NÓS E OS CHATOS

Virou moda, quase todo mundo anda com seu discurso “politicamente correto” no bolso. Desde então, manifestar opiniões sobre qualquer assunto que seja dá margem a uma discussão interminável. Não podemos mais torcer pela Seleção Brasileira de Futebol. Logo aparece um chato falando que a Seleção só tem jogadores ricos que não dão a mínima para você. Se perde é porque Dunga é burro, retranqueiro. Se ganha, é porque o adversário era fraco. “Também, os Estados Unidos. Queria ver se fosse a Espanha!” Esquecem que os Estados Unidos trituraram a Fúria de forma bastante competente. Os chatos são incoerentes.

Você não pode mais ver tevê. Algum chato no trabalho, na escola, na faculdade, vai dizer que você (que paga suas contas,trabalha, passou em concursos públicos, etc. etc.) está ficando burro, está perdendo tempo. Mesmo que você saiba que ver tevê é mera distração, o chato vai insistir e proferir aquele discurso de almanaque: “vá ler um livro”. Mas você não pode ler o livro que gosta. Tem que ler aquele autor (de preferência europeu) que só o chato e o editor (do livro) conhecem. Não importam suas experiências, seu gosto, seus parâmetros de mundo. Nada disso importa, você tem que ler o livro que o chato admira.

Vivemos cercados por figuras assim. Pense e você vai lembrar-se de algum. Aquele cara que odeia internet e acha que todo mundo tem que odiar. Quantas vezes você não ouviu a frase: “Você tem Orkut? É muita coragem!”. Tem aquele que nunca, nunca foi a um estádio de futebol e quando você fala que vai ver seu time jogar, vem aquela frase infame; “Eu é que não vou, do jeito que anda a violência”. Imagine se fôssemos dar ouvidos a esses chatos?

Quando estiver com tempo, leia a fábula "O Velho, O Menino E O Burro" (que você encontra aqui). A moral da história é a mesma do post que escrevi acima.

AO MICHAEL COM CARINHO

Acostumamo-nos a estranhar as esquisitices de Michael Jackson. Poucos astros do mundo pop eram tão inquietos quanto ele. Michael não teve infância. Quando consultamos sua biografia a impressão que fica é de que ele já nasceu astro. A imagem do garoto prodígio, minúsculo, com rosto angelical, liderando uma banda à frente dos seus irmãos grandões, era um indicador de um futuro brilhante.

Michael Jackson foi um gigante da música pop, que vestiu a pele de gênio e de vilão várias vezes. Apesar de ter crescido diante dos holofotes, sabíamos pouco sobre ele. O mistério sempre foi sua marca registrada. De tanto se esconder acabou se perdendo de si mesmo. Não sabia mais qual a sua cor, seu rosto, seu lugar. Perdeu gradativamente tudo que construiu com a fama. Quando se preparava para o retorno tão esperado pelos fãs, teve seu brilho apagado em circunstâncias misteriosas, como tudo que cercava sua vida.

Como ele era plural, cada um escolhe o Michael que vai eternizar na lembrança. A foto que ilustra esse post e o vídeo a seguir mostram a lembrança que eu vou guardar:

O DITADOR E A MÍDIA ONIPRESENTE

Para aqueles que só enxergam o lado ruim da internet, as imagens e notícias que chegam do Irã, de forma inconteste, desmistificam esse preconceito. Quando usada para o bem, a rede é uma aliada poderosa.
As fraudes que confirmaram (pelo menos por enquanto) a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad geraram uma onda de protestos que o governo dos aiatolás tentou esconder. Impossível, vivemos num imenso big brother. Todo mundo anda com uma câmera fotográfica no bolso e os arquivos de imagem e vídeo são enviados instantaneamente. Vários blogs publicados por iranianos, pessoas comuns, como nós, revelam as atrocidades da policia de Ahmadinejad.
Outro dia um amigo me falou uma coisa interessante: “O Google é o oráculo da pós-modernidade”. Chamar de oráculo essa ferramenta de busca não é exagero. Várias vezes, perdido no universo da informática, fiz perguntas ao Google e sempre tive uma resposta satisfatória. Essa é uma relação quase que religiosa. Consultar um ser supremo que tudo sabe.
Como falei em religião, vale lembrar que é preciso saber separar o joio do trigo. Esse é o grande problema da maioria dos usuários da rede. Falta conhecimento para lidar com tanta informação. Vi outro dia na tevê que os tótens digitais estão ganhando espaço. Tótem digital? As pessoas estão assumindo de vez a relação religiosa com os terminais de computador. É assustador, mas devo confessar que ver um governo autoritário e opressor sendo denunciado por blogs, twitters, orkuts e tantos outros canais da rede, deixa-me extremamente feliz. Quem pode vencer a mídia onipresente?
Clique aqui e acesse um dos principais blogs iranianos, View From Utside Iran
Clique aqui e acesse a versão traduzida (tradução automática)
Nota: Através desse blog, você tem acesso a várias outras páginas que informam diariamente sobre a situação atual do Irã.

O MASSACRE DA PRAÇA DA PAZ CELESTIAL E UMA CANÇÃO DESCONHECIDA

O Massacre na Praça da Paz Celestial completou vinte anos no último dia 04 de junho. Lembro-me claramente desse trágico episódio. Acompanhei como espectador, perplexo (pela tevê, em 1989), e depois de 1995 passei a comentá-lo já como professor. Sempre que falo sobre o assunto o sentimento é o mesmo: indignação.

O personagem central dessa tragédia que encerrou os anos 80, foi Deng Xiaoping. Partiu dele a ordem para que os tanques passassem por cima dos estudantes. A emblemática imagem de um chinês anônimo encarando uma fileira de tanques, registrada pela lente do fotógrafo Jeff Widener (Associated Press), virou um ícone do final da década de oitenta.

Em 1989 eu tinha uma banda de rock chamada Arte Final. Tocávamos em alguns espaços underground aqui do Recife. Depois do “Massacre da Praça da Paz Celestial” escrevi uma canção em homenagem aos estudantes que morreram lutando por um direito elementar: liberdade de expressão. A homenagem se estendeu aos estudantes brasileiros. No final da década de 80 o Brasil vivia um momento de transição, estávamos recuperando o direito de eleger os nossos governantes. A letra também fala das mudanças no Leste Europeu.

Poucas pessoas ouviram minha canção, éramos uma banda de garagem. Mas recordo-me com orgulho de ter participado (ativamente) desse momento histórico. Segue a letra da canção!

Canção Para Os Jovens Estudantes

Deixamos na escola, alguma coisa por fazer

Sonhávamos com paz e proteção

As normas que seguíamos por pura intuição

Escondiam as loucuras do mundo real

E as crianças cantando em coral

Paródias de rock and roll

E na China, na “Praça da Paz”, o céu se estilhaçou

Somos sobreviventes do Massacre da Paz Celestial

Somos herdeiros dos símbolos sagrados

Que ostentam os imortais

Pelas cidades os jovens lamentam a falta de atenção

Nos disseram que era loucura termos opinião

O fim da utopia revelando à multidão

Que tudo que aprendemos não passou de um dramalhão

E o quadro-negro verde que falava sem parar

Sumiu no tempo como os gritos dos jovens a lutar

E o povo cantando em coral paródias de rock and roll

E na Rússia, na Praça Vermelha, o Kremlin afundou

Somos sobreviventes do fracasso de um golpe capital

Somos os pobres militantes do Partido Cultural

Pela Constituição temos direito de estudar

Nós temos fome de cultura, vocês vão ter que nos ouvir.

Ed Cavalcante Recife, 22-06-89

Confira no vídeo abaixo, a cena do chinês anônimo enfrentando os tanques

OBSOLESCÊNCIA PLANEJADA E PERCEPTIVA, ARMADILHAS DO CONSUMISMO


Vivemos numa época em que os artigos tecnológicos surgem do nada e tornam-se obsoletos num piscar de olhos. A velocidade com que esses produtos tornam-se “superados” não causa mais espanto em ninguém. Já estamos acostumados com esse fenômeno. Aquele celular hi-tec do ano passado já é peça de museu.
Alguns itens lançados recentemente tiveram uma vida tão curta que quase não são mais lembrados. O Discman, aquele toca-cedê de bolso que veio substituir o walkman, não teve tempo de fazer história. Antes de se popularizar, foi substituído pelo MP3 player. Tudo isso, saiba você, não é resultado de uma evolução natural da tecnologia. Alguns itens tecnológicos quando nascem, acredite, já têm data prevista para sair de circulação. Isso é o resultado da “Obsolescência Planejada”, processo pelo qual os profissionais de marketing introduzem a obsolescência em determinados produtos para que esses sejam substituídos num tempo mais curto. O consumidor não tem escolha porque os produtos, em geral, só duram o tempo que o produtor quer.
Outra prática nessa mesma linha é a “Obsolescência Perceptiva”. Quando o fabricante não consegue reduzir o tempo de vida de um produto, lança uma “nova” versão com pequenas modificações. No Brasil chamam essa prática de “maquiar o produto”. Os produtos antigos, que têm a mesma funcionalidade, ficam com o aspecto de ultrapassados e o consumidor é induzido a comprar o novo. Aliada a essa prática existe uma propaganda maciça que complementa a “lavagem cerebral”.
No passado, os produtos eram planejados para terem vida longa. Até mesmo as possíveis modificações do futuro eram pensadas. No seletor de canais das tevês dos anos sessenta e setenta, existia um espaço para UHF (não existia o canal 01, a numeração ia de 02 à 13) mesmo sem existir canal nem transmissão nessa frequência. No Brasil, o primeiro canal de UHF foi ao ar, somente, na década de 90. A bandeja do drive dos antigos toca-cedês já vinha com um círculo menor no centro. No futuro, imaginavam, os cedês diminuiriam de tamanho.
Quando for trocar de celular, lembre-se, você pode estar realizando a vontade de alguém que passou algumas horas diante de uma planilha e criou uma situação que lhe conduziu a essa troca.

LIÊDO MARANHÃO, O "ESCRIBA DO POVO"

Quando era garoto, um dos meus maiores divertimentos era, aos sábados, ir trabalhar com meu pai. Na verdade não ia trabalhar, apenas o acompanhava e aproveitava para me divertir nas ruas do bairro de São José. Aos que não são do Recife: esse bairro é um reduto tradicional da boemia recifense, localizado no coração da cidade. Absolutamente tudo nesse bairro funciona em função do Mercado de São José, um ponto histórico bastante visitado no Recife, apesar do abandono.

Mas eu falava da minha infância. Quando era garoto adorava o bairro porque era um reduto de personagens inusitados. Tinha um vendedor de picolés que vendia seu produto, literalmente chorando, pedindo pelo amor de Deus para as pessoas comprarem. Tinha um vendedor de palitos de dentes que se queixava: “que negócio de corno o meu. Quem vai comprar palitos de dentes, o povo não tem o que comer”. Mas, entre tantos personagens inusitados, ninguém se compara a Liêdo Maranhão. Nascido ali mesmo no bairro de São José (1925), ele se auto intitula “um escriba do povo”. Liêdo é ácido, captura apenas o lado anárquico do povo.

Hoje em dia o velho escriba, aos 83 anos, conserva uma lucidez de dar inveja. Não mora mais no bairro de São José, vive hoje em Olinda. Lançou uma dezena de livros narrando causos e acontecimentos do cotidiano do Recife, sobretudo do seu bairro natal. Outro dia, num programa de rádio famoso aqui do recife, falava ele ao radialista Geraldo Freire sobre seu último livro, que estava em fase de acabamento: “estou escrevendo o último capítulo falando sobre todos os gays com quem transei”.

Liêdo não gosta de ser chamado de escritor, sempre acentua isso. É uma figura adorada na Praça do Sebo onde, carinhosamente, o chamam de “pau dormido”. Dizem que quando gritam esse constrangedor apelido, puxa do bolso uma caixa de Viagra. Termino com historinhas narradas pelo “escriba dos excluídos”:

“Eu não escrevo livros, gosto de ouvir o que o povo fala e me aproveito disso. Outro dia eu estava num ônibus e uma mulher perguntou ao motorista: ‘Qual a última parada? ’ Ele respondeu: ‘É a cardíaca!”

“Outro dia vi o pastor José Luiz, na Praça Joaquim Nabuco, pregando o evangelho: “Paulo disse: ‘Bom seria que o homem não tocasse em mulher’. E agora estão dizendo que Paulo era bicha!”...

Liêdo Maranhão por ele mesmo: “– Sou Liêdo Maranhão de Souza, nascido em 3 de julho de 1925, no Recife, bairro de São José. Sou dentista e esquizofrênico cíclico, como um amigo psiquiatra já me disse. Sou poliglota: falo espanhol, francês, e falo gago também” (em entrevista concedida a Urariano Mota)

Saiba mais sobre Liêdo Maranhão clicando AQUI

A NOITE ESCURA DE MADRE TERESA DE CALCUTÁ

Madre Teresa de Calcutá foi, sem dúvida, uma das figuras mais admiráveis de todos os tempos. A obra social que essa senhora construiu, ao longo do seu sacerdócio, é inimaginável. Madre Teresa era, antes de tudo, uma figura do povo. Do povo pobre, aquele que estava abaixo da linha de pobreza, os esquecidos.

Mas quero falar de um outro assunto polêmico e sempre evitado pela igreja: a crise espiritual vivida por Madre Teresa, que colocou em dúvida, inclusive, a sua fé em Deus. Esse lado pouco conhecido da religiosa foi revelado ao mundo através do livro “Madre Teresa, Venha, Seja Minha Luz”, de autoria do Padre Brian Kolodiejchuk, ironicamente, o postulador da sua canonização.

O livro, que foi lançado em 2007 (inclusive no Brasil), reúne uma série de cartas que Madre Teresa escreveu para vários de seus conselheiros. Nesses manuscritos ela revelou momentos de angústia e fez vários questionamentos a Deus. Em muitos momentos, em suas conversas com Deus, revelou não perceber nenhuma resposta do céu. Veja esse trecho de uma carta de 1956: "Tão profunda ânsia por Deus - e ... repulsa - vazio - sem fé - sem amor - sem fervor. Almas não atrai - O céu não significa nada - reze por mim para que eu continue sorrindo para Ele apesar de tudo."

O “Ele”, claro, é uma referência a Deus e o “apesar de tudo” reflete a inquietação da religiosa. Em outra carta ,escrita em 1959, Madre Teresa deu um claro sinal do seu agnosticismo: "Se não houver Deus - não pode haver alma - se não houver alma então, Jesus - Você também não é real."

A Igreja Católica, ao longo dos séculos, enfrentou várias crises espirituais iguais a de Madre Teresa. São João da Cruz, mestre em teologia mística, batizou esse momento de crise como “Noite Escura do Espírito (ou da alma)”. Esse momento é entendido pela Igreja como uma etapa que alguns santos percorrem até a identificação do que é realmente Deus. Muitos críticos classificam essa interpretação como uma forma que a Igreja Católica encontrou de negar a crise de fé de seus religiosos.

Sobre esse “momento de escuridão” vivido por Madre Teresa, O New York Time, em sua edição de 05 de setembro de 2007, publicou o trecho de uma das cartas escritas por ela onde, taxativa, afirmou: “se alguma vez chegarei a ser santa, seguramente o serei da escuridão”.

Todos esses momentos de angústia vividos por Madre Teresa, não mancham, de forma alguma, a magnitude de sua obra social. Pelo contrário, imagine uma pessoa que supostamente fazia o bem por ser temente a Deus, descobrimos agora que, mesmo com sua fé em crise, manteve-se firme no seu propósito de ajudar ao próximo de forma incondicional. Nada mais importa, no meu modo de ver.

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