Faço
parte de uma confraria chamada “Templários”, de vez em
quando nos reunimos no Mercado da Boa Vista para trocarmos ideias
sobre cinema, música (antiga, claro), seriados de tevê, futebol e
educação. Todos do grupo são ex-alunos do curso de Geografia da
gloriosa UFPE. Sempre que o assunto “mestrado” vem à tona, todos
são taxativos: “existe uma panelinha”.
Vários
outros amigos de diferentes formações, também oriundos da Federal
de Pernambuco, têm a mesma opinião. Os cursos de mestrado, de
maneira geral, funcionam como feudos, sociedades fechadas onde só
entra quem atende a determinados critérios. O primeiro é o da
idade. Obviamente isso não é declarado abertamente, mas quase todos
os departamentos usam o PET (Programa de Educação Tutorial)
como trampolim para o mestrado. Como existe uma idade limite para
ingressar nesse programa, essa porta de entrada para o mestrado
segrega os alunos fora de faixa.
Quem
não participa do PET, normalmente, acaba adotando comportamentos que
jogam a dignidade no lixo. Cansei de ver amigos meus rastejando aos
pés de professores, praticando uma espécie de “vassalagem
acadêmica” para terem um orientador ou uma carta de apresentação.
Muitos se transformaram de tal maneira que, sequer, voltaram a
frequentar os mesmos grupos de amigos. Triste!
Nos
cursos de especialização, que são pagos e geram renda para os
departamentos, esse tipo de problema quase não existe. Se você tem
o dinheiro da mensalidade, estuda tranquilamente. Há muito tempo se
discute o problema do nepotismo nas universidades publicas do Brasil.
É muito comum a presença de parentes, amigos de professores e de
funcionários ligados ao departamento nos cursos de mestrado e
doutorado. Eles são aprovados nas “seleções” com extrema
facilidade.
Enquanto
isso, quem não tem um pistolão ou qualquer vínculo com o “senhor
feudal” que comanda o departamento pena com o projeto debaixo do
braço. O que fazer? Ora, se a universidade é pública, o ingresso
nos cursos de pós-graduação tem que ser feito por meio de uma
concorrência imparcial, aberta e sem julgamentos subjetivos. Sei que
a análise dos pré-projetos é subjetiva, mas ela não precisa ser
nominal. Assim como nas concorrências públicas, eles podem ser
analisados, identificados por um número, por uma banca imparcial.
Alguma coisa tem que ser feita para resgatar os cursos de
pós-graduação das mãos dos senhores feudais.
É
absolutamente surreal observar que pessoas oriundas das classes mais
baixas pagam mensalidades altas em universidades particulares
enquanto a elite abarrota as universidades públicas. Dirão os
otimistas: “Mas os pobres estão entrando nas universidades
públicas”. Sim, estão. Os cursos de licenciatura estão
abarrotados de pobres porque ninguém mais quer ser professor. E
mesmo nesses cursos o inalienável direito de concorrer em condições
de igualdade com os "outros" na seleção de mestrado e
doutorado é um sonho a ser alcançado. Lutemos!