No
exato momento em que escrevo esse texto, está rolando na TV Brasil o
excelente programa comandado pelo ex-Titã Charles Gavin, “O Som doVinil”. Charles se especializou em resgatar obras-primas da música
brasileira. O programa é uma delícia para quem curte a boa música,
aquela fora do circuito comercial. Claro, veio à mente as minhas
experiências com a bolacha preta. Lembrei-me do primeiro disco que
comprei, uma coletânea da Fontana intitulada “Autógrafos de
Sucesso”. O LP reunia clássicos de Caetano e Gil, e uma pitadinha da Gal.
A
data original do lançamento da obra é 1971, mas adquiri em
1985 quando estava fora de catálogo e a loja oferecia a um precinho
convidativo. Depois da primeira audição, passei a degustar essa
maravilhosa coletânea quase que diariamente. A bossa “Chuvas deVerão”, de autoria do pernambucano Fernando Lobo – pai do Edu –
eu não conhecia e me apaixonei. Nessa época estava iniciando no
violão e adorei o fato das cifras serem fáceis. Música boa de
ouvir e de tocar para um principiante.
O
disco também serviu para que eu entendesse um pouco melhor o Tropicalismo. Em "Superbacana", Caetano entrelaça ícones do pop
estadunidense com referências do Brasil. Uma afronta para os
puristas xenófobos nacionalistas. Esse embate se tornaria uma das
marcas do movimento tropicalista. O contraponto desse pensamento é a
bela canção do Gil, "Lunik 9" que, de uma forma poética, maldiz a
conquista da Lua.
O
interessante nessa história é que minha paixão por essas canções surgiu num momento em que o rock brasileiro renascia com muita
força e eu estava mergulhado nesse universo. É a prova concreta de
que a boa música tem um poder atemporal e incondicional. Tenho esse
LP até hoje, ele repousa num lugar especial da minha estante. Hoje
em dia ouço os fonogramas digitalizados, mas a emoção é a mesma
de 1985.