A VOLTA POR CIMA DO LONG PLAY
LP RESGATA CLÁSSICOS OBSCUROS DA JOVEM GUARDA E TRÊS SUCESSOS DE ROBERTO CARLOS
DISCOS FUNDAMENTAIS DO ROCK BRASILEIRO - PRIMEIRA PARTE
O REVOLVER MUDOU MINHA VIDA
Eu já conhecia Beatles, claro! Help foi a música que marcou uma parte da minha infância, despertando meu interesse não apenas como apreciador, mas como um fã de música. A partir de Help eu comecei a buscar música e não apenas esperar que ela viesse até mim através do rádio ou TV, o que era de costume para a grande maioria das pessoas.
Em 1993 eu estudava num colégio no centro de Recife que ficava a cerca de 200 m de uma famosa loja de discos que misturava coisas novas com raridades (uma das poucas do gênero que ainda hoje existe). Era um oásis para colecionadores naquela época.
Fiquei durante três semanas visitando a loja, apreciando aquele amontoado de Lp´s, camisas e VHS, cd ainda era algo apenas para quem tinha muito dinheiro. Numa tarde de terça-feira fui lá para comprar o meu primeiro LP! De certa forma eu estava orgulhoso, saí de casa na certeza de comprar um disco!!! Havia juntado três semanas de mesada!
Eu não sei exatamente o porquê, mas naquele dia eu larguei mais cedo, fui até a loja e me direcionei à prateleira que continha os discos dos anos 60, lá estavam os lp´s dos Beatles entre outros nomes como Elvis, Rolling Stones, Credence Clearwater Revival e The Mamas & The Papas. Como eu já conhecia alguns discos dos Beatles, decidi comprar aquele que me pareceria mais desconhecido.
Olhei aquela capa em preto-e-branco com uma colagem de fotos misturadas a 4 desenhos que representavam John, Paul, George e Ringo. Eu conhecia apenas duas músicas: Yellow Submarine e Eleanor Rigby. Comprei o Revolver, paguei exatamente Czr. 14.000,00. Peguei o ônibus com aquele monte de gente subindo quase ao mesmo tempo enquanto eu tentava proteger o vinil para que não amassasse ou quebrasse.
Cheguei e fui logo colocando o bolachão pra tocar. O que aconteceu em seguida foi algo que eu simplesmente não consigo descrever.
Uma voz fazia uma contagem “one, two, three, four” e entrava uma batida de guitarra com uma voz firme e logo em seguida uma bateria seca e marcante e depois um backing vocal. As lembranças são bem fragmentadas, mas me recordo de uns acordes de um instrumento para mim totalmente estranho (Love You Too), um riff de guitarra totalmente desconcertante (She Said She Said), um naipe de metais (Got to Get You Into My Life), uma voz que parecia lamentar algo (For No One), uma música que parecia vir de longe e se materializar (I Want To Tell You) e, por fim, uma coisa tão estranha e fascinante que até hoje me faltam palavras pra descrever (Tomorrow Never Knows).
Lembro claramente da minha reação, eu ficava no terraço me perguntando o que é isso? Que banda é essa? Que instrumento é esse? Quem canta isso? Me parecia que essa não era a banda que eu já conhecia há alguns anos.
A partir daquele momento, despertei um interesse em conhecer música, em busca de coisas novas (mesmo que sejam antigas), de descobrir novos sons, melodias, vozes, arranjos. De certa forma, aquela tarde e o Revolver moldaram minha personalidade. Creio que até hoje procuro aquela sensação, cheguei perto algumas vezes, mas nenhuma com tanta intensidade. Se hoje eu tenho o costume de “garimpar” cd´s e dvd´s em todas as lojas e cidades que visito, de ter a coleção que tenho, isso aconteceu graças ao Revolver e aos Beatles e aquela tarde de 1993.
O Revolver mudou minha vida!
DEZ DISCOS OBSCUROS DE NOMES FAMOSOS
Por: Sidclay Pereira - Outro dia estava ouvindo um disco solo de Mick Jagger que tenho desde a adolescência e percebi como é bom e, mesmo assim, pouco conhecido. A partir desse momento, comecei a elaborar uma lista de discos obscuros de nomes famosos, porém estava ficando enorme e então decidi fazer um apanhado de 10 álbuns internacionais. Como toda lista, esta pode ser criticada à vontade!

Hindu Love Gods (Hindu Love Gods) (1990) – Esse é praticamente um disco de covers do R.E.M. sem o Michael Stipe nos vocais. Os três membros da banda se juntaram ao vocalista Warren Zevons para homenagear nomes como Robert Johnson, Muddy Waters, Woody Guthrie, Bo Diddley e Willie Dixon. O resultado é um excelente álbum que apresenta clássicos como Mannish Boy e Travelling Riveside Blues em versões bem inspiradas.

Mick Taylor (Mick Taylor) (1979) – Tido por muitos como o melhor guitarrista dos Rolling Stones é também ex-John Mayall and The Bluesbreakers. Taylor lançou uma obscura obra-prima como seu primeiro disco solo. Aqui é possível ouvir seu slide guitar, seus solos instigados e elegantes e melodias bem construídas. Um disco raro, mas que precisa estar na coleção de todos que apreciam o trabalho de um excelente guitarrista.

Music From The Body (Roger Waters) (1970) – Antes de fazer duas turnês mundiais no século XXI, antes de liderar o The Wall Live in Berlim, antes de sair do Pink Floyd falando muito, antes de escrever todas as letras de Dark Side Of The Moon, Waters fez esse disco com o Ron Geesin. É a trilha sonora de um documentário sobre o corpo humano e praticamente todas as músicas apresentam sons retirados do próprio corpo humano. É possível nesse disco perceber de onde veio o experimentalismo do Pink Floyd e ainda tem a participação de todos os membros da banda em Give Birth A Smile.

Raoul and The Kings of Spain (Tears For Fears) (1995) – Segundo disco após a separação da dupla, Raoul and The King of Spain apresenta uma banda bem diferente dos “hits” Shout e “Everybody Wants to Rule The World”. Destaque para a música título, Falling Down e a balada flamenca Sketches of Spain (uma alusão a Mils Davis?). Disco recomendável para todos que gostam de arranjos bem elaborados e letras inspiradas.

Carl & The Passion (The Beach Boys) (1972) – Não é o Beach Boys do Pet Sounds, não é nem sequer o Beach Boys de Brian Wilson, ele pouco participou da elaboração desse disco. É impressionante como a banda se reinventou, melodias com influência gospel; arranjos inventivos e grande destaque ao instrumental (normalmente davam uma atenção maior aos vocais). Destaque para Marcella que acena para o que iriam produzir a partir desse momento, porém Here She Comes é a melhor faixa.

Beatles for Sale (The Beatles) (1964) – é uma grande provocação e para alguns até um sacrilégio incluir qualquer coisa dos Beatles como obscura. Porém, esse disco nunca frequenta a lista dos preferidos dos beatlemaniacos ou dos simples apreciadores. Tem pérolas como I´ll Follow the Sun, No Reply e Baby´s in Black, além de covers melhores que os originais como Rock and Roll Music, Kansas City e Everybody´s Tryin´ To Be My Baby. Foi um disco feito às pressas para aproveitar o natal de 1964, mas é um discaço!

Wandering Spirit (Mick Jagger) (1993)– terceiro álbum solo do vocalista da “Greatest Rock´N´Roll band in the world”, pode-se ouvir um disco consistente, maduro e criativo com a presença do ainda iniciante Lenny Kravitz. Jagger faz um disco que apresenta música tradicional britânica (Handsome Molly), funk (Use me), soul (I´ve Been Lonely for So Long), rock (Wired All Night e Mother of a Man) e Stoneana (Put me in the trash). Recomendado não apenas aos fãs dos Rolling Stones.

K (Kula Shaker) (1999) – Primeiro disco da banda. Seria uma coleção de clássicos, caso tivesse sido lançado nos anos 70, nos anos 90 não causou tanto impacto. O disco é excelente da primeira à última faixa. Consegue trazer para a atualidade a sonoridade dos anos 60 com influência oriental. Destaque para Knight On The Town e 303. Pra quem gosta de rock´n´roll é quase impossível não curtir o K.

Walls and Bridges (John Lennon) (1974) – último disco solo de músicas inéditas, após esse ele faria o disco de cover Rock´N´Roll (1975) e depois dividiria o Double Fantasy (1980) com Yoko Ono. Trabalho excelente em todos os sentidos, a capa diferente de tudo que havia sido lançado até o momento. É o John Lennon atento ao que se produzia na época como em #9Dream e Whatever Get´s You Thru The Night (essa com Elton John), músicas aparentemente saídas do Abbey Road como Steel and Glass e What You Got e a belíssima Nobody Loves You When You´re Down and Out (que frase!). O disco menos famoso é, provavelmente, o melhor de Lennon.

Wild Life (Wings) (1972)– Primeiro álbum da recém formada banda de Paul McCartney, foi ensaiado e gravado em apenas duas semanas! Registra um pouco dos dias pós-beatles e toda a turbulência dos processos envolvendo os ex-membros como em Some People Never Knows e Dear Friend. Paul dá um show à parte no vocal da música título e ainda temos o hit Tomorrow.
O POP ROCK DA DÉCADA DE 80 RECICLADO NA MALHAÇÃO ID

A música que abre o disco traz uma releitura do mega hit do Lulu Santos, “Um Certo Alguém”. A versão do “NX Zero” não acrescentou nada à versão antiga, ficou com jeito de Karaokê. Gostei não. A faixa 02 resgata um grande sucesso do RPM, “Rádio Pirata”. A nova versão, criada pela “Hevo 84”, segue o padrão da maioria das bandas jovens do pop rock atual, um som na linha Green Day. O resultado não foi bom. Na faixa 03, a banda “Fresno” faz uma boa releitura de um clássico dos “Paralamas do Sucesso”, “Lanterna dos Afogados”. Apesar de terem mantido quase o mesmo arranjo original, o resultado ficou bem legal porque a voz do Lucas se encaixou perfeitamente na música.
A faixa 04 traz uma bela reedição de mais um hit do “Lulu Santos”, “Apenas Mais Uma de Amor”, com a doce voz da “Mylenna” e a participação especial do rei do cover, “Emerson Nogueira”. Muito bom. A faixa 05 também é excelente. Uma versão reggae do clássico dos Paralamas do Sucesso, “Meu Erro”, sob a tutela do “Chimarrutus”. Bom demais! A faixa 06 traz uma aguada reedição da clássica “Perdidos Na Selva”, sucesso da “Gang 90”. a versão do “Seu Cuca” deixou muito a desejar, é um dos pontos baixos do cedê. Na faixa 07, mais uma participação do “Hori”, dessa vez revisitando um hit do “Vinícius Cantuária”, “Só Você”. O resultado foi bom, mas a voz do Fiuk lembra muito a do Fábio Jr que já regravou essa canção. As comparações, obviamente, são inevitáveis.
A faixa 08 traz uma releitura de um dos maiores sucessos da “Blitz”, uma das precursoras do rock Brasil da década de 80. A canção “Mais Uma de Amor” foi competentemente revisitada pelo “Dibob”. Um ótimo momento do cedê. Na faixa 09, uma releitura do hit “Tudo Pode Mudar”, da banda franco-brasileira, “Metrô”. Se o original já soava um tanto quanto adolescente, a versão da “Julie” transformou a música num tema quase infantil. Além do mais, repetiram quase o mesmo arranjo do Metrô. Ruim demais! A faixa 10 traz um dos grandes equívocos desse cedê: o “Bonde da Stronda” com uma versão funk (carioca) de “Tic Tic Nervoso” do “Magazine”, a banda do Kid Vinil. A música soa artificial do começo ao fim. Muito ruim.
A faixa 11 traz uma versão ska do hit “Ciúme” do “Ultraje a Rigor” interpretado pela banda “Catch Side”. Esse é um bom momento do cedê, som de garagem puro! Na faixa 12 uma belíssima versão da canção “Fui Eu”, hit dos “Paralamas do Sucesso” e do “Sempre Livre”. A versão das “Ruanitas” deu nova vida à antiga canção com destaque para a belíssima voz da “Tay Dantas”. A faixa 13 mostra uma versão eletrônica do mega hit do “Lobão”, “Me Chama”, interpretada por “Babi”. Voz suave contrastando com teclados, batida eletrônica e guitarras produziram um bom resultado. Na faixa 14, a banda de reggae “Marauê” tinha uma missão importante: reeditar um dos maiores hits do pop rock da década de 80, “Sonífera Ilha”, dos Titãs. O resultado foi excelente. Transformaram a baladinha titânica num reggae cadenciado e muito, muito legal. Aprovadíssimo!
A faixa 15 traz um clássico da mpb que tem várias regravações: “Jorge Maravilha”. A versão Malhação ficou a cargo do “Playmobille” que cumpriu a tarefa com maestria. É um ótimo momento do cedê. Na faixa 16 mais um momento sofrível do cedê: uma fraquíssima versão do hit “A Fórmula do Amor”, originalmente gravada pelo “Kid Abelha & Leo Jaime”. A versão atual ficou a cargo do “Jammil”, que deixou muito a desejar. A faixa 17 traz uma regravação do hit escrachado do “Dr. Silvana & Cia”, “Serão Extra”, interpretado pela banda “Angela”. Se o original já não era grande coisa, a regravação conseguiu piorar ainda mais a música. Ruim demais! A faixa 18 traz o tema de abertura da Malhação, “Quem Sou Eu”, interpretada pela banda do “Fiuk”, o “Hori”. Já virou hit, claro. É um bom momento do cedê, a interpretação do Fiuk é o diferencial. Ouvi também uma faixa bônus com uma releitura do mega hit “Menina Veneno”, do “Ritchie”. A banda “Restart” rejuveneceu a música. Essa jurássica canção, lançada em 1983, fez parte do renascimento do pop rock brasileiro. Ouvi-la agora, com timbre adolescente, soa como algo poético.
Essa trilha sonora, apesar de cometer muitos equívocos, presta uma bela homenagem ao tão criticado pop rock brasileiro da década de 80.
Obs: clicando nas faixas descritas no texto, você pode ouvir todas as regravações e tirar suas próprias conclusões.
DESTRINCHANDO O CEDÊ DA SUSAN BOYLE

OS DISCOS RAROS E OS SEBOS VIRTUAIS

Outro dia, quando caminhava no centro da cidade a caminho do trabalho, passei em frente a um sebo de discos que eu sempre freqüentava. Pensei: “por que eu não venho mais aqui?”. Eu sempre fui um rato de sebo, desde garoto. Andava com uma lista de discos que, na minha subjetiva avaliação, eram raros. Lembro-me de uma vez em que meu pai, pequeno fabricante de bolsas, mandou-me ao centro para receber um dinheiro. Quando passei em frente a uma loja de eletrônicos vi um monte de caixas de discos (vinil) no chão. Era o acervo da Rádio Globo que estava à venda porque essa emissora havia sido convertida
Hoje em dia tenho todos esses discos
-Você sabe como eles gravam a música no LP? Claro que não sabe. Os sulcos têm formato de “V”, os arranjos são gravados nas paredes laterais do “V” e a voz no vértice do sulco. Só sabe esses detalhes quem coleciona, porra! Rsss
Hoje em dia eu tenho todas as músicas que quero ouvir, não ando mais com a lista de raridades, tenho todos os discos no formato CD. Alguns convertidos de LPs, é certo, mas tenho todos. Termino esse post lembrando que classificar um disco como “raro” é algo muitíssimo subjetivo. Sei que para muitos ,vários desses discos não representam nada (a frase no início dessa página, que fala sobre a diferença das pessoas, explica esse fato). Isso, aliás, sempre foi um trunfo para mim. Disco que ninguém quer tem um preço baratinho. Seguem abaixo as capas de uma de minhas listas de raridades:

CLÁSSICOS DA MÚSICA INSTRUMENTAL BRASILEIRA

Passo de Anjo – Spok Frevo Orquestra (2004): “Nós fazemos frevo pra se ouvir e tocar em teatros”, disse, certa vez, o maestro Spok. Quando ouvi essa frase pensei se tratar de uma blasfêmia. Bastou-me escutar o "Passo de Anjo" para me render ao fenomenal talento desse rapaz. Ele conseguiu a proeza de modernizar o frevo preservando a sua essência. Agradou a crítica e o público. É sucesso na Europa e nos Estados Unidos. Eu recomendo, ouça e se apaixone!


A Cor do Som (1977): Esse foi o primeiro disco da Cor, que no início da carreira tinha uma proposta diferente da que a consagrou. Um disco primoroso, mistura ritmos brasileiros como baião, forró e choro com uma linguagem jazzística. Três faixas se destacam: as releituras de "Tigresa" (Caetano Veloso) e "Odeon" (Ernesto Nazaré) e o choro "Conversando É Que A Gente Se Entende", do Armandinho.
