
“nunca devemos dizer tudo bem diante do inaceitável a fim de que
este não passe por imutável”. Gritemos, então!