São muitas as versões que tentam explicar o surgimento dessa peculiar lenda urbana pernambucana que se espalhou pela cidade do Recife em meados da década de setenta. O povo falava de um ser sobrenatural, ou melhor, parte de um ser, já que a assombração era apenas uma perna cabeluda. Muitos atribuem a autoria dessa história ao radialista Jota Ferreira que teria noticiado no seu programa de rádio a história de um vigilante que fora atacado por uma perna cabeluda enquanto fazia sua ronda. O escritor Raimundo Carrero, que na época trabalhava com Jota Ferreira, confirma essa versão mas esclarece que a história foi narrada em tom de brincadeira.
O fato é que o povo acreditou e muitas foram as histórias – obviamente não comprovadas – de pessoas que juraram terem sido atacada pela surreal assombração. Eu conheço uma história interessante que bem poderia esclarecer o surgimento desse mito. Na época em que a lenda estava na mídia e assustava os medrosos de plantão – incluo-me nesse rol, claro – um amigo e também xará, Edvaldo, sofreu um acidente que resultou no engessamento de toda a perna. Ele, que era negro, vinha certa vez por um beco escuro e deu de cara com uma garota que gritou assustada: “A perna cabeluda!”. A menina correu e meu amigo, pulando em uma perna, também.
Desvendando o mistério: a garota viu no escuro apenas a perna branca engessada e pensou que era a famosa assombração. Edvaldo, a partir de então, ganhou a alcunha de “Perna Cabeluda”. Esse é mais uma lenda pernambucano que se assemelha a “Guerra dos Mundos”, episódio protagonizado pelo cineasta e radialista Orson Welles que parou Nova York na década de 40 (escrevi sobre o assunto aqui). A Perna Cabeluda virou cordel, filme, música e até figurino de shows: Chico Science se apresentou várias vezes com uma perna cabeluda na mão em alusão à lenda (confira aqui). Coisas da maior cidade pequena do mundo, o Recife.