Sou
filho de uma católica daquelas que tem altar na sala e tudo mais. Dona Ivone,
minha mãe, sempre seguiu à risca os ditames da religião. Antigamente, lembro-me
bem, essa coisa de “semana santa” era levada muito a sério. Não podia comer carne, só podia beber vinho,
não podia dizer palavrão. Eu tinha medo até de pensar em palavrão. Minha mãe
falava com aquela voz que só as mães têm: “Deus vai castigar”. Como eu tinha
medo de Deus, meu Deus! Hoje em dia, percebo, a sexta-feira não é mais tão
santa. Ela está mais achocolatada, mais
propagandeada, a santidade ficou apenas em alguns focos de resistência.
Os
costumes atrelados à Semana Santa também foram quase que deixados de lado. O
dia de “serrar-velho” e a “malhação do judas” são dois ritos quase que extintos. A malhação do judas era o momento esperado, o
ano todo, para execrar publicamente não o injustiçado apóstolo, mas alguma
figura pernóstica do bairro. Colocavam um boneco feito de pano na porta do
infeliz que só tomava ciência da “homenagem”, no dia seguinte, quando abria a
porta.
Já
o “serra-velho”, era uma espécie de loa noturna feita à porta de um velho que,
segundo rezava a lenda, não estaria vivo no ano seguinte. Essa mórbida
brincadeira era tratada com muita seriedade, tinha gente que passava a
quarta-feira de trevas longe de casa para não correr o risco de ser serrado.
Hoje em dia, dificilmente se vê manifestações como essas.
De
qualquer forma, ao menos nesse período, a fraternidade entre as pessoas é
clamada nos países cristãos. Que assim seja!