O Morro
1 - Aquele que habita um morro altíssimo
À sombra de uma cidade viverá
2 - Direi do morro: nele, ó meu Deus,
faço o meu refúgio, a minha fortaleza
mesmo sem confiar.
3 - Porque ele me livrará da forca do aluguel
e dos impostos perniciosos.
4 - Ele me cobrirá com suas árvores
e abaixo dos seus muros de arrimo, acho, estarei seguro;
as suas encostas serão o meu escudo e arma.
5 - Não temerei as batidas noturnas,
nem bala que voe de dia.
6 - Nem viaturas que andem na escuridão,
nem a falta de comida que assola o meio-dia.
7 - Mil barracos surgirão do meu lado
e dez mil a minha direita,
mas o meu não será atingido.
8 - Somente com os teus olhos enxergarei
e verei a violência que vem da miséria.
9 - Mas tu, ó morro, és o meu refúgio,
altíssima é a minha habitação.
10 - Nenhuma mão me segurará,
nem benefício algum chegará ao meu barraco.
11 - Porém, aos meus anjinhos darei ordem a respeito do morro,
para que o guardem em todos os seus inclinados caminhos.
12 - Eles o sustentarão nas suas mãos
para que não role junto com as pedras.
13 - Pisarei no leão do imposto
e calçarei os meus filhos
com o dinheiro do inútil leão tributador
14 - Também aquela que apaixonadamente me amou
eu não esquecerei; po-la-ei no alto do morro
porque carrega o meu nome e o meu amor
15 - Se o morro fosse gente eu diria:
estarei contigo na angústia,
dela te salvarei e glória te darei.
16 - Dar-lhe-ei abundância de dias da minha vida,
será a minha salvação.
ED CAVALCANTE
23/03/94