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A VOLTA DE SARAMANDAIA
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A ARTE NÃO SABE IMITAR A VIDA
Já em casa, vendo tevê – paga, mas sintonizada num canal aberto – deparei-me com outra realidade distorcida: a personagem Sarita (Sheron Menezzes), um advogada da novela “Aquele Beijo”, via pela tevê a notícia da prisão do seu namorado, o corrupto empresário Alberto. O que me chamou atenção foi o aparelho de tevê da moça (confira na foto que ilustra o post). Na casa de uma advogada de um grande escritório, uma tevê retrô daquelas. Que realidade é essa que a Globo está tentando imprimir? Esse é um exemplo claro de que a arte, muitas vezes, peca quando tenta imitar a vida. Na novela seguinte, a das nove, a Griselda ganha mais de 50 milhões na loteria e seu neto continua estudando na escolinha comunitária do bairro. Esse povo não tem medo de sequestro?
Tanto a mocinha da livraria, quanto os cenógrafos e autores de novelas, estão precisando atualizar seus conceitos sobre a vida real. Para piorar, lá vou eu me aventurar a assistir o inusitado triângulo (escaleno) musical composto por Caetano, Gil e Ivete, que herdou o lugar outrora ocupado por Gal. Bastou algumas canções para perceber que aquilo ali era uma festa privada. A Globo fez uma confraternização, convidou seus funcionários e o Talma resolveu gravar e transformar em especial. Se fosse só a Ivete cantando, passaria no horário nobre. Mas como tinha Caetano e Gil, jogaram pro fim de noite. Há quem aceite, passivamente, essas imposições. O chato, aqui, segue exercendo o sagrado direito de contestar.
BORIS CASOY, RUBENS RICUPERO E AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ

No dia 31 de dezembro de 2009, o Jornal da Band, no seu encerramento, mostrou um grupo de garis desejando feliz ano novo para o povo brasileiro. Sem saber que o áudio ainda estava aberto, o âncora Boris Casoy fez o seguinte comentário: “Que merda, dois lixeiros desejando felicidades do alto de suas vassouras. Dois lixeiros, o mais baixo da escala do trabalho”. Essa infeliz declaração, carregada de preconceito, circulou pelos principais sites e redes sociais da internet.
A repercussão foi tanta, que o jornalista viu-se obrigado a pedir desculpas no ar. Mas o seu “pedido de desculpas” foi motivo para mais críticas. Quando todos esperavam por uma retratação pública, Boris Casoy veio com essa: “Ontem, durante o programa, eu disse uma frase infeliz que ofendeu os garis. Eu peço profundas desculpas aos garis e a todos os telespectadores”.
O episódio protagonizado por Boris Casoy, foi muito parecido com o caso conhecido como “Escândalo da Parabólica”, em que o áudio e as imagens de uma conversa informal entre o Ministro Rubens Ricupero e o jornalista Carlos Monforte (cunhado do Ricupero) foram captados por antenas parabólicas e vazaram. Um militante do PT gravou em Brasília e distribuiu para as tevês. Na conversa, o Ministro revelou várias manobras do governo Itamar Franco para manipular a opinião pública e beneficiar a candidatura de Fernando Henrique Cardoso. Desse episódio, ficou marcada uma frase dele: "Eu não tenho escrúpulos: o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde".
O interessante é que na cobertura do “Escândalo da Parabólica” o então âncora do TJ Brasil (SBT), Boris Casoy, ironizou o fato: “Satanás está à solta nas tevês brasileiras”. Uma década e meia depois, o jornalista incorreria no mesmo erro. Os desafetos de Boris Casoy, que sempre acentuaram a sua inclinação nitidamente direitista, aproveitaram para relembrar antigas acusações feitas a ele. Segundo o escritor Altamiro Borges (A Ditadura da Mídia - Editora Anita Garibaldi), em 1968 a Revista “O Cruzeiro” acusou Boris Casoy (na época estudante do curso de jornalismo da Mackenzie) de ser militante do “CCC”, o Comando de Caça aos Comunistas. Boris Casoy também carrega a mácula de ter sido secretário de imprensa no governo biônico de Abreu Sodré (SP) e assessor de imprensa do Ministério da Agricultura no governo Médici, uma das fases mais negras da ditadura militar do Brasil.
Depois do episódio dos garis, o conhecido bordão do Boris Casoy ecoou pelos quatro cantos (virtuais) da rede: “Isso é uma vergonha!”. As voltas que o mundo dá!
MÓRBIDO ENTRETENIMENTO

Uma das coisas que mais me intrigam, é a mórbida atração que muitas pessoas têm por notícias ligadas à violência. Isso não é de hoje. Lembro-me bem de que há anos imperam nas rádios aqui do Recife, em dois horários, os noticiários policiais. Gino César é uma verdadeira lenda na radiofonia policial de Pernambuco. O mais incrível é que essa enxurrada de notícias, sobre violência, chega aos ouvintes nos horários das refeições:
*No rádio: Café da manhã e almoço.
*Na tevê: Jantar
Muita gente se acostumou com essa rotina: alimentar-se ouvindo a lista de mortos, de prisões, de atropelamentos e tantas outras formas de violência. Esse comportamento é, no mínimo, estranho. Os veículos de comunicação, há muito, perceberam essa mórbida tendência da população e começaram a investir nessa área. Durante anos dois tradicionais jornais de Pernambuco, Jornal do Comércio e Diário de Pernambuco, dominaram as vendagens sem nunca serem alcançados pelas novas publicações que surgiram (e sumiram) ao longo dos tempos. Em 1998, porém, foi criada a Folha Pernambuco, que ganhou popularidade mostrando a violência de forma explícita. Depois que se popularizou e se firmou como um grande jornal de Pernambuco, a Folha sofreu uma reformulação mas continua trazendo um encarte onde a violência ainda é mostrada de forma explícita.
O noticiário policial virou uma estratégia para alavancar a audiência. Na década de 80, o repórter J. Ferreira fez história com o programa “Blitz, Ação Policial”, veiculado primeiramente no rádio e depois na tevê. Recentemente, o Jornal da Tribuna, um telejornal local aqui do Recife, investiu no noticiário policial e chegou a brigar pela audiência com o NE-TV, da Rede Globo. A TV Tribuna, inclusive, criou um telejornal específico para o noticiário policial, o Ronda Geral, dado o sucesso do Jornal da Tribuna.
Mas, em se tratando de sucesso no noticiário policial, nada se compara ao programa “Bronca Pesada”, apresentado no rádio e na tevê por Joslei Cardinot. O programa é um sucesso absoluto, sobretudo na periferia. Joslei Cardinot Meira é um baiano que iniciou sua carreira de radialista com apenas 14 anos na Rádio Cultural de Campos, no Rio de Janeiro. Chegou a apresentar um programa, pasmem, com Antony Garotinho, ex-governador do Rio. Cardinot (como é popularmente conhecido) chegou ao Recife em 1984 para trabalhar na Rádio Globo e foi galgando espaço até desbancar (na audiência) o lendário repórter policial J. Ferreira. Polêmico, Cardinot alterna duas faces: o jornalista durão, que grita com o bandido, e o apresentador que faz piadas com as notícias policiais. Cardinot é um dos maiores sucessos da rádio e da tevê pernambucana dos últimos tempos.
A veiculação do noticiário policial dando ênfase à violência nua e crua, que se sobrepõe ao fato jornalístico, é uma triste realidade. O mais triste nisso tudo é que a audiência é grande porque as pessoas querem que seja assim pois ligam a tevê e ajudam a popularizar esses programas. O conteúdo de qualidade é mostrado em horário alternativo, difícil de ser acompanhado. Enquanto isso, vamos nos acostumando a ver na tevê a exploração da violência como algo normal. Cabe aqui uma célebre frase de Bertolt Brecht: "Não digam nunca: Isso é natural. Para que nada passe por imutável"
EU VEJO TV

De tempos em tempos, tenho, com algum amigo, um embate em que o tema é a televisão. As pessoas sempre me criticam porque eu falo que assisto a tv. Na verdade, eu me considero um produto da tv. Cumpro esse ritual de me prostrar (hoje com muito menos gosto que antes, é certo) diante da telinha desde que me entendo por gente. Se algum dia eu decidir escrever as minhas memórias, um capítulo será dedicado a esse assunto. Como eu poderia esquecer as incontáveis aventuras de “Shazan & Xerife” ? E o “Vila Sésamo” ? Educativo e divertido como poucos.
Conheço todos os personagens de “Hanna- Barbera”, os heróis da Marvel, as grandes novelas da década de 70. Contrariando a tese de quem critica a tv, eu fui à escola, depois à universidade, depois me pós-graduei, passei em concursos, etc., etc. Serei eu uma exceção à regra? Claro que não! O mundo é recheado de estereótipos, colocar a tv como grande vilã da cultura é mais um. O que falta nesse país é investir mais em educação. Quem freqüenta a escola e se informa saberá distinguir o que é certo ou errado sem precisar da opinião do Arnaldo Jabor. A seguir, cenas do próximo capítulo.... rsss
O HOMEM QUE INVENTOU A REDE GLOBO

Em 1965 Walter foi convidado a trabalhar na recém inaugurada TV Globo. Foi ele o criador do chamado “Padrão Globo de Qualidade” que trata a programação como um todo, uma atração puxando a outra. Ele foi o criador do “Jornal Nacional”, do “Fantástico” (também do slogan: “o show da vida”) e do “Globo Repórter”. Foi ele também que recrutou o, então novato, “José Bonifacio Sobrinho” (Boni), que mais tarde herdaria o posto do mestre.
Depois desse “upgrade” a Globo caminhou a passos largos para o posto de quarta maior emissora de tv do planeta. Então porque Walter Clark foi demitido? Sempre que essa questão vem à tona, falam que ele saiu porque ganhava um alto salário. O próprio Clark, certa vez, respondeu essa pergunta: “Eu não sai da Globo porque ganhava um alto salário. Na verdade eu nem tinha salário. Quando me transferi pra lá, fiz um acordo com Roberto Marinho onde eu tinha participação nos lucros da empresa. Quando ela começou a crescer viram que eu iria ficar rico e me mandaram embora! rsssss”.
Depois desse episódio, Walter Clark entrou em parafuso. Trabalhou na Rede Bandeirante sem reeditar o sucesso que tivera na Globo. Teve problemas com alcoolismo e viveu recluso. No ano 2000 a Rede Globo fez um programa especial sobre os 50 anos da tv no Brasil. O nome de Walter Clark não foi lembrado. Boni (o aprendiz) foi tratado como “o gênio que criou a Globo”. Walter Clark morreu em 1997 de insuficiência cardíaca, aos 60 anos. Meus respeitos mestre!