Hoje
encontrei , na rua, o colega de escola, Santana. Atualmente, um membro da
igreja Assembleia de Deus. Pedalava sua bicicleta de carga carregada
de pipocas, usando camisa de mangas compridas, apesar do infernal
calor do Recife. Emparelhou na calçada por onde eu passava e mandou
uma pergunta que queria me fazer há mais de trinta anos.
Perguntou-me porque eu fazia, diariamente, um caminho duas vezes mais
longo no deslocamento para a escola. “Nunca entendi porque tu
sempre circulava o quarteirão se podia seguir em frente”,
questionou o encucado amigo. Expliquei a ele que fazia o caminho mais
longo para passar na casa de um amigo. Ele sorrio e seguiu seu
caminho.
Menti
para o amigo Santana, claro. Na verdade, circulava o quarteirão para
passar em frente a uma janela. Um certo dia, a caminho da escola, fiz
esse trajeto porque queria comprar cartolina para fazer um
trabalho da escola. Passei na frente de uma casa e vi uma mulher
trocando de roupas com a janela aberta. Eu, adolescente, fiquei
paralisado diante da cena – corriqueira para ela, erótica para mim
– que durou alguns segundos. A mulher percebeu o voyeurismo
acidental, sorriu, e fechou a janela. Depois desse episódio, passei
a usar o caminho e a contemplar aquela janela que, infelizmente,
nunca mais se abriu para mim.
Essa
historinha de infância, com cara de roteiro de filme italiano, não
teria o mesmo efeito nos dias de hoje onde a sexualidade e os
mistérios do corpo feminino não são mais tabus, os tempos são
outros. Lembrei-me de um monte de histórias dos meus amigos que se
assemelham a essa minha doce experiência. Elcides, um grande amigo
de infância, pasmem, cobrava ingresso – moeda ou objetos - dos
meninos que queriam contemplar dona Nora, uma linda morena que morava
no “correr de quartos” de propriedade da mãe dele. Anos depois,
a própria Nora confessou ao envergonhado Elcides que sabia que era
expiada e caprichava nas performances. Um luxo!
Mais
interessante ainda foi a história protagonizada por um amigo do meu
pai – que chamarei de Zé para proteger-lhe a identidade – na Festa do Ypiranga, um parque de diversões popular armado no bairro para as festas de fim de ano. Zé e um monte de
colegas – não lembro se meu pai estava nessa turama – foi a Festa
do Ypiranga para ver uma sessão do clássico popular “Monga, A
Mulher Que Vira Macaco”. Dentro da casinha lotada e escura, assim
que as cortinas se abriram, como de praxe, apareceu uma moça bonita
dançando de biquíni. Era a filha do Zé que, em casa, era uma moça
recatada e religiosa. Foi uma confusão dos infernos, Zé atracou-se
com o cara fantasiado de gorila enquanto a sua filha fugiu, de
biquíni, pelo meio do parque, para alegria dos garotos. Boas
lembranças que emergiram de uma simples pergunta de um amigo, vejam
só. Aguardem a segunda parte desse post!