
-->
Um capítulo importante da história do cinema brasileiro, é pouco conhecido do grande público. Trata-se do “Ciclo do Recife”. Pioneiro na introdução da sétima arte no Brasil, esse movimento também marcou seu pioneirismo na introdução do cinema mudo regionalista em terras brasileiras. Os grandes nomes dessa fase inicial do cinema pernambucano foram: Edson Chagas, Gentil Roiz, Ary Severo e Jota Soares. O Ciclo do Recife teve importância não só na esfera cinematográfica. Como os filmes dessa época eram quase todos importados dos Estados Unidos, o público não se identificava com os temas abordados que eram, naturalmente, relacionados ao país de origem. No movimento pernambucano o cinema brasileiro começou a ganhar identidade. Entre 1923 e 1931, 18 filmes (Longas e documentários) foram produzidos. Várias produtoras surgiram a partir desse movimento. As mais importantes foram: a “Aurora Filmes”, sediada no Recife, que além de filmes produzia fitas de enredo, sendo a primeira do Nordeste nesse ramo e uma das primeiras no Brasil, a “Olinda Filmes” e a “Vera Cruz”.
Outro efeito do Ciclo do Recife foi o surgimento de importantes salas de projeção. Os cines Moderno, Helvética, Royal e Phaté, todos já extintos, destacavam-se pelo luxo e tradição. O Cinema do Parque, hoje transformado em Teatro, resiste como importante espaço cultural do Recife.
O Ciclo do Recife, além de pioneiro, foi o mais produtivo. Segue abaixo a filmografia completa dessa importantíssima página do cinema brasileiro:
Filmografia do Ciclo do Recife
RETRIBUIÇÃO (1923)
Argumento, roteiro e direção de Gentil Roiz
PERNAMBUCO NO CENTENÁRIO DA
CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR (1924)
Roteiro e direção: Hugo Falangola. Camera: J. Cambiere.
VENEZA AMERICANA (1924)
Roteiro e direção: Hugo Falangola. Camera: J. Cambiere.
UM ATO DE HUMANIDADE (1925)
Argumento e direção: Gentil Roiz
JURANDO VINGAR (1925)
Argumento e roteiro: Gentil Roiz.
AITARÉ DA PRAIA (1925)
Argumento e roteiro: Ary Severo.
GRANDEZAS DE PERNAMBUCO (1925)
Organização geral: Chagas Ribeiro.
A PEGA DO BOI (1925)
Direção: Edson Chagas
CARNAVAL PERNAMBUCANO (1926)
Roteiro e câmera de Edson Chagas.
A FILHA DO ADVOGADO (1926)
Argumento de Costa Monteiro. Direção: Jota Soares
CHEGADA DO JAHÚ A RECIFE (1927)
Orientação geral: Alcebíades Araújo - Vera Cruz Filme
CHEGADA DO JAHÚ A RECIFE (1927)
Orientação geral: Edson Chagas – Liberdade Filme
DANÇA, AMOR E VENTURA (1927)
Argumento, roteiro e direção: Ary Severo.
REVEZES (1927)
Argumento, roteiro e direção: Chagas Ribeiro
SANGUE DE IRMÃO (1927)
Argumento, roteiro e direção: Jota Soares.
DESTINO DAS ROSAS (1929)
Orientação de Luiz Maranhão. Direção técnica de Ary Severo.
NO CENÁRIO DA VIDA (1930/31)
Argumento e roteiro de Jota Soares e Mário Furtado de Mendonça.
Direção: Luiz Maranhão.
ODISSÉIA DE UMA VIDA e AUDÁCIA DO CIÚME (1931)
Filmes inacabados, de Alfredo Carneiro (Fred Junior) - Iate Filme
O que dizer de alguém que bebeu demais, fumou demais e transgrediu demais ? Para um pobre mortal esses seriam antecedentes comprometedores. Mas como para os ídolos tudo é permitido, essas “qualidades” viram motivo de exaltação. Por que achar normal a trajetória suicida do grande Cazuza? Sou contemporâneo desse artista, um dos meus ídolos de infância desde os tempos do Barão Vermelho. Em 2004 os dramas de vida dele chegaram ao cinema. Vi o filme e não consegui ver a “beleza” que quase todos exaltavam. Aquele relacionamento mãe e filho, o consumo desenfreado de drogas, a falta de respeito para com as pessoas, tudo isso me pareceu como o enredo de uma tragédia que muitos insistem em enxergar como trajetória brilhante. A música de Cazuza, essa sim, é brilhante.
Esse culto às vidas desesperadas não é coisa de hoje. O mito nasceu em 1955 quando, no auge da fama, o ator James Dean morreu num acidente de carro. Mas a massificação da exaltação às vidas desesperadas ganhou força mesmo em 1970/1971 quando, numa coincidência incrível, vários artistas cujos nomes (assim como James Dean) começavam com a letra jota – Jime Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrisson, (Brian) Jones – morreram aos 27 anos de idade. Todos eles com uma trajetória de vida muito parecida. Excessos, dramas pessoais e muito talento. Todos eles viraram mito e são cultuados até hoje. No rastro desses grandes artistas vieram outros nomes como Renato Russo, River Phoenix (ator – Jovem Indiana Jones), Kurt Cobain (Nirvana), Cássia Eller, Michael Hutchence (Inxs) e mais recentemente o ótimo ator Heath Ledger.
No dia 05 de janeiro do ano que vem, a Rede Globo levará ao ar uma história de vida que se encaixa perfeitamente no tema central desse post, “Maysa, Quando Fala o Coração”. Sobre a trajetória de Maysa, sintetizou o autor Manuel Carlos: “Ela bebeu demais, fumou demais, amou demais e transgrediu demais. Fez tudo demais”. Virou mito e será eternizada agora com essa série de tv.
Sempre que tento entender esses nossos ídolos esbarro em um rosário de dúvidas: será que eles produziriam mais se levassem uma vida normal? O que é uma vida normal, trabalhar em um escritório oito horas por dia ou viver chapado vendo borboletas azuis? Cada um escolhe o seu caminho e a vida segue, umas mais curtas, outras mais longas.