HISTÓRIAS DO ROCK PERNAMBUCANO
FELINHO E A REINVENÇÃO DE VASSOURINHAS
RADIOLA VOL. O4: CAPIBA – 25 ANOS DE FREVO (CLAUDIONOR GERMANO)

Escrevi num post passado sobre o novo frevo pernambucano capitaneado pelo maestro Spok. Hoje lembrei-me do grande disco do mestre Claudionor Germano gravado em homenagem ao outro grande mestre, Capiba. Na verdade, essa dobradinha é a marca registrada de uma das melhores coisas que o carnaval de Pernambuco pôde produzir. Ouvir Claudionor Germano cantando Capiba é como mergulhar no universo mágico da história do carnaval da terra do frevo.
Não vou perder tempo aqui reproduzindo a biografia do Capiba, esse detalhe pode ser facilmente encontrado na rede. Quero apenas lembrar que o começo de sua carreira artística foi cercada de um lirismo incomum. Ele era pianista de cinema, tocava enquanto os filmes mudos eram exibidos. Certamente, essa inusitada experiência contribuiu muito para a formação de grande artista.
O maior intérprete de Capiba (e do frevo pernambucano, de maneira geral) é Claudionor Germano. Na ativa até hoje, Claudionor mantém viva a chama do frevo de raiz. No disco “Capiba – 25 Anos de Frevo”, sua parceria com Capiba teve o seu melhor momento. São apenas cinco faixas, mas cada uma delas é uma espécie de pot-pourri com vários temas de frevos que marcaram época. Esse estilo de gravação era comum nos antigos discos de frevo gravados no selo Mocambo da lendária Fábrica de Discos Rozemblit.
Claudionor Germano e Capiba viraram uma marca registrada do frevo cantado em Pernambuco e em todo o Brasil. Reverencio essa dupla de mestres!
Capiba - 25 Anos de Frevo - 1959
1 | É de amargar |
(Capiba) • Tenho uma coisa para lhe dizer -
• Manda embora essa tristeza -
• Quem vai pra Farol é o bonde de Olinda | |
2 | Júlia |
(Capiba) • Casinha pequenina -
• Gosto de te ver cantando -
• Linda flor da madrugada | |
3 | Quem me dera |
(Capiba) • Teus olhos -
• Não sei o que fazer -
• Quem bom vai ser | |
4 | Quando é noite de lua |
(Capiba) • E... nada mais -
• Morena cor de canela -
• Os melhores dias de minha vida | |
5 | Quando se vai um amor |
(Capiba) • Você faz que não sabe -
• Deixa o homem se virar -
• A pisada é essa -
• Vamos pra casa de Noca -
• Ai! Se eu tivesse -
• Que é que vou dizer em casa -
• Nos cabelos de Rosinha -
• Modelos de verão |
À ESPERA DA TRAGÉDIA

Morei em duas cidades, Olinda, década de 70, e Recife, onde resido atualmente. Em ambas, coincidentemente, vivi em bairros próximos a áreas de manguezal. Nessas localidades, sempre que era dia de maré alta, as águas dos rios fluíam pelas galerias. Ouvíamos os mais velhos dizerem: "a maré tá invadindo a rua". Na verdade, o fluir das águas era, meramente, uma comprovação do Princípio da Impenetrabilidade: "dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo".
Não entendeu? É simples, encha uma bacia com água até o limite da borda e entre nela. O volume da água deslocada para fora da bacia sera igual ao volume da parte do seu corpo imersa no recipiente. E o que as enchentes tem a ver com essas concepções científicas? Tudo! O volume de água que inunda a sua rua é exatamente igual ao volume de terra (ou lixo, ou qualquer tipo de entulho) que algum idiota jogou dentro do rio. A água tem que ir para algum lugar e procura os terrenos mais baixos.
O triste nessa história é que todos nós temos um pouco de culpa nesse desequilíbrio, mas pouquíssimos têm essa noção. Além do mais, os que reconhecem a sua participação deletéria, fazem pouco (ou quase nada) para corrigir o erro. Normalmente a razão é vencida pela emoção. A pobreza no avançado estágio da miséria produz áreas de sub-habitações que se transformam em palcos de catástrofes.
No Rio de Janeiro, devido a geografia altamente acidentada, as tragédias são “compartilhadas” por ricos e pobres. Áreas de veraneio frequentadas pela alta sociedade foram devastadas na mesma proporção das sub-habitações com características de favelas.
Muito se ouviu falar, após o desastre, de um planejamento para prevenir catástrofes. O Governo do Rio de Janeiro anunciou a instalação de 60 sirenes que soarão quando o perigo de um temporal for detectado. Algo como os avisos que ecoavam nas cidades atacadas por aviões na Segunda Guerra Mundial. Um terror sonoro que pode surtir um efeito satisfatório, mas também pode piorar a situação porque no primeiro aviso, possivelmente, o caos será instalado.
Um bom exemplo de planejamento que surtiu um efeito quase satisfatório pode ser verificado aqui no Recife que, apesar de sofrer com graves problemas de alagamentos, livrou-se das gigantescas enchentes que arrasaram a cidade nas décadas de 60 e 70 construindo barragens. A retenção do grande volume de água foi o início de uma grande ação que teve suas etapas subsequentes prejudicadas por rivalidades políticas. Recife sofre hoje com os alagamentos que já deveriam ser coisa do passado se os trabalhos iniciados com a construção das barragens tivessem seguido adiante.
Enquanto isso, aqueles que têm a infelicidade de morar em áreas de risco vivem à sombra de uma tragédia (climática) anunciada. É o fardo da miséria aliado ao descaso.
PROFESSOR OBJETO

A escola em que eu estou lotado foi transformada em “escola de referência” e experimentou, em um primeiro momento, o regime de ensino semi-integral. Assim como eu, vários professores não puderam se candidatar a uma vaga porque tinham outras ocupações, afinal, não dá para viver com o vergonhoso salário que nós ganhamos. Para que os professores do quadro não perdessem o direito adquirido de trabalharem na escola em que foram lotados após prestarem concurso público, muitos migraram para o “Projeto Travessia” que trabalha com correção de fluxo.
Não foi fácil, uma batalha foi travada e a direção da escola conseguiu manter o contingente de professores efetivos que foi distribuído em várias turmas. Viajamos duas vezes cumprindo os períodos de capacitação previstos para os dois primeiros módulos. Agora, qual não foi a nossa surpresa, durante as férias, recebemos a notícia que todos os professores efetivos seriam impedidos de continuar no Travessia.
Pela segunda vez, nós teremos que brigar para continuarmos lecionando no local em que fomos legalmente lotados. Inconformados com a situação, os prejudicados, obviamente, começaram a se mobilizar e protestar. Vários professores contratados entenderam que essa mobilização era contra eles. Muitos reagiram com frases sarcásticas e acusações infundadas aos professores efetivos. A professora Silvana Barros, depois de ler a convocação que os professores do Amaury de Medeiros estavam fazendo, me enviou um e-mail que dizia o seguinte:
“NA REALIDADE ACREDITO QUE A CULPA É DE ALGUNS PROFESSORES QUE NÃO CUMPRIRAM SUAS OBRIGAÇÕES E DA DEMANDA DE PROFISSIONAIS NAS ESCOLAS. RECLAMAR NÃO ADIANTA AGORA, JÁ QUE ORDEM FOI REPASSADA P/ SER CUMPRIDA. QUE TAL VC FALAR DIRETAMENTE COM O SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO?”
Recebi vários outros e-mails com tons menos agressivos, mas, que na essência, comungavam com o discurso acima. Criou-se um clima de animosidade que não deveria existir. Contratados ou concursados, somos todos professores, ninguém questionou isso. O que todos nós estamos questionando é a legalidade do ato (sumário) que está substituindo professores que prestaram concurso – e por isso têm direitos adquiridos – por profissionais contratados.
Todo mundo sabe o quanto custa a um professor encontrar uma escola próxima de sua residência e que tenha carga horária disponível. A questão do horário é outra complicação porque, como acentuei acima, todos nós temos outros empregos para poder vivermos com um pouco mais de dignidade. Nada disso é levado em conta por quem tem o poder de decidir.
Aos professores, que estão sendo tratados como objetos que podem ser mudados de lugar a qualquer hora, resta lutar e enfrentar com dignidade as acusações infundadas, as frases sarcásticas e os atos arbitrários.
A REALIDADE NÃO TEM GRAÇA

Parte da magia da ficção reside, justamente, na incrível possibilidade de subverter a ordem real das coisas. Mas, contraditoriamente, quando o assunto é o “final” da história, tudo tem que dar certo. Como nas historinhas de criança, a máxima “e foram felizes para sempre”, tem que imperar. Pouquíssimos aceitam finais que se afastem dessa premissa.
Em um dos episódios da sexta temporada do seriado CSI, um jovem foi absolvido de uma acusação de assassinato. A irmã do réu, uma superdotada de apenas doze anos, criou uma história muito bem elaborada e conseguiu convencer os jurados. No final do episódio, ela própria revelou a farsa para a policial Sidle falando-lhe, em tom de ironia, ao pé do ouvido. No universo das séries americanas, o bandido escapar no final é comum, o público já aprendeu a lidar com isso.
Nas novelas brasileiras o vilão escapar e o mocinho morrer no final é algo quase que inaceitável. Dois exemplos clássicos:
A morte do mocinho: Na novela Pecado Capital (1975 – Rede Globo), o protagonista da história, Carlão (Francisco Cuoco), tombou sem vida no último capitulo causando uma comoção jamais vista no mundo da teledramaturgia. Tudo bem que Carlão era uma espécie de anti-herói, afinal, havia ficado com uma mala cheia de dinheiro que não lhe pertencia, mas era o galã da novela e o público não aceitou sua morte. A imagem dele caindo abraçado com a mala de dinheiro (clique no título desse bloco e assista) ao som de “Pecado Capital” (Paulinho da Viola) entrou para a história da tevê brasileira.
A fuga do bandido – Na ótima novela “Vale Tudo” (1988 – Rede Globo) o vilão Marco Aurélio (Reginaldo Faria), depois de aprontar com todo mundo, fugiu num jatinho com sua mulher, a assassina de Odete Roitiman, e ainda deu uma banana para o Brasil (Clique no título desse bloco e assista). A polêmica imagem revoltou os puritanos gerando até protestos na imprensa.
Essa discussão voltou à tona quando Sílvio de Abreu “matou” Diana na novela “Passione” (Rede Globo). A personagem fazia parte do grupo dos mocinhos e, segundo o julgamento do público, não deveria morrer. As críticas em torno da morte de Diana levou Sílvio de Abreu a brincar com a história: ele simulou a morte do protagonista Toto e experimentou uma avalanche de criticas. Como hoje em dia a mídia está presente até no set de gravação, a farsa foi revelada antes de ir ao ar. Ainda dentro da mesma discussão, os sites especializados em tevê anunciam que a dupla de vilões, Clara e Fred, escapará sem punição.
A dedução a que se chega após essa breve análise é que a realidade parece não ter muita graça para quem vai ao cinema ou liga a tevê. Mergulhar na ficção e esquecer os problemas da vida, ao que parece, é uma terapia para o telespectador. Viva o faz de conta!
RELICÁRIO VOL. 04 – CAVERNA DO DRAGÃO (DUNGEONS & DRAGONS)

Outra curiosidade, envolvendo a série, foi o suposto final que teria sido gravado e nunca fora ao ar. Segundo essa teoria, os garotos, na verdade, já estariam mortos desde o primeiro episódio, devido a um acidente no carrinho de montanha russa no qual embarcaram. Os meninos teriam sido mandados ao Inferno sendo o Mestre dos Magos e o Vingador, as duas faces de um mesmo ser demoníaco, capaz de oferecer esperança e temor para aumentar o sofrimento deles. Mark Evanier, um dos criadores da série, desmentiu esse boato: "Isto é totalmente falso! Apesar de vários possíveis finais terem sido discutidos, nenhum último episódio foi produzido de fato." O fato é que essa série é cultuada e muita gente por aí afora tem a esperança de que, algum dia, façam um remake, claro, mantendo as características originais.
Sinopse
A abertura do primeiro ano da série mostra um grupo de jovens em um parque de diversões, embarcando em uma montanha russa chamada Dungeons & Dragons. Contudo, durante o passeio um portal se abre e traga o carrinho, onde eles estavam, para um outro mundo, no qual aparecem trajando outras roupas e recebendo logo em seguida armas mágicas de alguém que se apresenta como Mestre dos Magos. A partir daí, os jovens passam por uma série de aventuras em busca de uma forma de voltar para casa, nas quais o Vingador, um mago maléfico, tenta a todo custo pegar as armas mágicas dos jovens com a intenção de destruir o Mestre dos Magos e tomar todo o reino.
Ficha Técnica
Nome Original: Dungeons & Dragons
Nome no Brasil: Caverna do Dragão
Ano de produção: 1983
Emissora: CBS
Criador: Gary Gigax
Roteiros: Mark Evanier e Michael Reavens
Produtora: Marvel Productions
Número de Episódios: 27
Personagens:
Hank: o arqueiro
Eric: o cavaleiro
Diana: a acrobata
Sheila: a ladra
Presto: o mago
Bobby: o bárbaro
Mestre dos Magos: o mágico do bem
Vingador: o vilão
Uni: o unicórneo mágico
Tiamat: dragão de cinco cabeças
Demônio das Sombras: lacaio do vingador
OS SONS DO METRÔ E UM PEDIDO DE CANONIZAÇÃO

“Vou não, quero não, posso não, minha mulher não deixa não”, essa pérola de verso ecoa pelos quatro cantos da cidade e é um mega-hit dos insuportáveis celulares do metrô. Mas não é só isso, disputando (no mesmo volume) com os celulares tem os vendedores de balas, pipocas, tem os pregadores religiosos e os pedintes com discursos decorados.
Para cada uma dessas agressões sonoras, existe uma justificativa sentimental que, em geral, se sobrepõe a razão. “É melhor pedir do que roubar”, “Eu estou trazendo a palavra de Deus”, “Compre um pra me ajudar” e por aí vai. Sorte que o meu trajeto é curto, apenas seis estações. Imagino o sofrimento de quem pega o metrô no ponto inicial e desce no centro. Tortura!
Por essas e outras que estou propondo nesse breve post a canonização de Bernhard Grill, Karl-Heinz Brandenburg, Thomas Sporer, Bernd Kurten e Ernst Eberlein, os pais do mp3. Parece ironia, afinal, os celulares insuportáveis se utilizam dessa tecnologia, mas, assim com eu, muitos são salvos do "inferno" com um simples fone de ouvido. E tenho dito!