Não
sei bem em que ano foi, só sei que foi na década de 70, lá no comecinho, eu era
bem pequeno e fui com minha mãe visitar a queridíssima Tia Lena lá no
terreiro de Seu Lula. No grande salão de celebrações havia uma foto imponente de uma
negra vestida de rainha, perguntei a minha mãe “quem é essa?”, antes que ela falasse uma voz vinda lá da porta respondeu: “Essa é Dona Santa, a maior
rainha de maracatu do mundo”. Me virei e vi um negão entrando na sala, era Seu
Lula, uma lenda viva do bairro da Mangueira. Luiz de França Barros, o “Seu
Lula", nasceu em Recife, no dia 15 de janeiro de 1919 e faleceu, coincidentemente,
no dia do meu aniversário, 09 de maio, em 1999. Ele foi consagrado santo aos 27
anos por Dona Santa, a lendária rainha do Maracatu Elefante. Quando faleceu, era
o último filho de santo vivo consagrado por Dona Santa e o babalorixá mais antigo do
Brasil.
Seu
Lula era uma referência religiosa e cultural de importância nacional, seu
terreiro, fundado no dia 20 de abril de 1947, era ponto de encontro de muitas
personalidades que entravam e saiam anônimas por conta da perseguição que as
religiões afro sempre sofreram. A minha família, pelo lado paterno, tem uma
ligação muito forte com a história de Seu Lula. Minha avó, Dona Isabel, era
figura importante no terreiro, assim como Tia Lena, irmã do meu pai, que Seu
Lula tratava como filha. Meu tio Lamartine e sua esposa Jurema também foram figuras marcantes na história dele.
Seu
Lula não era importante apenas no universo religioso, ele foi figura presente
no carnaval de Pernambuco desfilando em diversas agremiações tradicionais como Inocentes
do Rosarinho, Inocentes de São José, Abanadores do Arruda, Gigante do Samba, Samarina
e o Maracatu Leão Coroado. Ele foi, sem dúvida, uma das personalidades mais
importante do bairro da Mangueira. Luz para ele!
PS:
alguns detalhes da biografia do Seu Lula que não faziam parte das minhas
lembranças descobri no ótimo trabalho de Juliane de Lima Barros (filha do querido amigo
Caçula) disponível aqui:
http://snh2011.anpuh.org/resources/pe/anais/encontro5/03-politica/Artigo%20de%20Juliane%20Barros.pdf