Tenho
um hábito cotidiano: tomar café na padaria. Não sei o porquê, mas
o café, o queijo e até o pão com manteiga são diferentes.
Frequento uma padaria antiga, de nome Lisboa, como tantas outras pelo
mundo afora. A padaria fica em frente a um movimentado ponto de
ônibus por onde transito desde criança. Lembro-me que ficava
fascinado com o desenho de uma caravela e de uma torre pintados nos
azulejos logo acima das prateleiras. Ao longo dos anos, o senhor tempo
transformou esse simples estabelecimento comercial numa das minhas
mais ternas lembranças de infância.
Outro
dia, chegava eu para o meu café matinal e dei de cara com um monte de
tapumes. O local estava em obras e eles atendiam num anexo. Mendes, o
atual dono, revelou-me, orgulhoso, que a padaria estava sendo
ampliada. Perguntei-lhe: “E os desenhos nos azulejos?”.
Friamente, o COMERCIANTE respondeu: “Derrubei tudo!” Engoli seco
e tornei a perguntar: “Mas não tinha como retirar para recolocar
na parede nova, ou conservar a relíquia?”. Ele me respondeu:
“Nada, a parede tava atrapalhando”.
Esse,
sem dúvida, foi o café da manhã mais indigesto que tomei desde que
me entendo por gente. As fotos que ilustram esse post foram tiradas com o
meu celular, numa manhã do mês de junho (notem os balões) do ano
passado enquanto eu tomava café. Não, não vou mudar o meu velho
hábito, mas decidi: quando o novo estabelecimento COMERCIAL for
inaugurado, mandarei emoldurar as fotos dos azulejos e darei de
presente ao COMERCIANTE.