RENATO RUSSO, 50 ANOS HOJE
“DIZ-ME COM QUEM ANDAS...”

O mais recente flagrante envolveu o atacante Vagner Love que, abertamente, transitava por uma festa cercado por traficantes armados. Quando questionado sobre esse estranho passeio disse que estava acostumado com esse tipo de ambiente. Comentou: “Não vou deixar de frequentar minhas origens e minhas raízes”. Eu poderia citar ainda o caso do cantor Belo ou do goleiro Júlio César, mas os dois exemplos acima já me bastam.
Esses ilustres atletas, nascidos no “país do futebol”, atuam no clube mais popular desse pais e, por isso, (e também por força da mídia) acabam servindo de exemplo para grande parte da garotada que sonha com a fama e com o estrelato que o futebol pode proporcionar. Essa é uma terrível constatação. Achar normal transitar entre bandidos armados com AR-15, HK e tantas outras máquinas mortíferas que se popularizaram no noticiário policial, é um acinte. Devemos nos revoltar e protestar contra isso.
Esses mesmos jogadores, muitas vezes, criticam os integrantes de torcidas organizadas que se matam em batalhas inglórias pelos estádios do Brasil. Pura hipocrisia. Aqueles que patrocinam as festas nos morros que eles frequentam, também patrocinam a violência que interrompe a vida de muitos garotos da periferia. Mas como tudo isso “é normal” e faz parte das origens desses ídolos, continuaremos a ver imagens tremidas dessas festinhas.
BREVE COMENTÁRIO SOBRE O SHOW DO A-HA NO RECIFE

O show: a apresentação do A-Ha com o Morten vocalmente debilitado até que foi boa mas, numa turnê de despedida, eles deveriam dar mais espaço aos hits do que às novas canções. No setlist do show (confira abaixo) faltaram: "Love is Reason", "Train Of Thought","You Are The One", "Early Morning", só para citar algumas. O grande destaque desse show, sem dúvida, foram os efeitos visuais. O telão colocado como pano de fundo mostrou durante todo o show, imagens relacionadas aos temas das músicas.
Dei uma zapeada pela rede e sites de relacionamento e percebi que os defeitos do show foram absolutamente ignorados pelo grande público que lotou o Chevrolet Hall. Um jornal aqui do Recife, referindo-se ao show, estampou a seguinte manchete: “A-hasou”. Acho que estou ficando velho.
Setlist
Bandstand
Foot of the Mountain
Analogue
Forever not Yours
Minor Earth Major Sky
Move to Memphis
The Blood that Moves the Body
Stay on These Roads
Living Daylights
Crying in the Rain
Scoundrel Days
Manhattan Skylines
I’ve Been Losing You
Looking for the Whale
Cry Wolf
Bis
Hunting Down and Low
The Sun Always Shine on the TV
Take On Me
RECIFE, OLINDA E AS MINHAS LEMBRANÇAS

Minha relação com essas duas cidades é íntima. Nasci no Recife e fui adotado por Olinda. Em 1970, com apenas cinco anos de idade, minha família se mudou para Olinda. Morei entre os bairros de Salgadinho e Sítio Novo, nos domínios do mestre Naná Vasconcelos. Eram tempos remotos, não existia o complexo viário. Ali, existiam enormes crateras resultantes da retirada de areia para construção. Inundadas pelas chuvas de inverno, essas crateras viravam piscinas que faziam a festa da garotada do local. Eu, claro, adorava. Até a praia de Ponta Del Chifres, hoje sitiada, era bem frequentada. Um lugar lindo, separado da área urbana em ritmo voraz de crescimento por um braço de maré.
Hoje em dia moro no Recife, minha cidade natal, mas continuo transitando por Olinda, trabalho por lá. O que mais me encanta na relação entre essas duas cidades é o sentimento de irmandade. Não existe bairrismo, não existem comparações, as duas cidades são uma só. Do centro do Recife até Olinda são apenas seis quilômetros. Meu lado geógrafo alerta que a “conurbação” transformou as duas cidades num único complexo urbano. A imagem que ilustra esse breve post é uma visão do Recife a partir do Alto da Sé, coração do sítio histórico de Olinda. Entre as duas cidades, a bela (e sitiada, repito) praia de Ponta Del Chifres, a que me referi acima.
Do Recife, minhas melhores lembranças são do Bairro de São José. A família do meu pai tinha um fábrica de bolsas na rua de São José, ao lado do mercado famoso. Todo final de semana eu ia para a fábrica com meu pai e ficava brincado pelas ruelas do velho bairro. São lembranças líricas. Vários personagens dessa época ainda povoam o meu imaginário. Já dediquei aqui um post inteiro a um deles, Liêdo Maranhão, o "escriba do povo". Se fosse falar de todos, teria que escrever um livro. Recife e Olinda contribuiram igualmente para minha formação. Meus respeitos a essas duas belas cidades.
A MACABRA PROFECIA SE CUMPRIU

Houve um tempo em que o indivíduo que cometia um crime cumpria quatro estágios: VIATURA - DELEGACIA - PRESÍDIO - PENITENCIÁRIA. Num país onde o sistema judiciário e carcerário funciona, ainda é assim.
Nos últimos anos o Brasil vem subvertendo essa regra básica. Primeiro as penitenciarias ficaram superlotadas e os presos tinham que cumprir suas penas nos presídios (para quem não sabe, esse é o local onde o detento aguarda o julgamento). Hoje em dia, os presídios estão superlotados e os presos estão cumprindo as penas na delegacia mesmo, os famosos "cadeiões".
Em breve, muito em breve, eles estarão cumprindo as suas penas dentro da viatura. Surrealismo? não, realidade brasileira! triste e inaceitável realidade brasileira. "Não diga tudo bem diante do inaceitável, a fim de que este não passe por imutável", a célebre frase de Brecht, deveria ser estampada em neon pelos quatro cantos do Brasil. Temos que nos inconformar, temos que lutar contra isso!!!!
A macabra previsão sobre a realidade carcerária brasileira chegou mais cedo do que eu esperava. Confira no vídeo abaixo, um trecho do Jornal Nacional do dia 06 de Março, que a profecia se cumpriu.