No final da década de 80, a cena rock do Recife estava numa fase de declínio apesar do grande número de bandas que se apresentava no escasso circuito underground da cidade. A maioria das bandas era composta por jovens de classe média e classe média alta. Apesar de muitos desfilarem um certo talento, a música parecia ser diversão, não era levada muito a sério.
Nessa época eu trabalhava no Espaço Cultural Arteviva com a queridíssima bruxinha do rock, Lourdes Rossiter. Atenta ao processo de estagnação da cena rock do Recife, Lourdes, através dos seus contatos, conseguiu marcar um encontro que reuniria, além do Arteviva, representantes da imprensa, várias bandas de rock e interessados no assunto. A pauta era: o que fazer para alavancar o pop rock pernambucano?.
O encontro aconteceu no prédio central do Diário de Pernambuco, no coração do Recife. Estavam presentes o jornalista
Wilde Portella (Sempre divulgava a agenda de shows do Arteviva e de várias bandas) o apresentador de tevê
Paco Fonseca, Eu e Lourdes representando o Arteviva, e várias bandas. Lembro-me de alguns nomes: Orion, Sparta, Ária, Exocet, Mendigos da Corte, Alquimia, Van Filosofia e tantas outras.
Bom, e a reunião? Foi uma das coisas mais frustrantes que eu presenciei na minha vida. A conversa começou com uma cobrança do Jornalista Wilde Portella que questionou, duramente, Lourdes porque, segundo ele, a
série programas que a Tevê Jornal produziu, sob a batuta da Arteviva, omitiu o nome dele nos créditos. “
Tive uma participação importante na organização e meu nome apareceu, timidamente, uma só vez”, disse o jornalista direcionando suas palavras a Lourdes. Os garotos das bandas de rock ficaram calados ouvindo a queixa que não estava prevista na pauta.
Lourdes fez suas considerações e tentou direcionar a discussão para o tema proposto inicialmente. Não adiantou. Ela havia falado da dificuldade de se ganhar dinheiro com música – sobretudo rock – em Recife. O apresentador Paco Fonseca entrou na discussão com a seguinte frase: “Lourdes, eu sou um ser absolutamente capitalista, não faço nada que eu não ponha o dinheiro como meta...” O cara desandou a falar e os representantes das bandas perceberam que um circo estava se formando e foram saindo um a um.
Antes da sala se esvaziar foi possível perceber mais um entrave que estagnou a cena daquela época: algumas das bandas, apesar do completo anonimato fora da cena alternativa, posavam de estrelas. Tinha muito “filhinho de papai” empunhando guitarra fazendo rock insosso, pasteurizado. Um buraco enorme foi cavado e quase todas as bandas daquela época sucumbiram.
O fracasso dessa fase do pop rock pernambucano acabou enterrando consigo vários músicos talentosos:
Cláudio Munheca, guitarrista do Sparta, Paulo di Biasi do Caco de Vidro, Ricardo do “Aria”, o baterista Carioca que tocou em várias bandas e se destacou no Van Filosofia. Algumas bandas dessa fase tinha uma proposta interessante:
A Banda: misturava emepebê com rock com um resultado muito bom.
Ária: uma ótima banda que vivia à procura de um vocalista. Como nunca encontrou, fazia um hard rock instrumental de responsa, com destaque para as guitarras de Ricardo.
Van Filosofia: fazia um pop rock com letras inteligentes e introspectivas.
Confira aqui
Mundo Livre S/A: Com uma proposta diferente da que a consagrou no Movimento Mangue, mas com a mesma atitude, a banda (na época já era veterana, eles são de 1984) já dava sinais de que teria uma vida perene.
Merecem menção, ainda, as bandas:
Cristal, Cromo, Exocet, Cruor, Orion e Alquimia.
Curiosidade: A banda Urb Et Orb, que tocava um pop despretensioso, tinha no vocal um certo Chico que, mais tarde, se tornaria um dos maiores ícones da música pernambucana da década de 90 depois de adotar o sobrenome artístico “Science”. Está tudo registrado nas páginas amareladas da riquíssima música pernambucana.