Aconteceu
em um São João da década de 80, o ano eu não lembro. Estava o
maior festão numa grande palhoça lá do bairro da Mangueira
(Recife) onde eu residia. Dezenas de quadrilhas matutas e uma
bandinha de forró animando o povo. A maioria dos presentes esperava
a grande atração da noite, a cantora adolescente Fabiana, sucesso
local. Num dado momento da festa foi anunciada a presença da cantora
mas havia um impasse: não existia policiamento no local e Fabiana
recusava-se a se apresentar por falta de segurança.
Valdir
Spinelli, o organizador do evento, entrou em pânico porque não
havia como convocar policiamento já com a festa rolando. Ligou para
o 190, explicou o fato e pediu uma guarnição. Ouviu um sonoro
“não”. Valdir, bastante nervoso, subiu ao palco para avisar que
Fabiana não cantaria por falta de policiamento. Claro que a
noticia iria gerar um grande tumulto, o povo não ia deixar passar
barato. Do alto do palco, contemplando a multidão composta pelos
moradores do bairro e componentes das dezenas de quadrilhas que se
apresentaram, o organizador teve uma ideia e correu para o microfone:
“Atenção todos os soldados de todas as quadrilhas presentes,
compareçam aqui atrás do palco. A quadrilha que não enviar seu
soldado aqui para trás será punida no concurso”.
Para
quem não sabe, as quadrilhas matutas tradicionais aqui do nordeste
eram compostas por personagens: o padre, o bêbado, o delegado, o
sacristão, o soldado e etc. Em questão de minutos, formou-se um
batalhão de soldados com fardamento de todo tipo, um pelotão que
lembrava muito aqueles esquetes dos Trapalhões. Valdir dirigiu-se até a van
onde a cantora estava e informou: “Dona Fabiana, o policiamento
chegou”. Formou-se um hilário cordão de isolamento e ela, que
assistia a tudo da janela do carro, sorriu, entrou na onda e animou
a noite. Não se desespere, tenha boas ideias!