Quando
eu era garoto, lá pela adolescência, um dos meus maiores sonhos era
ter um Forte Apache. Hoje em dia, obviamente, o “politicamente
correto” aniquilou quase todos os brinquedos que colocam os índios
como vilões e os brancos como mocinhos. Nos anos setenta era
diferente, ninguém ligava, todo garoto queria ter o danado do “Forte
Apache”, supra-sumo do imperialismo ianque. Não realizei esse
sonho, birncava com miniaturas de índios e cowboys que minha mãe
comprava no Mercado de São José.
Outro
ícone dos brinquedos setentistas que eu sonhei e não consegui foi o
truculento “Falcon”. Por ser um personagem militar lançado em 1977, durante a ditadura
brasileira, a Estrela, fábrica de brinquedos que criou e distribuiu
o boneco, sofreu duras críticas por fazer apologia ao militarismo.
Lógico que a garotada não tava nem aí, todos queriam ter um
exemplar do boneco que tinha cabelo e barba de verdade. O Falcon fez
tanto sucesso que a Estrela lançou mais duas versões do brinquedo:
ambas com uma tonalidade de pele mais morena e um deles sem a famosa
barba. Em 1982, o herói barbudo saiu de linha e virou peça de
colecionador.
Na
linha eletrônicos, o brinquedo que eu mais detestei não ter tido
foi o clássico “Genius”. Um simples sequenciador de luzes
coloridas e som que virou febre na década de oitenta. A brincadeira
consistia em repetir com toques a sequencia de sons e cores
produzidas, aleatoriamente, pelo brinquedo com cara de disco voador.
O sucesso foi tanto que a ideia virou um conceito repetido por vários
games e brinquedos produzidos a partir de então. Ainda em catálogo, o
brinquedo foi rebatizado de “Genius Simon”. Ainda terei
um!
É
muito triste, sem que muitos terão pena de mim, mas eu não tive um
Caloi. Todo mundo teve, menos eu. Cansei de deixar aqueles
bilhetinhos infames espalhados pela casa, “Não esqueça a minha
Caloi”, mas sempre esqueciam. Ao menos, na época, os órfãos
dessa bicicleta (sim, bicicleta, a Caloi não era uma 'bike') tinham
as “garagens de locação”. Eu torrava minha mesada semanal
alugando bicicletas, era muito divertido. Minha primeira e única
bicicleta (que não era Caloi) ganhei num sorteio quando era
funcionário de uma multinacional lá pelos meus vinte e cinco anos
de idade.
Para
finalizar esse meu leque de frustrações de infância, dois
dos maiores clássicos dos brinquedos de todos s tempos: “O “Autorama” e
“Ferrorama”. O primeiro foi inventado em 1912 mas só chegou ao
Brasil em 1963. Desde então povoa o imaginário de quase todos os
garotos. Se os garotos gostam de brincar com carrinhos, imagine com
carrinhos de corrida numa pista particular? Um sonho! E o Ferrorama,
quem nunca sonhou em ter um? O brinquedo reinou no Brasil na década
de oitenta mas acabou saindo de linha na década seguinte.
Os
apaixonados pelo brinquedo, desde que a Estrela encerrou sua
produção, criaram campanhas, comunidades que pediam a volta do
Ferrorama. Houve um grupo de aficionados que criou um desafiou:
Provar sua fé pelo Ferrorama fazendo o Caminho de Santiago. Um site
foi criado para divulgar a saga dos loucos apaixonados pelo
trenzinho. Em 2010, enfim, a Estrela anunciou a volta do brinquedo.
Todos comemoraram e aguardaram, ansiosos, o relançamento. A
frustração foi total. A estrela importou um trem fabricado
na China e nominou de “Novo Ferrorama”. Diferentemente da versão
original, bem acabada, com riqueza de detalhes, o brinquedo atual
mais parece uma peça descartavel.
Essas
frustrações de infância, aparentemente, não deixaram sequelas, a
tristeza ficou para trás e não passa de lembranças...
buááááááááááááááááááááááááááááááááá!