
Quando eu era garoto, não lembro bem em que ano (faz tempo!), sei que foi na década de 70, fui com minha mãe à casa de "Seu Lula", um lendário pai de santo do bairro da mangueira (Recife), falecido no final da década de 90. Ostentava nessa época o título de "pai de santo mais antigo em atividade no Brasil". Bom, voltando à minha história, quando chegamos à casa dele (ele era muito ligado à minha família) eu me deparei com um quadro imenso que se destacava na sala (foto acima). Ele mostrava a imagem de uma negra majestosa , coroada e com um cetro na mão. Perguntei à minha mãe: "quem é essa?" - Ela respondeu: "é uma rainha!". Era a foto de Dona Santa, rainha do maracatu Elefante. Virou lenda por ter sido a última a ser coroada segundo as tradições dos Reis do Congo. Durante muito tempo pensei que ela fosse uma rainha como Elizabeth II (Inglaterra). Entretanto, um detalhe intrigava a minha cabeça (doutrinada por estereótipos racistas): não existem rainhas negras. Descobri depois de muitos carnavais a importância dessa mulher. Dona Santa nasceu Maria Júlia do Nascimento, no dia 25 de Março de 1877, no Pátio de Santa Cruz (local sagrado, lá também nasceu o Santa Cruz Futebol Clube), centro do Recife. Seu primeiro reinado foi no Maracatu Leão Coroado. Ela abdicaria do trono mais tarde, quando o seu marido fosse escolhido para ser rei do Maracatu Elefante (fundado, acreditem, em 1880!). Dona Santa herdaria mais tarde, em 1947, o trono de rainha desse maracatu, com a morte do seu marido. Mulher de fibra, teve que lutar contra a ditadura Vargas e o governo Agamenom Magalhães que persseguiam e proibiam os cultos afros.Usava os ensaios do maracatu para realizar os cultos do candomblé. Ela reinou absoluta por vários carnavais, foi tema de vários trabalhos acadêmicos no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos. Faleceu em 1962, aos 85 anos, deixando um legado histórico riquíssimo.