Há
uma semana, mais ou menos, fui visitar meus pais que moram num bairro
próximo. Numa rua pertinho da casa deles tem um bar bastante
frequentado pelo que chamamos aqui no Recife de “papudinhos”,
pessoas que, por alguma infelicidade da vida, preenchem os seus dias
tomando todas. Vários deles eu vi crescer e muito vi morrer ao
relento. Ao passar pelo bar, vi um deles lá dentro, o “Bigode”.
De longe, ele sorriu para mim e fez um aceno. Retribuí com um
sorriso e também o cumprimentei.
Ao
chegar na casa da minha mãe, ela foi logo me dando uma triste
notícia: “Lembra do filho de Jocão? Ele morreu!”. Perguntei já
triste: “Qual deles?” Minha mãe me espantou com a resposta:
“Bigode, aquele que bebia muito”. Disse a minha mãe que devia haver algum engano pois havia falado com ele há alguns instantes.
Ela confirmou a notícia e eu, claro, voltei ao bar para tirar a
dúvida. No local onde eu havia visto o tal Bigode, não tinha
ninguém.
Contei
essa história para várias pessoas. Algumas tiveram calafrios,
outras brincaram e houve quem me falasse que eu havia me enganado,
tinha falado com outro “papudinho” pensando ser o Bigode. Não
acredito em sobrenatural e não busquei explicações para esse
acontecimento. O que me espantou foi a cara de medo que as pessoas
fizeram quando imaginaram a possibilidade da aparição de alguém
que já havia morrido. Pus-me a pensar, então: Se esse cidadão,
depois de morto, fosse classificado como santo por uma igreja
qualquer, sua aparição seria motivo de celebração e não de
pavor. Sua condição de "ser do outro mundo" pouco importaria, o que
valeria seria a classificação conferida a ele no mundo dos vivos.
Não entendo isso.
E
você, o que acha disso tudo?