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Retrocesso

Imagem: internet

A cada sugestão de reforma do ensino cresce a minha convicção de que, no futuro, restarão apenas professores de português e matemática. Estão colocando a filosofia no canto escuro da gaveta e aquecendo os holofotes da matemática, uma manobra sem lógica já que a lógica filosófica é um dos pilares da matemática. De que adianta entender sobre a estrutura de um discurso se não existe conhecimento humanístico para tornar o discurso útil, transformador. Num futuro bem próximo formaremos processadores de dados e cuspidores de textos sem alma!

A INVERSÃO DA REALIDADE


Vi, nos últimos dias, várias matérias abordando o que a mídia, quase em uníssono, chamou de “descaso absurdo”. Em várias escolas de Pernambuco crianças assistindo as aulas sentadas no chão, improvisando cadeira como carteira e dividindo carteira com o colega. Essa realidade é, verdadeiramente, um absurdo.  A avalanche de matérias sobre o assunto, como de costume, culpou apenas o poder público. Errado!

Sou professor de escola pública há muito tempo, no meu cotidiano vejo que a origem do absurdo propagado na mídia está  no vandalismo dos próprios alunos.  As bancas – como são chamadas as carteiras aqui em Pernambuco – começam a ser quebradas no dia em que chegam.  De uma forma incompreensível, os móveis são destruídos sem nenhum sentimento de culpa.

Não vi nenhum pai de aluno na tevê reclamando do comportamento do filho ou do colega do filho por ter danificado uma banca. Mas, no fundo, todos sabem quem tem mais culpa nesse problema.  O poder público peca por omissão. A legislação é paternalista, protege quem comete esses delitos. Nas escolas militares, onde existe rigidez e punição para atos de vandalismo, a realidade é outra.

Transferência de responsabilidade

O pai falha na educação do filho e diz que a culpa é da tevê.  Aliás, a culpa era da tevê, agora é da internet.  A falta de estrutura familiar, na verdade, é que produz alunos quebradores de bancas, que desrespeitam os professores, que matam para roubar tênis, que se perdem nas drogas, que não respeitam as diferenças.  Enquanto a cultura da transferência de responsabilidades continuar, nada mudará.

AS AULAS DE GESTÃO ESCOLAR, A TRISTEZA DOS PROFESSORES E MINHA FALTA DE TEMPO

Tenho a nítida impressão de que os dias, sobretudo a fração em que temos que produzir, andam diminuindo de tamanho. Claro, estou vicejando o texto para acentuar o fato de que estou até o pescoço de trabalho. O pior de tudo é que, diferentemente das pessoas ditas normais, eu não mudo minha rotina para privilegiar o trabalho excedente. Não deixo de cuidar dos meus blogs, nem de navegar, nem de ouvir música, nem de sair, faço tudo do mesmo jeito, apesar da impressão de que o tempo está se tornando exíguo para mim.

O sábado, que eu guardava como os religiosos, agora está tomado por um curso de gestão escolar. Já se foram dois longos fins de semana e nada de novo aprendi por enquanto, mas estamos apenas no começo. O que mais me assusta – não deveria, mas assusta – é a profunda tristeza com que os professores discutem as questões ligadas ao exercício da docência. Não existe uma só questão que seja tratada  sem um toque de mágoa. Razões para ser triste o professor tem de sobras, sobretudo em Pernambuco que paga o pior salário do Brasil. A impressão que se tem é que quase todo mundo que ali está busca, apenas e tão somente, uma forma de sair da dura rotina da sala de aula. Já que a questão salarial parece ser um problema imutável, ao menos a labuta pode ser redirecionada.

 Os que já desempenham cargos de gestão alertam que esse trabalho não é menos sacrificado do que o da sala de aula, mas, contraditoriamente, essas pessoas também lutam para permanecerem no cargo. Todo esse quadro de tristeza e reclamações – justificadas, repito – torna o trabalho muito mais cansativo e estressante. Alguns, inclusive, não conseguem entrar no clima da aula. Pergunto-me: por que matricularam-se no curso, então? A indagação, mais uma vez, remete à questão da fuga da sala de aula.

Outro fato interessante (e preocupante) diz respeito a estrutura montada para esse curso. Estamos todos ali, em tese, para nos tornarmos bons gestores. Um bom gestor, penso eu, lida com questões complexas como relações interpessoais, violência, coisas desse tipo. Pois bem, la no polo em que estou tendo aulas, pelo segundo sábado seguido, atrasaram o horário do almoço por mais de uma hora. Depois de uma manhã inteira de aula, a maioria dos professores teve que sofrer numa fila. Eu, que tenho uma glicose baixa, não posso passar do sagrado horário do almoço. Fui a um restaurante curar minha fome. Muitos fizeram o mesmo.

A grande ironia nessa história é identificar um problema de gestão – a falta de organização – em um curso que está capacitando gestores. Um dos cursistas ironizou: “Essa é uma aula prática sobre os erros cometidos em uma má gestão”. O fato é que o atraso interferiu negativamente no andamento dos trabalhos. O professor  retomou a aula à tarde como se todos tivessem feito suas refeições no horário previsto. Muita gente acabou perdendo mais de uma hora de aula por isso. Lamentável!

TRABALHAR E ESTUDAR NÃO É PARA TODO MUNDO

Hoje, no meio de uma aula sobre fusos horários – os alunos detestam – fui interpelado por uma aluna que divagou e afirmou que estudava mesmo sem gostar. Entrei na onda e lá fui eu falar sobre as dificuldades da vida. Algumas utopias são propagadas em salas de aulas como se verdades fossem. Dizer que qualquer pessoa pode trabalhar e estudar ao mesmo tempo é uma delas, isso não é para todo mundo. Esse dueto é apenas um dos peneirões que a vida e a escola pública impõem aos alunos, só os fortes e determinados conseguem superar.

Muitos dos que frequentam a escola entram na sala com um asco aparente. Outro dia, assim que comecei a desenhar no quadro uma malha de paralelos e meridianos para explicar coordenadas geográficas, fui interrompido várias vezes com frases do tipo: “Isso de novo, professor?” “Quando esse assunto termina?” “Geografia com números, nunca vi”. Era, apenas, a segunda aula sobre o assunto e para dar continuidade a explicação, eu teria que retomar de onde parei. Os alunos me irritaram de uma forma que dei a aula por encerrada. Como é possível lecionar desse jeito?

Esse tipo de situação é muito comum nas escolas públicas. Trabalhar e frequentar a escola é um sacrifício inominável, sei, mas essa realidade torna-se muito mais difícil quando os alunos criam esse tipo de situação. A grande verdade é que pouquíssimos enxergam a escola como algo importante, apenas almejam uma “Ficha 19” que na disputadíssima realidade atual, não representa quase nada. Ficha 19 serve, no máximo, para manter-se naquele subemprego que deveria fazer parte, apenas, do início da vida do jovem. Hoje em dia, muitos aceitam essa realidade como algo imutável.

Trabalhar e estudar não é para todos, só para os determinados, repito. Não estou levantando a utópica bandeira do “vocês têm que ter amor pelo estudo”. Muitos vencem sem gostar de estudar. Estudam porque sabem que esse é o único caminho para quem nasceu pobre. Mais: alguns – eu, por exemplo – não gostavam do ensino médio e se encontraram na faculdade. A vida é feita de estágios, você não é obrigado a gostar de todos, cumpra os que não gosta, porque são pré-requisitos, e realize sonhos mais a frente. Quem vive de cara feia na sala, achando que está fazendo demais por si, na verdade, está se enterrando na falta de iniciativa. Obrigue-se a fazer, temporariamente, o que não gosta, para se realizar no futuro, esse é um caminho.


MEMÓRIAS DE UM ALUNO DE ESCOLAS PÚBLICAS


Fui aluno de escolas públicas aqui do Recife, nas décadas de 70 e 80, em plena ditadura, no período mais negro. Dois detalhes desse período da minha vida povoam o meu imaginário: as dificuldades e a organização. Peguei a fase em que a escola pública começou a perder o brilho e mergulhou num processo de decadência. Absolutamente tudo era complicado nessa época. Até para merendar era difícil. Lembro-me que a professora pedia colaboração dos alunos para que a merenda saísse com qualidade. Levávamos verduras, temperos, coisas de cozinha. Cada um contribuía com o que podia para beneficiar a coletividade.

Esse modelo primário de socialismo entrava em cena sempre que o governo atrasava o envio da merenda. Tínhamos que comprar os livros e todo o material escolar. Pagávamos uma taxa que eles chamavam de “Caixa Escolar”, quem era inadimplente tinha dificuldades em renovar a matrícula. O Estado também não fornecia fardamento. Chegava nas escolas um bolso – isso mesmo, um bolso de pano – com o brasão do Estado pintado. Os pais dos alunos mandavam confeccionar o fardamento (em geral, feito de tergal) onde o famigerado bolso era aplicado.

Contraditoriamente, esse quadro de extrema dificuldade não se configurava no caos que se pode imaginar. As dificuldades eram contornadas com a organização. O controle da frequência era feito com uma caderneta individual que era entregue na entrada, carimbada e só devolvida na saída. Os alunos com problemas de indisciplina, tinham como punição, compor o quadro de alunos colaboradores. Algo parecido com as detenções dos colégios americanos.

O mais importante dessa época, sem dúvida, era o respeito que ainda existia pela figura do professor. A escola foi se deteriorando e acabou desgastando a relação professor-aluno. Talvez seja porque nessa época não existiam leis paternalistas, super protetoras, que são tratadas como modernas mas geraram uma ideia de que o jovem pode tudo enquanto for menor de idade. E pode mesmo: eles batem em diretores, depredam escolas, agridem professores, colegas. Os que defendem o ECA odeiam ouvir isso e puxam de suas pastas uma infinidade de colocações que começam com o famoso “não é bem assim” mas acabam produzindo discursos estéreis que mostram que “é bem assim” sim. Quem vive as agruras de enfrentar – o termo é esse mesmo – salas lotadas totalmente desinteressadas sabe do que estou falando.

Enquanto existirem leis que tornam os jovens menores de idade imunes a tudo e a todos, não acredito que o quadro mude. A educação continuará caminhando para o buraco e a turma do “não é bem assim” ganhando dinheiro com palestras e livros.

AS BIBLIOTECAS E O GOOGLE


Uma triste constatação facilmente verificada na maioria das escolas públicas, é o total desprezo que as instituições têm para com suas bibliotecas. Na verdade, de bibliotecas elas só têm o nome. A maioria funciona como depósito (desorganizado) de livros didáticos. Um ambiente, que num passado bem próximo, era um dos espaços mais disputados das escolas, caiu no ostracismo total.

Nas duas unidades de ensino em que trabalho, ambas públicas, as bibliotecas inexistem. Os motivos para esse total descaso são muitos: falta de interesse dos alunos, falta de títulos disponíveis e o principal: a desleal concorrência com o Google. Diriam os puritanos: “Mas por que um site de busca estaria aniquilando as bibliotecas?” Ora, na escola, a principal função das bibliotecas é – ou era – dar suporte as pesquisas. Hoje em dia, qual aluno pesquisa em livros? O imediatismo do Google e as facilidades do “Ctrl-C Ctrl-V” seduzem os aspirantes a pesquisadores.

A internet é um campo minado para o pesquisador despreparado. As armadilhas das wikimídias têm produzido uma espécie de “pseudopesquisador” que limita-se a ler o título e o primeiro parágrafo dos textos. Seduzidos por uma percepção primária que se prende, apenas, a beleza e detalhes das páginas, acabam por reproduzir  textos sem fundamentação científica. Pior: muitos, deliberadamente, ignoram a propriedade alheia e assinam textos de terceiros que são maquiados e apresentados com se originais fossem.

Não sou do tipo saudosista que ignora as benesses da internet, aliás, estou concluindo uma especialização na área de mídias que trata justamente desse assunto. O grande lance é a adequação do tradicional com o novo e lembrar que a biblioteca, além da pesquisa, tem a função do entretenimento, a leitura por prazer. O resgate desse hábito perdido tem que ter a participação ativa das instituições de ensino e dos professores. Recentemente fui surpreendido, numa capacitação, com um maravilhoso sarau em homenagem a Machado de Assis. A atividade, que envolvia professores do projeto Travessia, teve um resultado tão bom que voltei a ter esperanças de que nem tudo está perdido.

PROFESSORES DA REDE ESTADUAL DE PERNAMBUCO TIVERAM SEUS SALÁRIOS ZERADOS POR DESCONTOS ABUSIVOS

Sintepe cobra ao governo medidas contra descontos salariais
Escrito por Mellyna Reis   
Ter, 26 de Julho de 2011 18:03

Diante dos descontos abusivos nos contracheques dos trabalhadores em educação contemplados com o Bônus de Desempenho Educacional, a direção do Sintepe se reuniu nesta terça-feira (26) para definir as medidas a serem tomadas.
Aos profissionais que tiveram o salário de julho reduzido ou zerado, o Sintepe informa que já procurou as secretarias de Administração e Educação, das quais está aguardando providências sobre a situação. Veja abaixo a nota elaborada pela direção do sindicato:
  
NOTA DE ESCLARECIMENTO
Ao tomar conhecimento dos descontos inesperados ocorridos na folha salarial deste mês de julho, devido ao pagamento do Bônus de Desempenho Educacional (BDE), o Sintepe entrou em contato com os secretários de Administração, Ricardo Dantas, e Educação, Anderson Gomes, cobrando providências.
Ambos os gestores se comprometeram em analisar a situação, já que nos anos de 2009 e 2010, não houve descontos porque o BDE foi incluído como benefício, da mesma maneira que ocorre com o vale-refeição.
A inclusão do valor do BDE na parcela tributável do contracheque provocou inúmeras distorções, dentre elas um volume muito alto de dedução no Imposto de Renda, alteração no valor das pensões alimentícias, Funafin, Sassepe e vale-transporte, além de reduzir drasticamente ou mesmo zerar uma grande quantidade de contracheques. Tal medida atingiu principalmente os profissionais que possuem duas matrículas no Estado.
O Sintepe não entende como uma bonificação referente ao exercício 2010, a qual seria paga por meio de uma folha extra, de acordo com o que foi anunciado pelo próprio governo, traga prejuízos ao salário do trabalhador. Exigimos uma solução imediata por parte do governo do Estado.

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Contracheque zerado de professor da Rede Estadual; a identidade do profissional foi preservada
Fonte: Sintepe

ENSINANDO A ENSINAR: ERNEST KROSTERMAN E OS DEGRAUS PROCESSUAIS


Todo mundo sabe que investir em educação é a saída para melhorar a qualidade de vida de um povo. A Coreia do Sul, em menos de cinquentena anos, tornou-se um país de primeiríssimo mundo seguindo, à risca, essa premissa. O renomado teórico "Ernest Krosterman", doutor em educação, autor de mais de trinta livros sobre desenvolvimento cognitivo, revela alguns caminhos para a otimização do ensino aprendizagem:

A escola interessante prende o aluno, estimula o aprendizado tornando-se uma extensão de sua casa. Pelo mundo afora observei diversas tentativas de se reproduzir esse modelo, quase todos, sem sucesso. As aulas, em geral, são desinteressantes e repetitivas. Os professores, na grande maioria, desconhecem a realidade do aluno e falam sobre assuntos que não interessam a ele. Essa prática distorcida distancia o professor do aluno que se sente um objeto sem importância. Para suplantar essa prática, se faz necessário que os processos cognitivos sejam tratados como “Degraus Processuais”. Esses degraus funcionam como estágios que comporão o nível de aprendizagem desejado pelo professor. 

Os degraus processuais estão diretamente ligados a experiências pessoais dos alunos. Essas experiências são pré-requisitos importantes no processo de ensino-aprendizagem. A escola interessante, portanto, transcende aos processos elementares de cognição, é um conceito baseado em experiências complexas e direcionadas para um fim: a aprendizagem”.

Na verdade, caro leitor, “Ernest Krosterman”, é um teórico fictício. Criei esse personagem, meramente, para ilustrar esse post. Entretanto, se você copiar as breves considerações acima e atribuir a qualquer um dos “grandes” teóricos da educação, tudo isso soará como verdade, a esdrúxula e inaceitável “verdade do gabinete”, aquela que desconhece a realidade da sala de aula lotada, do professor de múltiplos empregos. O teórico concebe fórmulas mirabolantes com nomes estranhos que nos são apresentadas naquelas “capacitações” entediantes e estéreis.

O professor, que nunca é ouvido, acaba sendo colocado em posição de inferioridade porque desconhece ou não pratica a teoria dos “Degraus Processuais” e tantas outras tidas como verdadeiras mas são tão fictícias como a figura e o pensamento de Ernest Krosterman. Servem apenas para vender livros.

SER PROFESSOR EM PERNAMBUCO, UMA PROVAÇÃO.

Em 1941, os alemães invadiram a cidade de Lviv, na Ucrânia, e promoveram um impiedoso massacre. Cerca de 45 professores e seus familiares foram sumariamente executados. Esse genocídio  fazia parte de uma política de limpeza étnica que os alemães chamavam de “Operação Especial de Pacificação”. Não bastava perseguir e prender as cabeças pensantes, o extermínio foi a saída para aniquilar uma possível insurgência intelectual.

Dando aulas de história, já falei diversas vezes sobre esse triste episódio. Nos últimos meses, aqui no Estado de Pernambuco, além das agruras cotidiana do duríssimo ofício de lecionar em escolas públicas, nós professores, temos que brigar (muito) para que os direitos adquiridos no concurso que prestamos sejam respeitados. Primeiro fomos informados (durante as férias) que os professores efetivos seriam substituídos por contratados. Nós não poderíamos trabalhar em turmas de correção de fluxo. Muitos, incompreensivelmente, não lutaram por seus direitos e hoje estão perambulando de escola em escola tentado refazer seus horários.

Muitos dos que brigaram conseguiram fazer valer os seus direitos e permaneceram nas suas escolas de origem. Houve um encontro com o Secretário de Educação, Anderson Gomes, e ele garantiu, textualmente, que o “professor concursado, como em qualquer lugar do mundo, teria seus direitos adquiridos”. Ao menos nos foi “permitido” continuar no Projeto Travessia e concluir os trabalhos iniciados em 2010. Hoje, entretanto, mais um round dessa inaceitável briga foi iniciado. Fomos informados que professores que têm dois vínculos em regência não podem continuar no Projeto Travessia.

Lembrei-me do Massacre de Lviv. Em 1941 os alemães foram menos cruéis. O extermínio rápido e sumário, ao menos, poupou os professores do sofrimento diário a que estamos sendo submetidos. Particularmente me sinto triste e desmotivado. Dias depois do Secretario de Educação garantir, diante de professores e representantes sindicais, que nós teríamos os direitos respeitados, recebemos a notícia de que teremos que interromper um trabalho pela metade. Imagine com que ânimo um professor que passa por essa pressão estúpida entra em sala para trabalhar. Imagine um médico tendo que operar sendo perseguido assim. Imagine um juiz tendo que julgar sendo perseguido assim. Imagine um governador tendo que governar sendo perseguido assim. Imagine, se possível, um professor tendo que lecionar sendo perseguido assim e com o agravante de ganhar muito menos que os profissionais citados anteriormente.

Termino esse breve desabafo com uma célebre frase de Bertolt Brecht que traduz, com perfeição, a indignação que estamos sentindo e serve de incentivo para a luta que virá pela frente: “Não diga 'tudo bem' diante do inaceitável, para que este não passe por imutável”.

PROFESSOR OBJETO

Leciono na Rede Estadual de Pernambuco há doze anos. Desde que ingressei no ensino público venho colecionando decepções e dissabores. Não bastasse o vergonhoso fato de receber o pior salário do Brasil, vejo agora, entristecido, que a situação dos docentes aqui em Pernambuco caminha para um desfecho que certamente não será feliz.

A escola em que eu estou lotado foi transformada em “escola de referência” e experimentou, em um primeiro momento, o regime de ensino semi-integral. Assim como eu, vários professores não puderam se candidatar a uma vaga porque tinham outras ocupações, afinal, não dá para viver com o vergonhoso salário que nós ganhamos. Para que os professores do quadro não perdessem o direito adquirido de trabalharem na escola em que foram lotados após prestarem concurso público, muitos migraram para o “Projeto Travessia” que trabalha com correção de fluxo.

Não foi fácil, uma batalha foi travada e a direção da escola conseguiu manter o contingente de professores efetivos que foi distribuído em várias turmas. Viajamos duas vezes cumprindo os períodos de capacitação previstos para os dois primeiros módulos. Agora, qual não foi a nossa surpresa, durante as férias, recebemos a notícia que todos os professores efetivos seriam impedidos de continuar no Travessia.

Pela segunda vez, nós teremos que brigar para continuarmos lecionando no local em que fomos legalmente lotados. Inconformados com a situação, os prejudicados, obviamente, começaram a se mobilizar e protestar. Vários professores contratados entenderam que essa mobilização era contra eles. Muitos reagiram com frases sarcásticas e acusações infundadas aos professores efetivos. A professora Silvana Barros, depois de ler a convocação que os professores do Amaury de Medeiros estavam fazendo, me enviou um e-mail que dizia o seguinte:

NA REALIDADE ACREDITO QUE A CULPA É DE ALGUNS PROFESSORES QUE NÃO CUMPRIRAM SUAS OBRIGAÇÕES E DA DEMANDA DE PROFISSIONAIS NAS ESCOLAS. RECLAMAR NÃO ADIANTA AGORA, JÁ QUE ORDEM FOI REPASSADA P/ SER CUMPRIDA. QUE TAL VC FALAR DIRETAMENTE COM O SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO?”

Recebi vários outros e-mails com tons menos agressivos, mas, que na essência, comungavam com o discurso acima. Criou-se um clima de animosidade que não deveria existir. Contratados ou concursados, somos todos professores, ninguém questionou isso. O que todos nós estamos questionando é a legalidade do ato (sumário) que está substituindo professores que prestaram concurso – e por isso têm direitos adquiridos – por profissionais contratados.

Todo mundo sabe o quanto custa a um professor encontrar uma escola próxima de sua residência e que tenha carga horária disponível. A questão do horário é outra complicação porque, como acentuei acima, todos nós temos outros empregos para poder vivermos com um pouco mais de dignidade. Nada disso é levado em conta por quem tem o poder de decidir.

Aos professores, que estão sendo tratados como objetos que podem ser mudados de lugar a qualquer hora, resta lutar e enfrentar com dignidade as acusações infundadas, as frases sarcásticas e os atos arbitrários.

A SIMPLICIDADE DO MESTRE E OS CHATOS SAZONAIS

Passei cinco dias numa formação de professores, tendo aulas das oito às dezoito horas. Nessa minha maratona diária, de troca de ideias e palestras, aprendi mais do que esperava. Tive a sorte de ouvir o professor Luiz Schetine falar. Ótimo palestrante, fala como se estivesse numa roda de amigos e consegue transmitir sua valorosa mensagem sem as costumeiras chatices das palestras sobre educação. Tenho percebido nas inúmeras palestras a que assisti, nas capacitações da vida, que o público, invariavelmente, prostra-se diante do palestrante por obrigação e suporta o falatório com extrema dificuldade.

Com o professor Schetine foi diferente. Rimos bastante, aprendemos bastante. Entre outras coisas, ele explicitou a importância de darmos mais atenção às perguntas formuladas pelos alunos do que às respostas. Quem sabe questionar está com a mente aberta para aprender. Quem aceita respostas prontas apenas reproduz conhecimento, não assimila. Lógica pura!

A simplicidade do velho professor me fez lembrar de outro assunto que sempre entra em voga em ano de Copa do Mundo: “a turma do contra”. Pode se preparar: quando você falar que vai assistir aos jogos e torcer pela Seleção Brasileira, vai aparecer um CHATO, daquele bem pernóstico, sazonal, que só aparece de quatro em quatro anos, com aqueles discursos pseudo-intelectuais que falam que o país não tem cultura, que os jogadores são vendidos, que existem coisas mais importantes que o futebol, blá, blá, blá, blá!

Não se pode mais assistir a uma partida de futebol em paz. Como o futebol é um fenômeno popular, torcer pela Seleção Brasileira agora é brega. E aqueles CHATOS que torcem pela Argentina? Esses são insuportáveis e incoerentes. Com o mesmo discurso dos “jogadores vendidos” eles viraram a casaca e foram torcer pelos “hermanos” que os chamam de “macaquitos”. Incoerência. A Europa está cheia de jogadores argentinos que, MERECIDAMENTE, ganham altos salários.

Portanto, dou-te um conselho. Assista aos jogos em casa com seus amigos de verdade e/ou com a família. Use sua camisa da Seleção Brasileira e não ligue para os “pseudo-intelectuais” e os argentinos do Paraguai. Quando a Copa acabar eles voltarão a hibernar e só retornarão daqui a quatro anos. Ignore-os, deixe-os latirem, eles ladram mas não mordem. Eles precisam aparecer, precisam de plateia e de MUITA atenção, sobrevivem disso. Quando o Brasil fizer um gol, abra a janela e grite, eles odeiam ver a nossa alegria. Quem paga suas contas é você, eles são apenas intrusos. Bola pra frente!

A SALA E A CELA

Nos últimos meses uma questão vem me tirando o sono: por que eu ainda sou professor? Esse dilema nada tem a ver com a questão salarial. O problema todo está na sala de aula. O quadro é absolutamente desolador. Os alunos não encaram mais a escola como algo importante. A sala de aula é uma arena de guerra. Constantemente o professor é interrompido por piadas, brincadeiras de mau gosto, todo tipo de insultos. O aluno sente-se no direito de desrespeitar o mestre e os poucos colegas que querem estudar. A escola está se transformando num imenso parque de diversões. O tempo vai passar e esses “alunos” que não compreendem a importância da escola, vão ficar pelo caminho. Pior, talvez sejam vencidos pela vida.

Fora dos muros da escola, o comportamento moleque da sala de aula é visto como comportamento marginal. O patrão não vai ter a paciência que o professor tem. O professor põe pra fora da sala, a polícia põe pra dentro da cela. Fora dos muros da escola o garoto que picha as paredes, que quebra as bancas, vai ser tratado como delinqüente. Repito, a vida é duríssima, não tolera a falta de seriedade. Você quer saber por que eu ainda sou professor? Bom, acho que é porque eu fui um aluno peralta que descobriu a tempo o valor da escola. A esperança de que meus alunos também descubram me faz insistir nesse duro ofício.

EDUCAÇÃO EM DECADÊNCIA


Os professores das redes pública e privada estão em greve. Quando um movimento como esse tem início, todo mundo fica com cara de "já vi esse filme". Entretanto, para um observador mais atento, não é o mesmo filme, a cada ano essa "historinha de terror" vem sendo reeditada e os roteiristas primam pelo sadismo. Esse ano temos na rede pública um quadro ainda mais deprtimente, professores desmotivados pelos baixos salários e pela falta de condições de trabalho nas escolas; reina a indisciplina nas salas de aula por conta de uma política educacional paternalista(aprovar mesmo sem saber) ,excludente e ineficiente. Está se instalado o caos. Aceito sugestões sobre como podemos sobreviver a isso!

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