Quarta-feira,
ao abrir o Jornal Nacional, o “meio-âncora” - ele divide a
bancada com sua cara-metade, Fátima - William Bonner protagonizou
uma cena cômica: anunciou o jornalista Marcos Uchôa, acentuando o
fato do correspondente estar usando um capacete, regra de segurança
sugerida pela Associated Press. O fato é que o careca Uchôa não
estava usando o capacete, pelo menos o de aço, não. Bonner não
perdeu o rebolado e aproveitou para dar uma bronca no amigo que, na
edição de ontem do telejornal, exibia o item de segurança.
Esse
hilário episódio envolvendo um correspondente de guerra me fez
lembrar do grande repórter, americano de coração e neozelandês de
nascença, Peter Arnett. Ele foi um dos mais renomados
correspondentes de guerra de todos os tempos. Começou a carreira na
National
Geographic transferindo-se em seguida para a cobertura dos
grandes conflitos.
Iniciou
sua trajetória em Bangkok,
na Tailândia,
escrevendo para um pequeno jornal de língua inglesa. A guerra do
Vietnã foi seu primeiro trabalho de peso. Ao contrário da maioria
dos repórteres norte-americanos, Arnett fazia suas coberturas sem se
deixar se levar pelo nacionalismo exacerbado. Relatava o fato com a
mais profunda realidade sem se preocupar com as consequências
politicas de suas matérias. Peter Arnett cobria os conflitos no
front de guerra. Foi testemunha ocular do episódio conhecido como
“Colina 875”, uma tentativa frustrada de resgate de soldados
americanos que resultou na morte de quase todo o grupamento
norte-americano envolvido na ação.
O
Vietnã que Arnett retratava para as centenas de jornais pelo mundo
que reproduziam suas matérias, não era o Vietnã que os
Estados Unidos queriam divulgar. O governo de Lindon Johnson tentou
retirar Arnett do Vietnã alegando que ele, por não ser um americano
nativo, era impatriota. A pressão do governo não surtiu efeito e o
jornalista testemunhou a mais dramática derrota do exército
americano em todos os tempos.
Peter
Arnett virou um ícone pop no início da década de noventa quando
cobriu a Guerra do Golfo. Em 1991 várias emissoras do mundo inteiro
e cerca de quarenta correspondentes de guerra estavam no Iraque para
cobrir o conflito. Um detalhe técnico colocou Peter Arnett como
protagonista da cobertura. A CNN, emissora para qual ele
trabalhava, era a única que possuía, naquele momento, tecnologia
de telefonia via satélite. A emissora transmitiu, sozinha, o início
dos ataques do grupo de Coalizão e as primeiras vinte horas da
guerra.
Diante
da barreira tecnológica, todos os jornalistas estrangeiros deixaram
Bagdá e Peter Arnett passou a ser o único estrangeiro a
cobrir a Guerra do Golfo. Suas matérias iam ao ar com o áudio dos
conflitos preservados. Esse recurso colocava o telespectador,
praticamente, no front de guerra. Por várias vezes, ele
interrompia as transmissões quando uma grande explosão ecoava em
Bagdá. Outro grande feito do jornalista foi ter entrevistado o
presidente do Iraque, Saddam Hussein, logo após o início do
conflito. Peter Arnett também conseguiu, em 1997, entrevistar o
terrorista Osama Bin Laden.
O
último grande trabalho do velho jornalista foi a cobertura, em tevê
de alta definição, da invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos
em 2001. Peter Arnett, que nasceu em Riverton, Nova Zelândia, está
prestes a completar 77 anos. Ele ainda trabalha como jornalista e dá
palestras pelo mundo. Meus respeitos!