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No dia 27 de junho comemorou-se o centenário do escritor Guimarães Rosa. Muito se publicou a respeito: biografia, resumos das principais obras e das famosas andanças desse mineiro pelo interior. Ele sempre buscou traduzir a alma sertaneja. O que me instigou a escrever esse post, entretanto, foi uma questão levantada pelo jornalista Daniel Pizza na Continente desse mês. Disse ele: “Suspeito que Joaquim Machado de Assis não gostaria de João Guimarães Rosa. Machado era a favor de uma linguagem clara, sem neologismos, com pontuação corrente. Era avesso ao misticismo e tinha um olhar concentrado nos costumes urbanos...” Ora, Machado de Assis diferenciava-se da maior parte (senão de todos) dos escritores da sua época justamente por ser um “analista literário” da alma humana.
Guimarães Rosa fazia a mesma coisa, apenas o objeto de estudo dele era o homem do interior. Discordo do Daniel, acho que o “Bruxo do Cosme Velho” gostaria sim do Guimarães Rosa. Quanto ao argumento de que o autor de “Grande Sertão: Veredas” entendia Machado de Assis como “um pessimista, que tinha uma visão desolada da natureza humana”, entendo como uma mera observação que não diminuiu em nada a imagem do grande escritor. Aliás, dizer que ele tinha essa ou aquela visão da natureza humana é uma confirmação de que ele inaugurou a literatura realista por aqui. Enquanto a maioria dos escritores descrevia paisagens e o cotidiano social, ele inovou. O mesmo fez Guimarães Rosa, não se limitou a descrever paisagens, ele as interpretou. Viva a literatura brasílica!