Pois
então, hoje tem jogo do Santa aqui em Recife e eu não vou. Não vou porque não
quero me submeter aos desígnios de quem detém o poder econômico e manda no
pobre futebol brasileiro. Entretanto, não queimo meus neurônios tentando
criticar a grade de programação da “Vênus Platinada”. Eles compraram o evento, são os donos da
festa. As críticas devem ser direcionadas aos que se venderam.
A
tevê determinou, inclusive, mudanças no sistema de disputa. Proibiu a cobrança
de penalidades. A lógica comercial: a partida de futebol é um evento da grade
de programação, portanto, tem que ter hora para começar e terminar. Cobranças
de pênaltis, em geral, extrapolam os horários pré-estabelecidos.
Isso
não é de agora, há alguns anos, a tradicional “Corrida de São Silvestre”, que
era disputada na virada do ano, teve seu horário modificado para atender uma ordem da tevê. Transmitindo no horário do réveillon o “programa” concorria com uma
festa tradicional e perdia audiência. A longa história da corrida foi triturada
para se adequar à programação.
O
mais grave, no que se refere à “organização” esportiva, é a desvalorização de
tradicionais times fora do eixo Rio-Minas-Sul-São Paulo. A tevê sempre
privilegia na grade os times de lá. Os programas esportivos, mesmo nas edições
nacionais, privilegiam os times de lá. O torcedor que aparece na novela é do
time de lá, assim como o escudo na parede etc., etc., e etc.
O
mostro foi criado e se alimenta da alienação dos torcedores pelo do Brasil
afora que se esquecem de torcer pelos times locais e torcem pelo time que a
tevê impõe. Eles passam a acreditar no que aquele locutor ufano brada
descaradamente, veste a camisa de uma equipe que não tem nada a ver com ele.
Antes eram só as crianças, hoje em dia, muito adulto com opinião formada entra
na onda.
Dessa
doença a torcida do meu clube do coração, o Santa Cruz, não sofre. O time foi
jogado no limbo, no subsolo do inferno, mas a torcida não foi na onda da tevê.
Pelo contrário, bateu recordes de presença no estádio e a tevê, mesmo a
contragosto, teve que mostrar essa história. Se o monstro é invencível, nós, heroicos
torcedores, somos imortais.