Hoje Dom Hélder Câmara, se vivo
estivesse, completaria cem anos. Ele faleceu aqui ,no Recife, no dia 27 de
agosto de 1999. Sempre fui fã dele, não por questões religiosas mas, pelas
inúmeras obras sociais que implementou durante toda sua vida. Faça um teste:
escreva no Google “Dom Hélder Câmara”, escolha aleatoriamente um dos sites
listados e leia o conteúdo. Pouco se fala sobre religião, a grande obra da vida
desse admirável homem foi sua incansável dedicação aos problemas sociais,
sobretudo a pobreza e os direitos civis. Dom Hélder direcionou sua vida para
esse lado desde o início do seu sacerdócio. Em 1931, logo que foi ordenado
padre com apenas 22 anos (teve uma permissão especial, já que não tinha a idade
mínima permitida), criou a “Legião Cearense do Trabalho”. Dois anos depois fundou
a “Sindicalização Operária Feminina Católica”, que atuava na defesa das
lavadeiras e empregadas domésticas cearenses.
A ascensão de Dom Helder na Igreja
Católica se deu sempre de forma prematura. Com apenas 43 anos foi ordenado
bispo do Rio de Janeiro. A inclinação para as obras sociais não diminuiu com a
importância do cargo, na verdade, ele passou a atuar com mais veemência nessa
área. Em 1956, fundou a "Cruzada São Sebastião", uma espécie de
“movimento dos sem teto” que atuava nas favelas do Rio de Janeiro. Denunciou,
nessa época, a expulsão dos pobres para os morros.
Em 1964, ano do Golpe Militar, Dom
Hélder retornou ao Nordeste. Desta feita, como Arcebispo de Olinda e Recife.
Com a mudança na situação política do Brasil, Dom Hélder direcionou sua obra
para a defesa dos direitos humanos. Criou a “Comissão de Justiça e Paz” e as
“Ligas Camponesas” que lutavam pela implantação da reforma agrária.
Por conta da sua atuação em defesa dos
direitos humanos, Dom Hélder foi perseguido pelo Regime Militar. Por ser uma
figura de importância internacional com muita influência na Igreja Católica, os
militares hesitaram em prendê-lo ou cercear sua liberdade de expressão e
passaram a perseguir os seus colaboradores . No dia 29 de maio de 1969, o Padre Antônio Henrique Pereira, coordenador de
uma das pastorais criadas por Dom Helder, a da juventude, foi encontrado morto
num terreno baldio na cidade universitária. O corpo apresentava sinais de
tortura. Mesmo com essa manifestação extrema de violência, Dom Helder enfrentou
os militares durante toda a ditadura. Suas idéias serviram de base para o
surgimento , em 1975, da “Comissão Pastoral da Terra” que teve importante atuação
em defesa dos trabalhadores rurais durante os governos militares.
Conheci Dom Hélder pessoalmente. Em
1992, eu e meu amigo Lito, fomos até a Igreja das Fronteiras, aqui no Recife, e
batemos à porta. Pedimos para falar com ele e fomos atendidos. Dom Hélder nos
recebeu e conversamos durante uns trinta minutos. Desse raro momento, lembro-me
dele falando: "covardia é uma estupidez".
Não lembro como chegou a essa afirmação, mas repetiu várias vezes: "o
homem não tem o direito de ser covarde".
Dom Hélder não era cantor, nem tinha
rosto de galã de novela, como alguns padres famosos que vemos na tevê hoje em
dia. Sua beleza estava (e está) na força da sua obra social e na profundidade
das suas palavras: "Se eu dou comida a um pobre, me
chamam de santo, mas se eu pergunto por que ele é pobre, me chamam de
comunista." Meus
respeitos, Dom Hélder!