RENASCENDO DA TRAGÉDIA

Lembro-me como se fosse hoje: era um fim de tarde e eu jogava futsal (na época ainda era Futebol de Salão) numa quadra pública aqui do Recife. Havia um som alto tocando, era uma rádio fm. De repente, a música parou e o locutor falou: --“amigos ouvintes, as agências de notícias estão informando sobre a morte do ex-Beatle John Lennon que foi assassinado em Nova Iorque ...” Depois do anúncio, como é costume quando morre um cantor famoso, começaram a tocar uma enxurrada de músicas de Lennon e dos Beatles.Parei de jogar e fiquei ouvindo Jealous Guy. A partir daí, minha vida mudou.Decidi que queria ser músico, comprei um violão e montei uma banda de rock . Naquele fatídico 08 de dezembro de 1980, quando Mark Chapman descarregou uma arma no peito do seu ídolo, sentou na calçada e foi ler “O Apanhador No Campo de Centeio”, sem saber, estava dando um sentido à minha vida. Dediquei-me aos livros e discos, descobri que a vida era feita de pequenos momentos que se transformam num grande mosaico. Cada pedacinho representa uma experiência vivida. Segue abaixo o vídeo da inesquecível canção do Lennon, “Jealous Guy”:

Esse post foi originalmente publicado no dia 31 de março. Reedito hoje em homenagem ao vigésimo-oitavo aniversário da morte do mestre John Lennon.

OS MALES DA MODERNIDADE

Já escrevi aqui sobre os efeitos da modernidade, mas ando meio paranóico. Descobri, nos últimos dias, que vários dos meus prazeres, de tantos anos, foram afetados pelo avanço tecnológico. Não, não estou sendo catastrófico, é meramente uma constatação. Alguns exemplos:

*Ir ao cinema: não consigo mais assistir a um filme no cinema. Primeiro porque eles (os cinemas) não existem mais. O som é perfeito, double surround, salas modernas, mas não são cinemas. O São Luiz era um cinema. Mas não é só o espaço!Desde a popularização do vídeocassete me acostumei a ver filmes em casa. Tenho o vício de ver uma mesma cena várias vezes. Volto para entender um diálogo um pouco mais complexo. No cinema não tem isso, é como ver o jogo no estádio: se perde o lance só vai ver de novo na tv. Ficar confinado num cubículo (mesmo hi-tec) sem charme, para mim, não é diversão.

*Pesquisar em livros: há dois anos fiz uma pós-graduação. Quase tudo que pesquisei foi garimpado na internet. Percebi (e fiquei perplexo) que o saudável e prazeroso hábito de folhear livros está sumindo do meu cotidiano. Construir textos no computador com um arquivo monstruoso chamado internet bem ao seu alcance, virou rotina. Aquela referência que embasa sua idéia surge na tela com apenas um clique. Você vai ao passado e volta num instante. Você vê o passado, não mais imagina ou recorda. Tudo isso causa dependência.

*Ouvir música: não ouço mais rádio. Antes sintonizava as rádios alternativas de mpb, rock, flash back. Bom, agora eu faço uma programação no meu mp3, coloco 300 músicas escolhidas a dedo e escuto enquanto estou em trânsito. Ou seja, eu ando com minha rádio no bolso. Ouvir música no Mp3 gera ansiedade, percebi. Às vezes a canção nem termina e você já clica pra ouvir a próxima. Esquece que as músicas foram selecionadas por você mesmo e sai procurando “as melhores”. Eu, que ainda tenho elepês guardados a sete chaves, não estou conseguindo nem ouvir mais os cedês.

Esses três exemplos mostram que até ficar doente hoje em dia é diferente. Isso mesmo, estou doente e não sei qual especialista procurar. O neuro, o psicanalista, o analista de sistemas, o guru...Quem me ajuda?

BENAZIR BHUTTO E O ISLÃ

Daqui a trinta dias, completará um ano do assassinato de Benazir Bhutto. Falar de homem bomba explodindo em país muçulmano, soa como lugar -comum nos dias de hoje, mas quando entre os mortos está uma figura marcante (e às vezes contraditória) como Benazir, o assunto ganha peso e importância. Essa bela mulher teve uma história marcada por perseguições e algumas tragédias. Nascida em 1953, na província de Sindh, numa família muçulmana tradicionalíssima, os Bhutto, Benazir foi educada em Oxford (Inglaterra) e se formou em Ciências Políticas e Filosofia. Essa base humanista (ocidental) influenciaria, mais tarde, suas ideias políticas. Ela era a mais influente representante da oposição ao chamado "estado religioso", onde as leis de cidadania e política ficam de lado para "preservar"os ensinamentos do Islã. Benazir era muçulmana, mas era considerada pelo Jihad uma espécie de elo entre o Paquistão e os Estados Unidos. Qualquer um, não importa o carisma que tenha, que sofre uma acusação dessas no mundo muçulmano, tem a sentença de morte decretada. A partir de 1979, depois que seu pai, Zulfikar Alí Bhutto, foi executado, Benazir cumpriu cinco anos de cadeia. Durante esse período, ficou doente, recebeu uma autorização especial para se tratar em Londres, onde se exilou e iniciou sua carreira política. O mais importante a se destacar na história de vida dessa mulher, é que ela se rebelou contra um poder instituído. Ela sabia que iria morrer, desafiou a força da religião num lugar onde a religião é tudo. Vivia sendo perseguida, escapou de vários atentados, num deles, mais de cem pessoas morreram.Não fiquei surpreso quando soube da sua morte , mas confesso que fiquei triste, muito triste.

UNIVERSO CULT

Escrevi no post anterior sobre guetos (que o amigo Grijó do ótimo Ipsis Litteris chama de 'focos de resistência'). Que não fique a impressão de que sou um chato que despreza a cultura pop e vive descendo a lenha. Não, não sou assim, veja o banner no alto dessa página. João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Josué de Castro dividindo espaço com Speed Racer, Garibaldo, Ave Sangria e Pink Floyd. Eclético, isso é o que eu sou. Por ser assim eu detesto quando vejo intelectuais metendo o pau na cultura pop. Outro dia li numa entrevista de um escritor gaúcho famoso: “quando eu era mais jovem gostava muito do Grease, depois percebi que o filme não era nada”. Eu vi (e vivi) o Grease quando era garoto. Devo muito a esse filme. Não me divirto tanto agora revendo, mas isso não tira o brilho nem a função do filme: divertir. O mesmo ocorre com as séries de tv que eu via quando garoto, com roteiros e efeitos toscos, mas que me fizeram viajar na imaginação e me ajudaram a viver. Esse é o universo Cult. É quando você não julga com critérios da atualidade obras e acontecimentos do passado. É quando você percebe a importância da obra num determinado contexto. Por isso respeito muito o Guy William (Perdidos No Espaço), a Barbara Eden (Jeannie é Um Gênio), o John Travolta, o Renato Aragão. Assim como minha filha irá respeitar o Chaves, o Bem 10 e etc. Quem entende isso não fica velho.

EU ME ACOSTUMEI AOS GUETOS

Sempre foi assim, desde os tempos de escola. Sempre que procurava pessoas ou algum tipo de diversão, tinha que recorrer aos guetos. No Costa e Silva (escola onde estudei na década de 80) havia um grupo que se reunia na caixa d’água para falar de música: Beatles, A Cor do Som, Rock Brasil (que estava ressurgindo), festivais de músicas e etc. Por que não trocávamos idéias com os outros? Porque os outros pertenciam ao clube do “gosto do que todo mundo gosta”. É a turma que só ouve o que toca no rádio, que compra discos e escreve pensamentos e poemas na capa, que muda de gosto a cada estação. Sempre nadei contra essa corrente. No centro do Recife existiam alguns santuários que tinham imunidade contra essa chaga: Mausoleum, Disco 7 e Alegro Cantante. Três lojas de discos, lendárias, que já não existem mais. Eram também ponto de encontro dos amantes da boa música, aquela que não toca no rádio. Tinha também a Banca do Elvis, um point da contracultura. Lá se encontrava de tudo: revistas, discos, camisetas, cifras de violão, cartazes e fotos de shows. Um maravilhoso gueto. Outro dia, depois de horas navegando e vasculhando a net ,consegui encontrar uma música que eu ouvia em 1981 e que ninguém lembra mais: “Hey Mr. John”, do cantor Rossini (antes de virar cantor sertanejo). Uma reverência a John Lennon . Descobri no You Tube um vídeo póstumo com uma homenagem a esse artista que teve uma vida breve, 45 anos apenas. Essa canção me traz lembranças dos guetos que freqüentei e dá vida aos que freqüento agora: Livraria Cultura, alguns blogs que leio, meu Mp3, as séries de TV que vejo (e comento), o Alto da Sé, o Vitória, o Teatro do Parque...

*Esse post é dedicado ao cantor César Rossini. Segue abaixo o vídeo homenagem com a canção Hey Mr. John

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