
Você já parou para pensar que a contagem do tempo é diferente, dependendo do país em que você esteja? Nós ocidentais usamos o calendário Gregoriano, criado pelo papa Gregório XII em 1582, para substituir o calendário Juliano. Segundo esse calendário, que tem como marco inicial o nascimento de Jesus Cristo, hoje é 06 de fevereiro de 2008. Portanto, faz 2008 anos que Cristo apareceu na terra. O cristianismo é largamente difundido no mundo, por conta disso o calendário Gregoriano é o mais usado. Entretanto, se você estivesse em Israel, que adota o calendário Hebraico (ou Judaico), que é regido pelos movimentos da Lua (calendário lunar) e apresenta onze dias a mais do que o calendário Gregoriano, você estaria em Shevat (janeiro-fevereiro, no calendário Gregoriano) de 5767.
Mas se você, ao invés de judeu ou cristão, fosse natural de um país mulçumano, que adota o calendário Islâmico (ou Hegírico), cujo ano tem onze dias a menos do que o ano gregoriano, você estaria em Sha’aban (fevereiro) de 1429. Ou ainda, se você fosse da China, que adotou oficialmente o calendário gregoriano em 1912, mas a população continua a usar o calendário lunissolar (baseado nos movimentos da lua e do sol), você estaria no ano 4703. Ou seja, no Brasil é século XXI, em Israel é século LVII, no mundo islâmico é século XV e na China, século XLVIII. A contagem do tempo é uma convenção diretamente ligada à cultura do povo (como quase tudo).
Finalizo esse post contando uma história(cruel) verídica envolvendo um antropólogo inglês e uma tribo indígena do xingu. Esse inglês (cuja graça não me recordo, claro) quando era jovem, recém- formado, lá pela década de 1960, veio até o Brasil para realizar um documentário sobre os índios do alto xingu. Ele fez várias horas de gravação, mas o filme nunca foi realizado. Recentemente, reencontrou o material filmado num quarto de quinquilharias da sua casa . Foi então que ele teve uma triste idéia: mostrar o material de quarenta anos atrás para os índios da mesma tribo. Ele veio até o Brasil e, devidamente autorizado pela FUNAI, armou uma tenda no meio da aldeia e fez sua sessão de cinema.
Alguns poucos índios se reconheceram nas imagens, se viram mais jovens, diferentes do estado atual. O antropólogo introduziu na vida daqueles indivíduos, uma convenção que não existia para eles: o tempo. Muitos desses índios foram tomados por uma tristeza profunda e não conseguiram mais se recuperar. Obviamente, não era essa a intenção do pesquisador, mas o episódio deve ter valido como a grande experiência da vida dele, um erro que jamais deve ser repetido. Droga, hoje é quarta-feira de cinzas, amanhã volto a trabalhar. O tempo passa rápido!