Quando
entrei num cinema pela primeira vez – 1976, para assistir ao remake
do clássico King Kong – Luiz Severiano Ribeiro já havia morrido
há dois anos e seu nome era uma chancela que conferia qualidade aos
cinemas pelo Brasil afora. A história desse cearense de “Baturité”,
pequena cidade de pouco mais de 38 mil habitantes, também conhecida
(por alguns) por ser a terra natal do Major Couto Pereira, que hoje
dá nome ao estádio do Coritiba, daria um filme.
Nascido
“Luiz Severiano Ribeiro Filho”, em 03 de junho de 1886, tinha
como destino ser padre. Foi matriculado no Seminário Episcopal de
Fortaleza com apenas dez anos. Acabou fugindo oito anos depois para
estudar medicina no Rio de Janeiro. Não chegou a concluir o curso
porque ficou muito abalado com a morte da sua mãe. A medicina, dizia
ele, perdera a graça.
A história de vida do jovem Severiano Ribeiro lembra o
roteiro de um clássico do cinema italiano, “Cinema Paradiso”.
Assim como o pequeno “Totó”, Severiano se apaixonou pelo cinema
acompanhando projeções. Em 1908, quando foi inaugurado a primeira
sala de exibição de Fortaleza, o “Cinematographo Art-Noveau”,
de propriedade de um italiano, “Victor Di Maio”, Severiano
vislumbrou que ali estava o seu futuro. Alguns meses depois Victor Di
Maio repassou a sala de exibição para Severiano e teve início uma
história de sucesso.
Pouco
tempo depois de arrendar Cinematographo Art-Noveau transformou o
“Café Riche” em um cinema organizando exibições diárias com
programação diversificada. O Grupo Severiano Ribeiro teve, nesses
dois empreendimentos, seu embrião. Depois de inaugurar o primeiro
grande cinema de Fortaleza, o “Cine Majestic”, Severiano Ribeiro
resolveu romper as fronteiras do Ceará e aportou em Recife. Comprou,
em 1921, o cine Moderno que, em pouco tempo, tornaria-se um dos
cinemas mais tradicionais da capital pernambucana, estrategicamente
localizado ao lado do tradicionalíssimo restaurante Leite.
Já
com residência fixa no Rio de Janeiro, Luiz Severiano Ribeiro firmou
parceria com a gigante Metro-Goldwyn Mayer e passou a dominar o ramo
de administração de cinemas no Brasil. Atualmente, o Grupo
Severiano Ribeiro, que a partir do ano 2000 lanou a marca “Kinoplex”
utilizando tecnologia de última geração, é detentor de mais de
duzentas salas de exibição em diversos estados do Brasil. O Cine
Moderno, seu primeiro empreendimento no Recife, como quase todos os
cinemas localizados fora dos shoppings, não existe mais.
Os
cinemas perderam o charme, hoje, são apenas salas de exibição.
Mesmo assim o nome “Severiano Ribeiro” domina o imaginário de
quem é cinéfilo. Meus respeitos!