Katarina Real - 1967
Foto: Acervo FUNDAJ
Por: Virginia Barbosa (Bibliotecária da Fundação Joaquim
Nabuco): A pesquisadora e
antropóloga norte-americana, Katherine Royal Cate, conhecida por Katarina Real,
especialista no Carnaval do Recife, nasceu na cidade de Annapolis, em Maryland,
no ano de 1927.
Seu primeiro contato com a capital pernambucana se
deu no ano de 1927, ocasião em que estava a bordo do Cruzador Milwaukee da
Marinha Americana, comandado por seu pai, o Almirante Forrest Betton Royal, que
também foi adido naval dos Estados Unidos junto ao governo brasileiro.
Em 1949, formou-se em Artes e Estudos Luso-Brasileiros
pela Stanford University. Foi nessa cidade que conheceu a obra Casa-grande
& senzala, de Gilberto Freyre, traduzida por Samuel
Putnam. Ficou impressionada com o que leu, principalmente os capítulos
dedicados ao negro brasileiro e as influências africanas na cultura nordestina.
O que aprendeu com a leitura do livro foi um dos motivos que a trouxe, alguns
anos depois, para Pernambuco.
Casou-se no Recife, aos 24 anos, com Robert Cate,
um norte-americano especialista em análise de solos que trabalhava para o
Departamento de Estado, na Califórnia. Três anos depois, já na cidade de São
Francisco da Califórnia, ela trabalhou como apresentadora de um programa da
rádio de Stanford, denominado University of the Air. A emissora transmitia para
toda a América Latina uma edição em espanhol e outra em português. Esta última
destacava músicas regionais brasileiras e fazia entrevistas com personalidades
advindas daquela região.
Nesse programa, Katarina Real entrevistou o
jornalista pernambucano Luiz Beltrão que visitava os Estados Unidos realizando
conferências e que terminava sua jornada naquela cidade. A amizade entre eles consolidou-se
ao longo dos anos nos quais houve troca de correspondência e envio, da
parte de Beltrão, de informações, gravações de frevos, maracatus e ritmos
pernambucanos para serem disseminados no programa comandado por Katarina.
Posse da antropóloga Katarina Real como Secretária Geral da
Comissão Pernambucana do Folclore 1967 - Foto: FUNDAJ
Em 1956, Robert Cate foi contratado para trabalhar
como gerente de escritório da Kaiser Alumínio do Brasil e o casal fixou
residência na cidade de Belém, estado do Pará. Por serem também do seu
interesse as manifestações folclóricas, Katarina começou a participar das
reuniões da Comissão Paraense de Folclore e integrou a comitiva ao III
Congresso Brasileiro de Folclore. Nesse período, o casal Cate veio ao Recife a
passeio.
Voltou à capital pernambucana, em 1957, e
hospedou-se na casa de Luiz Beltrão. Conheceu o carnaval recifense por intermédio
da família do jornalista e ficou fascinada com a organização e participação de
todos quando da chegada do período de Momo. Pode-se dizer que a sua inserção na
sociedade recifense, nos círculos da intelectualidade e a trajetória como
pesquisadora do carnaval se deve, também e principalmente, ao apoio e
orientação dada por aquela família.
O trabalho de Robert Cate não permitia fixar
moradia por muito tempo. No Brasil, o casal esteve no Pará, Rio de Janeiro,
Pernambuco e Brasília. Por onde passava, Katarina não perdia a oportunidade de
registar as manifestações folclóricas do lugar. Em Pernambuco, dedicou-se
também ao estudo da cultura das nações africanas.
Posse da antropóloga Katarina Real como Secretária Geral da
Comissão Pernambucana do Folclore 1967 - Foto: FUNDAJ
Seduzida pelo seu objeto de estudo, Katherina Kate
Royal se trona uma “gringa abrasileirada” que, paulatinamente, vai sendo
reconhecida como “representante do folclore estadual” ao ponto de receber o
título de Cidadã do Recife, quando ocupava o cargo de secretária geral da
Comissão Pernambucana de Folclore, em meados da década de 1960.
Suas pesquisas permitiram que reunisse um extenso
material que procurou preservar, documentar e divulgar. São textos,
fotografias, gravações, entrevistas e palestras além de uma coleção de objetos
de muito valor para o estudo da arte popular. No período em que residiu no
Recife, Katarina manteve esse acervo no seu apartamento – conhecido como “A
Torre do Frevo”. Empenhou-se em divulgar a arte brasileira nos Estados Unidos,
em especial a pernambucana, promovendo exposições do seu acervo pessoal: em
1959, no Museu de Antropologia da Universidade da Carolina do Norte (Folkways
of Northern Brazil); em 1978, no Mingei Museum of World Folk Art, na
Califórnia (A Cultural Mosaic of Brazil), uma das primeiras exibições
nos Estados Unidos sobre as artes, festas e tradições populares do Brasil; e em
1997, realizada pelo Museum of International Folk Art de Santa Fé no Novo
México, que posteriormente foi acrescentada à exposição permanente desse
Museu.
Foi muito atuante em instituições que valorizavam o
folclore e o carnaval, objetos de seu estudo. Dentre elas: a Comissão Nacional
do Folclore do Rio de Janeiro; a Comissão Pernambucana de Folclore (1964-1968),
ocasião em que promoveu uma campanha para a construção de um Museu do Carnaval;
a Comissão Organizadora do Carnaval do Recife, onde foi presidente
(1966-1968); o Museu do Homem do Nordeste, da Fundação
Joaquim Nabuco (Fundaj), no qual ajudou a organizar uma
exposição sobre maracatu do baque virado. Para a Fundaj,
Katarina doou um enorme acervo fotográfico.
A última vez que Katarina Real veio ao Recife, carnaval
de 1996 - Foto: Feranando de Souza
Nos anos 1980 e 1990, Katarina veio algumas vezes
para o Recife, ora para adquirir peças ora para rever e fazer novas amizades.
A trejetória do estudo e da pesquisa antropológicos
sobre o Carnaval do Recife levou Katarina a percorrer algumas cidades
brasileiras e a se fixar na cidade do Recife nos anos 1960. O universo do
Carnaval popular recifense a encantava ao ponto de integrar-se à própria
cultura pernambucana. Escreveu livros, artigos, proferiu conferências, promoveu
exposições, convertendo-se dessa forma, em divulgadora do folclore e do
carnaval. Suas obras são referência para quem se dedica ao estudo da cultura
popular brasileira.
Katarina Real faleceu no dia 6 de junho de 2006, na
cidade de Tucson, no Arizona, Estados Unidos.
No ano de 2007, a Comissão Pernambucana de Folclore
em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco realizou, em homenagem a antropóloga
e folclorista, a exposição Katarina Real: outros carnavais.
Suas obras:
Livros:
Folkways of Northern Brazil (1959)
O folclore no Carnaval do Recife (1967, 1990);
O folclore no Carnaval do Recife (1967, 1990);
A Cultural Mosaic: the folk arts of Brazil (1978);
Eudes, o rei do maracatu (2001);
Artigos:
Os ursos no Carnaval (1967)
A ‘la ursa’: os ursos de carnaval do Recife (1991)
A ‘la ursa’: os ursos de carnaval do Recife (1991)
Vivências
no Nordeste brasileiro: o folklore (1997).
A grande vitória: o carnaval de 1968 (2001)
A grande vitória: o carnaval de 1968 (2001)
Evoé: the
Carnaval of Recife and Olinda in Pernambuco, Brazil (2004)
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