Nos
últimos dias, as tristes notícias vindas do Japão, subverteram
algumas “verdades” que, para muitos, pareciam inalienáveis. A
certeza de que os japoneses podiam tudo e sabiam tudo sempre foi
aceita por quase todo mundo. Outro dia, no rádio, um físico brasileiro
explicava o porquê da fragilidade das usinas nucleares deles.
Segundo ele, como o Japão não tinha tecnologia para construir suas
usinas, terceirizou o projeto. Acentuou o cientista: “Quando você
contrata uma empresa para fazer algum serviço, obviamente, ela
faz de tudo para gastar menos e ter mais lucro”.
As
usinas japonesas foram construídas na década de setenta e são,
para os parâmetros atuais, absolutamente obsoletas. A tragédia dos
terremotos e dos tsunamis revelou essa mácula da, antes inabalável,
reputação de onipotência nipônica. Desde então, todos os dias, surgem notícias
mostrando defeitos e detonando críticas ao outrora perfeito modelo
econômico japonês: “Os japoneses trabalham muito, a altíssima
concorrência no mercado de emprego faz com que muitos jovens
desempregados cometam suicídio ou vivam em depressão”.
Existe hoje, na internet, vários pedidos de donativos para os japoneses.
Confesso que achei estranho. Tive o mesmo sentimento quando vi na
tevê as vítimas do Katrina em New Orleans. Imagens que fazem parte
do cotidiano dos países subdesenvolvidos e miseráveis, quando
vistas associadas a países ricos e desenvolvidos parecem ter um peso diferente. No caso do Japão, a tristeza é ainda maior. No passado
sofreu com duas bombas atômicas, agora, sofre com tragédias ligadas
a três elementos da natureza: Terra (terremoto), água (tsunami) e ar (nuvem
radioativa).
Perguntarão
alguns: E o Haiti, os países africanos, os esfomeados da América
Latina, por que ninguém faz nada? Pobre sofrendo e morrendo, ao que
parece, é coisa normal.