Hoje
li uma entrevista com o filho do Chico Anysio, o Bruno Mazzeo, em que
ele abre artilharia contra o humor do tipo “stand-up”, um
segmento em alta no Brasil atualmente. Para quem não conhece,
trata-se daquelas apresentações solos em que um humorista narra
fatos engraçados e se envolvem diretamente com o público. Nada de
novo, Agildo Ribeiro, Jô Soares, Chico Anysio e José Vasconcelos,
o maior nome do stand-up brasileiro de todos os tempos, criaram escola.
Bruno
teceu duras críticas ao Rafinha Bastos que também o teria
criticado, uma rusga declarada. Sobre o Rafinha, devo dizer, comungo com a opinião do filho do Chico. Além de xingamentos e polêmicas, não
vejo nada mais que possa atrair a atenção do público nesse
cidadão.
A
matéria me trouxe à memória uma questão que já venho matutando há
tempos: o humor brasileiro está em crise? Depois que os grandes
humoristas (citei-os acima) saíram de cena, a tevê vem tentando uma
renovação que esbarra, claramente, numa questão: faltam nomes de
peso. O último grande humorista surgido na tevê brasileira foi o
Tom Cavalcante que, por ter saído da Globo, entrou numa lista negra
– não declarada, claro – de artistas proibidos na emissora. Tom
está sem contrato e teve sua volta cogitada na Vênus Platina. Houve
um racha e a parte mais conservadora, que veta o nome dele, acabou
ganhando.
O
programa de humor de maior sucesso na tevê brasileira, atualmente, é
o “Zorra Total”. Os mais antigos percebem, claramente, que a atração é uma reedição de um formato popularizado e eternizado com o inesquecível “Balança Mas Não Cai”. Vários programas da Globo
copiaram essa fórmula com relativo sucesso. O problema é que o
Zorra já dá sinais de cansaço e as renovações não vêm surtindo
efeito. O programa vem revelando humoristas que viram febre, depois
despencam do “Olimpo” com a mesma rapidez que subiram. Foi assim
com o Rodrigo Fagundes que estourou com o “Patrick” e popularizou
o bordão “olha a faca” e agora é mero coadjuvante. Depois teve
a “Katiuscia Canoro” e sua “Lady Kate” que já perdeu o
brilho.
Atualmente,
a febre é a “Valéria Vasques”, do ótimo Rodrigo Sant'anna. O
humorista começou fazendo ponta na turma do Didi e agora experimenta
o estrelato. Depois do grande sucesso da Valéria, o Rodrigo emplacou
outro hit: Adelaide. Com uma personificação bem caricata de uma
pedinte, o humorista vem ganhando rasgados elogios. Mas o grande
problema é que o Zorra tem vários quadros chatos e sem graça. Quem
assiste, fica esperando, apenas, o sucesso do momento. Dá uma
tristeza ver um humorista talentoso como o Pedro Bisrmack (Nerson da
Capitinga) interpretando esquetes sem graça, visivelmente para tapar
buracos.
A
última grande revelação do Zorra, sem dúvida, foi a dupla LeandroHassum e Marcius Melhem que despontaram para o sucesso e ganharam um
programa próprio, “Os Caras de Pau”. Programas de sucesso como
“Casseta & Planeta” e “A Grande Família”, passaram por
reformulações não bem sucedidas. O Casseta, deixou de lado o humor
escrachado e optou por um formato mais light. Ficou totalmente
descaracterizado e perdeu o brilho. Já com “A Grande Família”,
ao que parece, perceberam que a reformulação não foi positiva e,
aos poucos, estão retornando ao formato antigo. Arranjaram até uma
“nova Marilda”, a Kelly Aparecida (Katiuscia Canoro), para fazer dupla com Nenê.
O
“Pânico Na Band” e o “CQC”, merecem um comentário à parte.
O Pânico pratica um tipo de humor agressivo muito contestado por
diversos segmentos da crítica e da sociedade. Seu público é
composto, basicamente, pela faixa etária mais jovem. O programa
ganha mais destaque pelas polêmicas que provoca do que mesmo pelo
conteúdo humorístico. O CQC, tem uma proposta parecida, mas mistura
humor com conteúdo jornalistico. Comandado pelo experiente Marcelo
Tas, teve bons momentos mas sua fórmula já dá sinais de desgaste.
O polêmico Rafinha Bastos é oriundo desse programa.
Não
vou falar aqui da “Praça É Nossa” porque esse lendário
programa, criado em 1957 pelo inesquecível Manuel da Nóbrega com o
nome de “Praça da Alegria”, ainda está no ar por causa de uma
dívida de gratidão de Sílvio Santos com Manuel. O velho comunicador foi o responsável pelo ingresso de Sílvio Santos no rádio, ou
seja, foi seu benfeitor no início da carreira. O atual
apresentador, Carlos Alberto da Nóbrega é filho de Manuel.
Obviamente ninguém fala sobre esse assunto abertamente, mas todos
têm essa compreensão. O humor praticado na Praça atual, com todo
respeito, diminui a história desse importante programa.
A
tevê brasileira, conclui-se, perdeu quase todos os humoristas de
profissão, aqueles que praticavam apenas o humor: Costinha, JoséVasconcelos, Chico Anysio, Agildo Ribeiro, entre outros. O que temos
atualmente são atores que enveredam pelo caminho do humor. Quando a
fórmula fica saturada, ao invés de renová-la, eles partem para
outros projetos, muitas vezes, longe da seara do humor. Foi
assim com “Sai de Baixo”, “Sob Nova Direção”, “Os Aspones", "Minha Nada Mole Vida" e "Os Normais"só para citar alguns.Triste
constatação!