O
ano de 1995 foi especialíssimo para mim: ingressei no mundo
acadêmico depois de anos sem estudar e numa época em que, diziam as
estatísticas, apenas um em cada dez estudantes de escolas públicas
chegava à universidade, sobretudo à pública. Teve também o título
do meu time do coração, o Santa Cruz. Mas nada se compara a emoção
de ser pai. Exatamente às dez horas e trinta minutos do dia 22 de
novembro de 1995, uma quarta feira, estava eu ansioso no apartamento
do Hospital Nélson Chaves, aqui em Recife, vendo pela tevê o clip
remake da canção “Free As A Bird”, dos Beatles, quando a
enfermeira bateu na porta e informou: “Pai, sua filha chegou”. A
partir dali, me tornei outra pessoa.
Lembro-me
que minha irmã, Lene, estava do meu lado. Fiquei na janelinha de vidro
olhando um enfermeiro manipulando, friamente (julgamento meu, claro),
aquela linda criança de cabelos negros, minha filha Thais. Naquela
mesma noite tentei confortar um pai que,
entristecido, me deu os parabéns e me falou que seu bebê não
nascera vivo.
Desse
dia em diante me tornei mais responsável, perdi aquela
inconsequência juvenil que teimava em não arrefecer apesar dos meus
trinta anos. Os dias ficaram mais longos e alegres, absolutamente
tudo ficou diferente. Ela era um bebê diferente, dormia ao som de
Chico Science, tinha medo do carro de bombeiro, fugia por um buraco
do portão (eu ficava desesperado) e me imitava quando eu estava
tocando violão.
Agora
ela está com 15 anos, moramos em casas diferentes, mas o sentimento é
o mesmo, talvez maior. Minha filha é o meu bem mais precioso, por
isso estou sempre por perto, será sempre assim. O cabelo dela agora
é vermelho, está linda, anda escutando umas músicas estranhas (sei
que isso passa, mas que passe logo), tem os problemas típicos da
adolescência que, certamente, serão superados, e faz um velho
professor, careca e tricolor muito feliz sempre que sorri e diz:
“Dindo, quero falar contigo”.