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Eu, Geógrafo

Na minha primeira aula na faculdade, no curso de Geografia, percebi que a maior qualidade dos geógrafos da UFPE era ser pedante. Assim falou o “professor” nos recepcionando: “Boa noite, eu sou o único PHD que dá aulas no básico, faço isso porque gosto”. E ele continuou a falar do seu currículo deixando escapar aqui e acolá o ódio que sentia pelos alunos que prestavam vestibular para geografia pensando em mudar depois para o curso de Direito. O tempo foi passando e a tal primeira aula resumiu-se a uma verbalização irritante de um currículo Lattes.

A tristeza maior foi perceber que a Geografia perdeu espaço para ela mesma. O mundo todo sempre estava errado, só os geógrafos estavam certos. Se um meteorologista aparecia falando sobre o tempo ou o clima, surgia em seguida um papa da geografia para apontar os erros dele. E era isso o tempo todo: o grande geógrafo apontando os erros no curso de Oceanografia, ou falando que faltava no curso de biologia uma biogeografia de verdade, que geografia era uma ciência da natureza, tinha outro que rosnava chamando (em tom pejorativo) Milton Santos de sociólogo e nessa pisada concluímos o curso: Licenciatura Em Análise de Equívocos Geográficos.

O que eu ensino nas escolas aprendi nos meus momentos de solidão na biblioteca do CFCH e na minha prática diária. Meus alunos me ensinaram (e ensinam) muito mais do que a universidade que de importante só me rendeu duas coisas: o diploma e alguns fraternos amigos.

OS BICHOS-GRILOS DA INTERNET

Foto: Reprodução da internet

Em tempos de conectividade, as chatices do dia a dia sofrem, obviamente, os efeitos dessa nova realidade.  Constantemente me deparo como vários tipos de chatos que soltam suas alfinetadas.  Observador, resolvi listar alguns desses seres pernósticos.

1 – Conectado Dissimulado: é um tipo bem comum, vive dizendo que odeia a internet, entretanto, tem perfil nas principais redes sociais – incluindo o Facebook, alvo principal das suas críticas – e vive navegando.  Quase nunca muda a foto do perfil, esta sempre off-line e nunca posta nada. Uma curtida aqui, outra ali e só. Essa é uma estratégia usada para manter a falsa imagem de que não navega, apesar de todos saberem que a criatura acessa diariamente.

2 – Conectado Revoltado: tem perfil nas redes sociais, acessa pouco e odeia quem acessa muito.  Sempre que se depara com alguém que posta diariamente, alfineta: “Tu gosta muito de internet, né?”.  Nas entrelinhas, a frase quer dizer: “Você tem que ser igual a mim, acessar pouco”. Esse tipo de pessoa arvora-se do direito de querer decidir por você o que é bom ou ruim, o que é certo ou errado. Outra frase comum proferida por ele: “Eu não tenho tempo para ficar navegando”. O “não ter tempo”, na verdade, é um “eu não gosto”.  Se eles não gostam, pensam, você também deveria não gostar.

3 – Conectado Depressivo: esse tipo de internauta transforma as redes sociais, blogs e sites em um divã virtual. Absolutamente todos os dias postam mensagens de autoajuda e frases de efeito – em geral, melancólicas – pregando superação, vitórias futuras que, aparentemente, nunca chegam.  Eles reinavam absolutos no Orkut postando gifs purpurinados.

4 – Conectado Desconectado: cria perfis nas redes sociais, esquece as senhas e vira peça de decoração da rede.  Quando tenta retomar a vida virtual, ao invés de recuperar os logins antigos, cria outros perfis e incorre no mesmo erro.

5 – Conectado Ostentação: cria perfis nas redes sociais apenas e tão somente, para postar fotos de viagens internacionais. É um “bom dia” com uma foto em Roma, um “Tô com saudade” com uma foto em Paris e por aí vai. A timeline dele parece um folder de empresa turística.

6 – Conectado Metralhadora Giratória (Eu – kkkkk): posta todo dia, sobre todos os assuntos.  Não vive, necessariamente, conectado o tempo todo, mas, como posta muito, passa essa impressão.  Esse tipo de internauta adoooooooora ser o primeiro a dar a notícia. Consulta diariamente as agências de notícia, sites de jornais e afins. Em geral, tem muitos amigos e procura interagir com a maioria deles.

MAIS MÉDICOS (MELHORES)

Foto: Reprodução internet
Estava, há pouco, socorrendo meu pai numa dessas policlínicas públicas. Não vou descrever o quadro desolador que enfrentamos, todo mundo sabe o que é o atendimento médico público. Quero relatar outra coisa: Quando estava acompanhando o meu pai, pelo estresse enfrentado, senti uma disritmia. Como estava num posto médico, pedi que aferissem minha pressão. A resposta da auxiliar de enfermagem: “Não posso, senhor, só se o senhor fosse paciente, acompanhante não pode”. Pouco depois, entrei para levar os exames do meu pai. Aproveitei que estava na sala do médico e pedi novamente: “O senhor pode aferir a minha pressão?”. O jovem médico, com o estetoscópio decorando o pescoço, disse-me, com o costumeiro ar de superioridade: “Não, o senhor é acompanhante. Se quiser aferir a pressão, volte na recepção, faça uma ficha e aguarde aí fora”. Deixei meu pai no repouso, fui a uma farmácia ao lado e paguei dois Reais para um balconista executar o “complicadíssimo e demorado” procedimento de aferir a minha pressão arterial que estava alterada não sei se pelo estresse da convalescência do meu pai ou pela raiva que senti do descaso desses “profissionais”.

BREVE COMENTÁRIO SOBRE UM RETROCESSO

Demorou, mas, enfim, perceberam que a tal Rachel Sherazade, com aquela carinha – e nome – de princesa, na verdade, dissemina um discurso fascista.  O mais grave é que esse tipo de discurso tem um apelo popular muito grande. Revoltados com a violência e outras mazelas da sociedade brasileira, muitos endossam os esquetes de preconceito propagados em rede nacional por essa dublê de repórter.

As pessoas assimilam esse joguete barato de palavras e perdem a medida. Sentem-se no direito, por exemplo, de jogar um rojão no meio da multidão e essa bomba, disfarçada de protesto, acaba fazendo vítimas como a bala perdida do bandido, do policial corrupto ou de qualquer tipo de escória que faz uso da violência para se impor.

Depois que a tragédia acontece, param pra pensar e tentam justificar o injustificável.  Quem acorrenta um bandido em praça pública acha que pode tudo e esse “tudo” é incontrolável.  Justiça com as próprias mãos é um retrocesso. Estamos voltando para a idade média, estamos passando recibo de incompetência, de falta de civilidade, falta de amor. Estamos voltando ao estágio inicial, à tábula rasa.


DIÁLOGO DA SABEDORIA

Imagem: Reprodução da internet

Sábio: -Sou religioso prego o perdão, a igualdade, a fraternidade e o respeito entre as pessoas.
Leigo: -Como o senhor aprendeu sobre tudo isso?
Sábio: -Estudei muito, meditei muito praticando a minha religião
Leigo: -O senhor estudou outras doutrinas?
Sábio: -Não, eu me encontrei na minha religião.
Leigo: -O senhor já parou para pensar que as suas “verdades” podem não ser as verdades dos outros?
Sábio: -Não, as minhas verdades são o que eu acredito
Leigo: -Então o que os outros acreditam também tem que ser aceito como “verdade” já que eles usam o mesmo princípio que o senhor, a crença?
Sábio: -Não necessariamente, eles podem acreditar em algo irreal.
Leigo: -Então o senhor também pode estar errado, pode estar acreditando em algo irreal?
Sábio: -O que eu acredito não pode ser irreal porque me traz felicidade. Esse é um sentimento real.
Leigo: -Então a felicidade dos outros também atesta a veracidade do que eles acreditam, correto?
Sábio: -Por que você faz tantas perguntas?
Leigo: -Por que eu sou feliz mesmo acreditando em “verdades” diferentes das do senhor. Queria entender isso. Por que me pedes para seguir a suas verdades vendo que eu já sou feliz?
Sábio: -Vá embora, siga o seu caminho. Suas dúvidas me ensinaram algo real, preciso  meditar.

SOBRE ESCOLAS E SEGREGAÇÃO SOCIAL

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Nos acostumamos a ver nos seriados e filmes americanos – estadunidenses, quero dizer – aquela segregação absurda.  Os ricos, bonitos (nos padrões estabelecidos pela mídia) e descolados andam juntos, comem juntos, se divertem juntos e fazem um monte de coisas erradas juntos.  Tem o cara que vai pra escola numa Ferrari e o outro que vai de bicicleta. Todos compartilhando a mesma escola.

No Brasil, no máximo, existe a segregação do visual.  Quase todos da escola pertencem à mesma classe social, o que diferencia os grupos, em tese, é estrutura familiar. Os alunos oriundos de uma família desorganizada, geralmente, apresentam problemas de comportamento, não têm uma roupa legal, um celular legal e, por isso, procuram amigos nas mesmas condições. Às vezes nem procuram, são conduzidos instintivamente para esses grupos.

O mais cruel nessas duas realidades é o fator que determina a diferença entre a grande segregação de lá e a segregação daqui. A qualidade da escola. A maioria das escolas públicas dos Estados Unidos é de qualidade e, por isso, ricos e pobres estudam juntos. A segregação social do mundo lá fora é levada para dentro da escola. No Brasil, em geral, os ricos estão nas escolas particulares e os pobres nas públicas.

Diriam alguns, em contraponto a essa tese: “Mas as universidades públicas brasileiras são melhores que as particulares, pobres e ricos estudam juntos”. Não é bem verdade, sabemos. As universidades públicas são de qualidade mas dentro da instituição existe a segregação de cursos.  Em geral, os mais pobres estão nos cursos ditos “não-nobres”. Os pobres fazem licenciatura – ninguém que almeja um futuro tranquilo quer ser professor - ou entram para um daqueles cursos que apresentam um campo profissional restrito. 

A diferença é visual. Basta uma passada no estacionamento do curso de medicina e observar os carros estacionados. Nos núcleos que concentram as licenciaturas e os cursos menos procurados, os carros são poucos e não são importados. Ou seja, os pobres e os ricos estão juntos na universidade publicas mas segregados “pelas cercas embandeiradas que separam quintais”.

As cotas, as famosas cotas estão mudando esse estado de coisas.  Trouxeram o preconceito, inclusive, para os que não fizeram uso delas. Um negro que ingressou num curso dito nobre, mesmo sem o auxilio desse recurso legal, é sempre chamado – pejorativamente – de cotista.  Já existem estudos que mostram que o desempenho dos cotistas é inferior a o dos outros alunos.  Mas existem outros tipos de defasagens com causas diversas que não foram alvo de pesquisas nem de divulgação na mídia.

A única coisa que falta, para sermos iguais a eles, é os loucos que surtam com esse estado de  coisas e saem matando pessoas num dia de fúria. Ai sim, seremos iguaizinhos a eles.

DESCONSTRUINDO IDEIAS

Imagem: reprodução da internet

Numa dessas madrugadas de insônia, lá pela década de noventa, acho, assistia a um filme na Sessão Coruja e um velho, que se dizia sábio, mandou essa: “Nós aprendemos tudo que precisamos para viver até os 15 anos, depois disso vamos colocando as coisas em prática”.

Discordei, claro. Mas, é sabido, que todos, absolutamente todos os adolescentes, rezam por essa cartilha. Acham que sabem tudo e podem tudo. Tentando interpretar o recado do filme, acredito que o “vamos colocando as coisas em prática” pode implicar em desconstruir algumas das “certezas absolutas” que a adolescência impõe. 

Desconstruí várias ao longo da vida. Não me tornei um astro do rock, não fiquei famoso e rico antes dos trinta, me formei em Geografia e não em Jornalismo, e por ai vai (ainda está indo). As coisas vão acontecendo e você nem percebe que a desconstrução está se processando.  Alguns lutam contra isso e confundem a troca de foco com não realização de sonhos.

A interatividade atingiu proporções gigantescas com a dinamização da conectividade. Alguns, inclusive, defendem que devemos reduzir a marcha, o fluxo de ideias e de informação é tão intenso que não processamos direito o conteúdo. A informação, nesse caso, não gera poder porque não se transforma em conhecimento. Nesse universo onde uma teoria pode mudar com um clique, a desconstrução a que me referi no segundo parágrafo tornou-se algo corriqueiro e perigoso.

O grande problema dessa nova ordem da comunicação é a falta de estrutura dos internautas para lidar com tudo isso. Uma situação comum: alguém que zapeava pela rede encontra um texto em um site sobre o qual não se tem muitas referências e as informações desse texto passam a fazer parte da horda – o termo é esse mesmo – de teorias que “fundamentam” as ações desse incauto navegador cibernético.  Vários são os naufrágios.

Parafraseando o “sábio” do filme, eu diria que “até os 15 anos nós aprendemos a duvidar de tudo que precisamos para viver”. Duvidamos dos professores, duvidamos dos nossos pais, duvidamos de Deus, duvidamos do padre, do pastor, de tudo que representa o poder instituído, Duvidamos e por isso aprendemos. Desconstruindo ideias chegamos às nossas certezas que, por uma questão de prudência, nunca devem ostentar o status de absolutas.


SOBRE SER IMORTAL

Foto: reprodução da web
“Milhões de pessoas que sonham com a imortalidade não sabem sequer o que fazer numa tarde chuvosa de domingo” nos lembra Susan Ertz. É bem verdade que a falta de planejamento pode tornar o trabalho e a vida um tédio.  Viver eternamente, numa análise bem superficial, teria outras implicações terríveis. Imagine uma pessoa mergulhada numa depressão profunda, a imortalidade seria a perpetuação de um suplício. Morrer, nesse caso, seria o sonho de liberdade.  Tem também aquele pensamento de criança: “Ninguém deveria morrer”.  Basta um pouco de racionalidade para perceber que se ninguém morresse o mundo hoje seria inabitável, não haveria espaço para todos. Como diz a bela canção, Jesus Numa Moto (Sá, Rodrix e Guarabyra): “Espalhando o que já está morto pro que é vivo crescer”. Uma verdade cruel.

Pensar na morte assim, sem medo do inevitável, diminui a dor e aumenta a aceitação. Podemos até mergulhar no lirismo: somos adubo para as gerações futuras.  Ou podemos recorrer às ciências exatas: a morte é, meramente, uma relação matemática. Até certa idade, no nosso corpo, nascem mais células do que morrem. Em um dado momento da vida, a quantidade de nascimentos e mortes se equiparam. Mais adiante, morrem mais células do que nascem, é quando começamos a ir embora.

Morremos um pouquinho a cada instante. Às vezes, esse desfalecimento gradativo é acelerado por meio de uma tragédia. Aí a morte mostra sua face mais cruel. Ontem, por exemplo, recebi a notícia da morte da esposa de um grande amigo meu de infância. Fragilíssimo para lidar com esses momentos, sofri bastante. Passou, mas sofri. Tentei falar com ele, mas – penso agora, foi melhor assim – não consegui. O que dizer para uma pessoa que perdeu alguém querido?  Não existe lirismo nem explicações lógicas que atenuem a dor de uma perda dessas.

Sobre ser imortal: ser feliz enquanto se vive deve ser muito mais interessante do que buscar a eternidade.  Deixemos então, espalhadas pelo mundo, as marcas da nossa felicidade.

A DIFÍCIL ARTE DE RECONHECER OS PRÓPRIOS ERROS

A difícil arte de reconhecer os próprios erros faz muita gente trocar os pés pelas mãos.  Um bom exemplo: eu costumava comentar em um blog de um amigo virtual, esse amigo, craque no trato com as palavras, vez por outra, corrigia meus deslizes gramaticais no meu blog. Aceitava, claro, as correções e agradecia pela valorosa contribuição. Eis que um belo dia percebi um equívoco numa publicação dele, alertei para o erro e ele, sabe-se lá por que, desconversou, inventou uma história e persistiu no erro. A tal da humildade foi deixada de lado e eu, claro, deixei de visitar o dito blog.

Assim como na historia narrada acima, muitos outros episódios da vida cotidiana vão nos dando lições e motivos para fazermos escolhas. Os caminhos são muitos, mas a vida, de forma implacável, ensina.  Na escola percebo que a maioria dos alunos ignora essas lições de forma deliberada ou, pela pouca experiência de vida, faz pouco caso apenas para afrontar o “poder estabelecido” representado pela escola na figura do professor.

A lógica adotada nesses casos é a do “quero aprender errando”. Esquecem que o valor das lições contidas nos erros, é fundamental, apenas, quando estes ocorrem de forma involuntária. Errar sabendo que está errando não agrega conhecimento nem experiência nenhuma, é meramente uma prática de rebeldia sem causa, inócua, estéril.

Pior ainda é não reconhecer o erro por arrogância e falta de humildade.  Vemos muito isso no mundo acadêmico, é quase uma regra entre aqueles que se escondem por trás de títulos.  Existe uma estratificação que determina as castas que podem comentar, criticar e, em último caso, corrigir. Quem tenta subverter essa regra, em geral, caminha sobre um tapete de pedras que vão sendo atiradas do alto das cátedras.  O bom é que de vez em quando alguém consegue transpor esses obstáculos e algumas máscaras caem. Assim é a vida.


AS PESSOAS E AS COISAS

A – O que é isso?       

B – Isso é uma pessoa!

A – O que é uma pessoa?

B – Uma pessoa é um ser dotado de inteligência e sentimentos.

A – Uma pessoa inteligente só faz coisas inteligentes?

B – Não, uma pessoa inteligente só faz coisas inteligentes quando os sentimentos não atrapalham.

A – Se as pessoas são inteligentes por que deixam os sentimentos atrapalharem?

B –Os sentimentos anulam a inteligência, é por isso.

A – As pessoas devem ser insensíveis, então?

B – Isso é um paradoxo, ser insensível é ser afetado pela ausência de sentimentos.  De
qualquer jeito  os sentimentos influenciam.

A – É muito complicado ser uma pessoa.

B – Então seja uma coisa.

A – O que é uma coisa?

B – Uma coisa é algo sem vida, sem sentimentos e sem inteligência.

A – É melhor ser uma pessoa, então?

B – Sim, é muito melhor, aprendemos com os erros também. Quanto aos sentimentos, com o tempo, aprendemos a controla-los.

A – Mas o controle é total?

B – Claro que não, assim a vida não teria graça, ora!

A – Quero ser uma pessoa, mas esse papo tá meio chato!


B – Você já se tornou uma pessoa!    

QUANDO FOR AFRONTAR O PODER ESCOLHA: SEJA UM MÁRTIR OU RESOLVA O PROBLEMA

Foi num dia 07 de julho, como hoje, que a heroína francesa, Joana d’Arc, morreu queimada vítima dos desmandos da demoníaca Santa Inquisição. O detalhe mais sórdido dessa execução foi o fato dela ter sido absolvida logo após a morte. O recado dos Inquisidores foi claro, ela morreu não por ter pecado e sim por ter contrariado a instituição. Reconhecer a bravura de Joana, em tese, seria uma diminuição da Igreja perante uma simples mortal.

Assim como esse épico episódio da história mundial, uma cena do filme “A Lista de Schindler” é mais um exemplo de que infringir leis, às vezes, não é o crime, afrontar o poder, sim. No trecho do filme a que me refiro, uma judia polonesa, que trabalhava fazendo serviço braçal na construção de um galpão para os nazistas, alertou um soldado da SS: “Senhor, a forma como estão construindo essa estrutura está errada, ela vai desabar”.

O soldado, tomado por uma arrogância natural naquele clima de hostilidade aos judeus, esbravejou com a mulher mandando que ela continuasse seu trabalho calada. Afinal, “era apenas uma judia”. A mulher insistiu e o impasse foi levado até um oficial. Ela, então, argumentou: “Senhor, eu sou formada em engenharia pela Universidade de Milão, sei do que estou falando, essa estrutura esta sendo construída de forma errada”. O oficial ironizou: “Vejam só, uma judia instruída”. Estupidamente ele virou-se para o soldado e ordenou: “Mate-a”. A engenheira  foi prontamente executada com um tiro na cabeça. Em seguida o oficial ordenou: “Faça como ela estava pedindo”.

O que determinou a morte da mulher não foi ter cometido um erro, mas ter ousado afrontar um poder instituído. Pior ainda, um poder instituído em um estado de exceção onde os direitos civis, quase sempre, são subvertidos. Em escala menor, esse tipo de punição afeta os incautos que, mesmo baseados na na razão, teimam em afrontar o poder.  Seria, então, um erro peitar os poderosos? Não, claro que não! O grande erro é afrontar os gigantes de peito aberto. Quem faz isso, não quer resolver problemas, quer virar mártir. 

A onda de protestos que varreu o Brasil nos últimos dias teve grande êxito justamente porque os “afrontadores do poder” eram indeterminados. Iam punir quem, o Guy Fawkers? A loira peituda que ostentava um cartaz? A multidão de estudantes e trabalhadores que marchou pelas ruas? O grande trunfo foi a não-subscrição do protesto, tanto que algumas bandeiras de partidos políticos que tentaram pegar carona no movimento foram rechaçadas pela multidão.  Quando for afrontar o poder, escolha: seja um mártir ou resolva o problema.

O MUNDO REAL E O MUNDO DAS CRIANÇAS

Quando eu era garoto, lá pelos dez, doze anos, perto da minha casa morava uma velhinha muito sinistra chamada “Dona Sofia”, na vizinhança - entre as crianças - rezava a lenda de que ela havia morrido há anos e aquela “pessoa” que víamos, vez ou outra, bisbilhotando a rua pela janela, era uma morta-viva. Morria de medo dela.

Certa vez, quando vinha da escola junto com minha mãe, ela parou para conversar com dona Sofia. Nesse dia pude observar detalhes esquisitos dela uma pele tão branca que as veias, roxas como vinho, desenhavam o corpo, era um ser quase translúcido. O pior de tudo foi quando ela sorriu pra mim e pegou no rosto, que mão fria.  Desse dia em diante tive certeza absoluta que ela era mesmo uma morta-viva. Até que num belo dia meu pai chegou com a notícia da morte dela.  Disse, em tom de piada: “Dona Sofia morreu de novo”.

As crianças enxergam as coisas de uma forma diferente dos adultos. Os pequenos detalhes ganham tons superlativos e acabam enriquecendo as histórias. Um amigo meu, Stenio – infelizmente perdi o contato com ele – acreditava que entre as pedrinhas que sua mãe catava no feijão tinha pedras preciosas, ele guardava todas e eu acabei pegando esse vício também. O tempo passou, crescemos, e restaram apenas um saco de pedrinhas e o lirismo dessa história.

Outra historinha legal, essa, protagonizada pelo meu amigo Mozart. Ele “criava”, vejam só, um seixo, dentro de um tonel. Todos os dias jogava na água um punhado de sal que, segundo ele, fazia a pedrinha crescer. Vários garotos acreditaram nessa lenda e também passaram a “criar” pedrinhas.  Sempre que nos encontramos na rua, lembramos dessa hilária história.

O mundo da criança tem uma realidade fantástica.  Eu, por exemplo, lá pelos sete, oito anos, quando chegava o dia do meu aniversário ficava horas na frente do espelho pra ver o momento que eu começaria a crescer.  Lembro-me que durante um longo tempo cultivei a ilusão de que havia visto meu crescimento dos sete para os oito anos.


Pra finalizar esse breve post, deixo um ensinamento do meu tio Janja, passado de boca em boca, na minha família. Questionado por sua mãe porque acordava tarde e dormia muito, ele, um garoto esperto, saiu com essa: “Mãe, eu não durmo muito, é que eu durmo devagar aí acordo tarde”.

AS IDEIAS E O “COMO FAZER”

A cidade do Recife, como é sabido, teve uma ocupação desordenada e acelerada, dadas as facilidades da sua geografia sem grandes elevações. O reflexo disso percebe-se nos incontáveis problemas urbanos que a população enfrenta diariamente. Dois desses problemas, trânsito e alagamentos, quando combinados , resultam num caos urbano que se repete de tempos em tempos na “Veneza Brasileira”.

Ideias sobre como resolver esses problemas aparecem muitas, mas, o “como fazer”, quase nunca acompanha os mirabolantes projetos. Para ilustrar o que discorro nesse breve post, faço um parêntese e lembro a fábula dos ratinhos e do queijo, cujo autor desconheço. Fui apresentado a essa historinha pelo nobre professor, Jorge Santana, numa aula de planejamento:

"Dois ratinhos estavam dentro de um buraco observando um suculento pedaço de queijo que repousava ao lado de um enorme gato.  Ficaram os dois discutindo sobre qual deles correria o enorme risco de tentar pegar o queijo. Um deles se aventurou e foi abocanhado pelo gato.  Ainda vivo, na boca do gato, o ratinho clamou para o amigo:

-Me ajuda, por favor?

O amigo que, estava protegido no buraco, mandou essa:

-Tenho uma ideia: você se transforma num cachorro e detona o gato!

Intrigado, o infeliz ratinho perguntou:

-Boa ideia, mas COMO FAÇO ISSO? Ao que respondeu o planejador amigo:

-Bom, eu dei a ideia, o COMO FAZER é com você, te vira!"

Uma ideia que não é exequível, não é uma ideia, é um sonho. Todos os dias nos deparamos com sonhos de reordenamento, rodízios, eclusas nos canais, túneis, elevados, horário bancário noturno blá, blá, blá. No meio desse turbilhão de problemas estava eu voltado do trabalho quando deparei-me com um aparato de guerra montado para escoltar o ônibus da seleção da Espanha que resolveu treinar no horário de pico do trânsito do Recife.  Os batedores iam ordenando o trânsito para que a “Fúria” não ficasse engarrafada. Funcionou. Ficamos no caos e eles seguiram tranquilos para treinar. Ao menos naquele momento, o “como fazer” pareceu-me algo simples.

MAIS UM DILUVIO RECIFENSE


Numa cidade com a geografia do Recife, o anúncio de chuvas é algo assustador. Cortada por rios e com um sistema de drenagem quase inexistente, os alagamentos são constantes.  A última calamidade veio com as chuvas da madrugada da quinta-feira (17/05) para a sexta.  Uma chuva constante e pesada, literalmente parou a cidade.

Acordei de madrugada para uma necessária micção e, por curiosidade, abri a janela. Uma névoa branca contrastando com a noite fria e a chuva intermitente. Confesso que fiquei assustado.  Moro em um local bem alto, a água não alcança, mas fico praticamente ilhado.  No dia seguinte fiquei impossibilitado de ir trabalhar. Passei a acompanhar via internet, rádio e tevê os relatos da calamidade.

Em tempos de interatividade, a informação chega instantaneamente. O mais interessante é que ela vem acompanhada de som e imagem. As redes sociais, nessas horas, cumprem um papel importantíssimo. Dei minhas contribuições postando as fotos de algumas ruas - incluindo a minha – alagadas aqui do meu bairro. 

Recife, nesses momentos, é uma cidade verdadeiramente assustadora.  Quando a chuva deu uma trégua saí para comprar pão e vi, numa rua em que morei há dois anos, carros com água até o teto.  A cidade não tem suporte para sanar problemas com essas dimensões. O que os assustados moradores sempre fazem é contemplar o dilúvio pela janela, ou sofrer quando alcançados pelas águas da Veneza Brasileira.  E a vida segue, de barco ou a pé, a vida segue.

AINDA SOMOS HUMANOS


Quando se é jovem e inexperiente, um dos fardos mais pesados na vida é o medo de enfrentar o mundo real. A pouca experiência, via de regra, induz a caminhos ilusórios para fugir da dura realidade do cotidiano. Sonhar que os pais vão morrer bem velhinhos e dormindo, imaginar que num belo dia todos os sonhos se realizarão como num passe de mágica e por aí vai. O tempo passa e a experiência nos mostra que o mundo, de vez em quando, vira de cabeça para baixo e temos que ter força para encará-lo.

As aterrorizantes noticias que chegaram da cidade de Santa Maria no final de semana passado é um desses momentos. Você fica remoendo, remoendo e não consegue digerir. Não dá nem pra fugir da tristeza. Na era da interatividade total, as notícias chegam de tudo quanto é lado. Você lê a história do jovem que salvou a esposa e voltou para ajudar os outros e morreu. Muitos trocaram a sorte de terem se safado pelo risco de ajudar outras pessoas e acabaram morrendo também.  Seres humanos, afinal, eles existem, é por isso que o mundo ainda se mantém com uma certa ordem. Somos infinitamente mais humanos do que imaginamos.

Tenho que repetir o que escrevi acima agora com um grifo: vários jovens que tiveram a sorte de escapar da morte, voltaram para ajudar os amigos e acabaram morrendo também. Não eram bombeiros treinados, eram pessoas normais que se, eu ou você, tivéssemos a incumbência de descrevê-los, logicamente, não imaginaríamos que eles, frequentadores de baladas noturnas, namoradores, jamais dariam a vida por outros, mas deram.

Esse não é um texto escrito para lamentar a tragédia ou descrever o horror do acontecido. Como destaquei acima, estamos na era da interatividade e um turbilhão de notícias chega a toda hora. Escrevo pra celebrar a prova inconteste de que ainda somos humanos. Aos que pereceram, que encontrem a luz.

O NECESSÁRIO PARA A VIDA


Por esses dias estive viajando revisitando um lugar que eu não via há vinte e cinco anos. Trata-se de uma cidadezinha litorânea, Maragogi, coladinha com Pernambuco, lá no litoral sul. Uma maravilha. Na minha estada anterior, no longínquo ano de 1988, fui a trabalho. Na verdade, era mais diversão do que labuta, eu era crooner de uma banda de baile e fui animar uma festa de padroeira.  Na época, Maragogi era apenas uma vila de pescadores que se estendia margeando a BR. Atualmente, a cidade ganhou equipamentos urbanos e oferece uma boa infraestrutura para atender os turistas que chegam diariamente para nadar na imensa barreira de corais.

Nos dias que passei por lá, além de me divertir bastante, fiquei observando o cotidiano da cidade, que segue um ritmo de vida bem menos frenético do que eu estou acostumado. Deu para perceber, claramente, que algumas pessoas sentiam-se extremamente felizes com a vida que levavam ali. Lembrei-me, então, de um amigo que sempre falava: “Meu pai precisa de pouco pra ser feliz, chega me irrita”. O que ele queria falar, na verdade, era que o pai não tinha ambições que fossem além do "pouco" que a vida lhe oferecia. Ele entendia aquela felicidade como conformismo.

Hoje, alguns anos mais velho, percebo que a felicidade não tem uma forma nem um tamanho definido e isso é muito bom. Eu mesmo sou um exemplo disso, houve uma época da minha vida que minha felicidade resumia-se a uma valise do tipo 007. Lá pela minha adolescência eu era uma criança retraída que sonhava em ser cantor, escrevia letras de músicas compulsivamente e as guardava dentro de uma valise preta que era o meu maior tesouro. Meus melhores momentos resumiam-se as várias noites de solidão com minha valise e meus textos que guardo até hoje. Até a solidão, um monstro que assusta  muita gente, era algo imperceptível diante da felicidade que eu tinha em escrever aqueles textos.

Esse modo de pensar foi levado ao pé da letra durante o movimento hippie em que pessoas se desfaziam do supérfluo para viver, apenas, com o necessário em harmonia com a natureza. Não cheguei a tanto, mas estive perto. O tempo foi passando e eu fui adicionando – ou deixando chegar – outros elementos que proporcionavam felicidade a minha vida. Um violão, um toca discos, um gravador, minha coleção de discos,  de revistas, meus livros, meus poucos amigos e meus muitos sonhos. Viver bem, ao final das contas, é o resultado das suas escolhas e da preservação do que realmente te traz felicidade.

OS ENSINAMENTOS DO TREMENDÃO ERASMO CARLOS

Ontem, assistindo a tevê, vi um belo depoimento do Tremendão Erasmo Carlos.  Falou da vida com muita propriedade e segurança, mostrando-se satisfeito com as escolhas feitas ao longo do seu rico caminho. Como de costume, soltou algumas pérolas da sua filosofia urbana.  A certa altura, mandou essa: “O que mais aproxima agente de Deus é a música e o orgasmo”. Estou no céu, refleti.

Entretanto, o que mais me chamou atenção no breve relato do velho roqueiro – sim, ele é um dinossauro do rock brasileiro – foi a profunda mágoa, que ele deixou transparecer nas entrelinhas, que ainda sente contra o pessoal da Bossa Nova.  O preconceito contra os integrantes da Jovem Guarda sempre existiu, todo mundo sabe.  No auge do movimento diziam que eles eram alienados porque não faziam música de protesto. Com o passar dos anos foram taxados de bregas. Sempre foram contestados.

O discurso de Erasmo revelou a mágoa  quanto à segregação – musical e social – que existia no Rio de janeiro da década de 60. Ele, um jovem oriundo do bairro da Tijuca, passou a se enturmar com a o pessoal da Bossa Nova através do agitador cultural Carlos Imperial.  Passou a frequentar as coberturas da Barra e de Copacabana, mas tinha que seguir a risca as orientações do mestre Imperial: “Não fala pra ninguém que você canta rock, senão eles vão te crucificar”, revelou.

Erasmo franziu a testa para dizer que  os abastados da Bossa Nova  não se misturavam com a turma da Tijuca.  Dirão alguns: “Essa é uma realidade social atual”. Sim, é, mas os movimentos musicais da periferia e fora do que os donos da mídia acham correto, ganharam voz com a facilidade e a voracidade da circulação da informação. O jovem Erasmo Carlos, hoje em dia, não precisaria fingir, omitir sua origem e seus gostos. O abismo social continua, talvez tenha até aumentado, mas a música, ou qualquer outra manifestação artística, chega aonde quer hoje em dia.

Alvissaras, o velho roqueiro continua vivo, ensinando e declarando seu amor ao bom e também velho rock n roll, confira:

O QUE FAZER NAS FÉRIAS


Pois então, o mundo não acabou e os bons ares das férias começam a soprar pras bandas de Ca. Para quem, como eu, trabalha o dia inteiro, trinta dias longe dos afazeres cotidianos (obrigatórios) é uma felicidade sem tamanho. O grande lance desse período de ócio, para a grande maioria, é se desligar do mundo e desestressar. Para mim não.

Tem gente que nesse período viaja para um lugar paradisíaco, no meio do nada, e passa o dia deitado numa rede tomando água de coco e olhando as ondas do mar. Eu morreria de tédio em menos de uma semana, com certeza. A questão é a seguinte: Por que tenho de deixar de fazer um monte de coisas que gosto durante as férias? Adoro acessar a internet, escrever no blog, andar pelo centro da cidade, ir ao cinema, garimpar nos sebos da cidade, tocar violão com os amigos. Durante o ano todo tenho que me desdobrar para fazer as coisas que gosto porque o tempo é exíguo. Quando chega o período de férias e tenho tempo de sobra, o “correto” é viajar para o meio do nada e me privar das coisas que gosto.

Dirão os críticos de plantão: “Mas você não gosta de viajar, conhecer lugares novos?” Claro que gosto, mas só por uns dias, não mais que isso. O bom de viajar, para mim, é o prazer de voltar para casa. Muitos pensam assim, poucos confessam. Tem gente fica numa casa de praia, entediado, olhando as paredes o ou a imensidão do mar, contando os dias para voltar para casa. Quando voltam, falam: “Passei uns dias num lugar maravilhoso”. Incompreensível.  Bom, paro por aqui, vou dar uma volta no centro!

EU MINHA MONOGRAFIA

Há alguns meses estou preso à tortuosa  tarefa de elaborar um trabalho científico, uma monografia. Como sou viciado em escrever, antes de iniciar as primeiras linhas do dito trabalho, ingenuamente, pensei: “É comigo mesmo, vai ser fácil”. Não é, ao menos para mim que sou um “escrevedor”, um reles propagador de textos  sem grandes pretensões. Mas o cerne da questão é a normatização do discurso escrito. Antes de mais nada, deixo bem claro, não sou contrário a isso. Obviamente a linguagem científica tem seus “porquês” e "poréns”, entendo. O que discorro aqui é sobre o fato de não me adaptar, de forma alguma, a esse tipo de escrita.

Tenho um monte de amigos pesquisadores – se lerem esse texto vão querer comer o meu fígado – e escuto relatos apaixonados de trabalhos realizados, publicados, tudo com muita paixão, com um tesão incontido que eu, sinceramente, não consigo sentir. Até mesmo na linguagem jornalística existe aquele grupo de xiitas que abomina narrativas na primeira pessoa como se a qualidade do texto – ou a credibilidade – diminuísse com um detalhe tão insignificante. O texto científico, do jeito que me dizem que tenho que escrever, tem a beleza de uma bula de remédio. Mas sempre existirá alguém para me lembrar: “Texto científico não tem que ter beleza, tem que ter credibilidade”.

Escrever sem prazer, normalmente, resulta em prolixidade. Esse é o drama de quem não pode falar como sabe e sim  como querem. Você tem que encontrar palavras que não fazem parte do vocabulário que você domina, que gosta, que acredita. Escrever por obrigação chega a ser um castigo. O pior é que no começo você tem a ilusão que vai conseguir aí o tempo vai passando, passando e um enorme hiato se forma entre a folha de rosto e as referências. Quando as palavras não se encaixam e as ideias não fluem é um sinal de que você está transitando na praia errada. Tédio!

BREVE COMENTÁRIO SOBRE O APAGÃO


Pois então, ontem a noite teve um apagão que, segundo os telejornais, atingiu 100% (!!!!) das cidades nordestinas. Os nove Estados foram afetados. Observei essa treva repentina da janela da minha casa. Vi um clarão logo ali e sai para dar uma espiada. Era a privilegiada estação do metrô, provida de grupos geradores, se destacando no meio do breu. Em tempos de conectividade total, saquei meu smartphone e, num breve acesso a internet, descobri que o blackuot era em todo nordeste e em dois estados do norte.

Esse apagão me fez lembrar a época de criança la´pela década de 70. Apagões eram comuns. O sistema de abastecimento elétrico era muitíssimo precário e convivíamos com esse problema. Hora apagava tudo, hora a energia baixava a tensão, um inferno inominável. Esse pisca-pisca produziu, inclusive, uma fábula na minha infância. Meus amigos já conhecem essa historinha. Quando criança, lá pelos sete, oito anos, morávamos no bairro da Mangueira, sudoeste do Recife. Do lado da minha casa, morava um senhor de nome “Geraldo”, que era funcionário da companhia elétrica de Pernambuco. Sempre que ocorria um apagão, meu pai abria a janela, olhava o horizonte e sentenciava: “Foi Geral!”. Minha cabeça de criança entendia: “Foi Geraldo”, o cara da companhia elétrica. Pensava, então: “Quem esse cara pensa que é, quando dá na telha apaga tudo e fica por isso mesmo?”. Geraldo era amigo do meu pai e não entendia o porquê da minha antipatia com ele (risos).

Essa lírica lembrança serviu para atenuar o imenso transtorno que a flata de energia provocou. Não consegui dormir, um calor infernal e escuridão. No dia seguinte ouvi os relatos dos amigos. Um ficou preso no metrô, outro desorientado no centro da cidade, e as historinhas se multiplicaram. Claro, a turma que é contra a Copa do Mundo “prêces” lados, aproveitou: “Quero ver um transtorno desse durante a Copa”. O fato é que blckout expôs um problema: o sistema de abastecimento elétrico do Brasil está dando sinais de cansaço e não é tão confiável quanto afirmava a, então ministra, Dilma Rousseff. Já estou providenciando para minha casa lâmpadas de emergência, tenho medo do escuro.
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