Ontem
foi meu aniversário, cheguei aos 47 anos me relacionando muito bem
com o peso da idade. Passei o dia recebendo cumprimentos dos amigos –
verdadeiros e virtuais, sinal da pós-modernidade – e rebuscando
imagens do passado. Eu nunca tive uma festa de aniversário de
verdade, com data marcada, convidados e tal. Acabei me acostumando e
criei aversão por esse tipo de comemoração.
A
lembrança mais longínqua que tenho de um “nove de maio” é de
1970, quando eu tinha apenas cinco anos. Minha mãe arrumou uma mesa
na sala da casa da minha avó, pôs um bolo no centro rodeado de copos
de vidro com círculos coloridos. Colocou na minha cabeça um
chapeuzinho cônico daqueles que a gente via nas festinhas de
antigamente e falou: “Vá lá na frente chamar seus amiguinhos”.
Estranhamente só me lembro disso. Nada da festinha, a lembrança se
encerra nessa frase da minha mãe. Acabei transmitindo para minha
família o meu desprezo por festas de aniversários. Nunca fiz
nenhuma para minhas filhas. Certa vez, no aniversário de dez anos da
minha filha mais nova prometi para ela que iria levar um bolo para
ela comemorar com os amiguinhos na escola. Ela me disse: “Não vou
pagar esse mico, Dindo”.
Tenho
outra lembrança bastante curiosa sobre o dia do meu aniversário:
quando era bem pequeno – não lembro ao certo a idade – toda vez
que chegava o nove de maio eu ia para frente do espelho e
ficava olhando fixamente para ver o quanto estava crescendo. Coisa de
“menino maluquinho”. O tempo passou e eu sempre me esquivei das
comemorações, até que num belo dia, numa das escolas em que eu
trabalhava, um grupo de alunos armou uma festinha surpresa no
auditório. Nunca fiquei tão constrangido na minha vida. Sobrevivi
mesmo assim.
Com
a chegada do mundo virtual, quebrei um pouco do gelo com relação a
minha data magna. Acho bastante divertido ler e responder mensagens
dos amigos. Ficar mais velho, afinal, não é tão chato assim.