
Uma das coisas que mais me intrigam, é a mórbida atração que muitas pessoas têm por notícias ligadas à violência. Isso não é de hoje. Lembro-me bem de que há anos imperam nas rádios aqui do Recife, em dois horários, os noticiários policiais. Gino César é uma verdadeira lenda na radiofonia policial de Pernambuco. O mais incrível é que essa enxurrada de notícias, sobre violência, chega aos ouvintes nos horários das refeições:
*No rádio: Café da manhã e almoço.
*Na tevê: Jantar
Muita gente se acostumou com essa rotina: alimentar-se ouvindo a lista de mortos, de prisões, de atropelamentos e tantas outras formas de violência. Esse comportamento é, no mínimo, estranho. Os veículos de comunicação, há muito, perceberam essa mórbida tendência da população e começaram a investir nessa área. Durante anos dois tradicionais jornais de Pernambuco, Jornal do Comércio e Diário de Pernambuco, dominaram as vendagens sem nunca serem alcançados pelas novas publicações que surgiram (e sumiram) ao longo dos tempos. Em 1998, porém, foi criada a Folha Pernambuco, que ganhou popularidade mostrando a violência de forma explícita. Depois que se popularizou e se firmou como um grande jornal de Pernambuco, a Folha sofreu uma reformulação mas continua trazendo um encarte onde a violência ainda é mostrada de forma explícita.
O noticiário policial virou uma estratégia para alavancar a audiência. Na década de 80, o repórter J. Ferreira fez história com o programa “Blitz, Ação Policial”, veiculado primeiramente no rádio e depois na tevê. Recentemente, o Jornal da Tribuna, um telejornal local aqui do Recife, investiu no noticiário policial e chegou a brigar pela audiência com o NE-TV, da Rede Globo. A TV Tribuna, inclusive, criou um telejornal específico para o noticiário policial, o Ronda Geral, dado o sucesso do Jornal da Tribuna.
Mas, em se tratando de sucesso no noticiário policial, nada se compara ao programa “Bronca Pesada”, apresentado no rádio e na tevê por Joslei Cardinot. O programa é um sucesso absoluto, sobretudo na periferia. Joslei Cardinot Meira é um baiano que iniciou sua carreira de radialista com apenas 14 anos na Rádio Cultural de Campos, no Rio de Janeiro. Chegou a apresentar um programa, pasmem, com Antony Garotinho, ex-governador do Rio. Cardinot (como é popularmente conhecido) chegou ao Recife em 1984 para trabalhar na Rádio Globo e foi galgando espaço até desbancar (na audiência) o lendário repórter policial J. Ferreira. Polêmico, Cardinot alterna duas faces: o jornalista durão, que grita com o bandido, e o apresentador que faz piadas com as notícias policiais. Cardinot é um dos maiores sucessos da rádio e da tevê pernambucana dos últimos tempos.
A veiculação do noticiário policial dando ênfase à violência nua e crua, que se sobrepõe ao fato jornalístico, é uma triste realidade. O mais triste nisso tudo é que a audiência é grande porque as pessoas querem que seja assim pois ligam a tevê e ajudam a popularizar esses programas. O conteúdo de qualidade é mostrado em horário alternativo, difícil de ser acompanhado. Enquanto isso, vamos nos acostumando a ver na tevê a exploração da violência como algo normal. Cabe aqui uma célebre frase de Bertolt Brecht: "Não digam nunca: Isso é natural. Para que nada passe por imutável"
Comments
No responses to “MÓRBIDO ENTRETENIMENTO”
Postar um comentário