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Na semana passada tive um grande susto que me alertou para uma velha questão: o bairrismo.O jornalista Chico Pinheiro abriu o Jornal Nacional do dia 14 com a manchete:”morre o maior intérprete do carnaval brasileiro”. Pensei: Claudionor Germano (maior cantor de frevos de Pernambuco) morreu! Corri pra frente da tv e vi que falavam de Jamelão, o cantor de samba. "Como pode ser o maior intérprete do carnaval brasileiro se ele jamais cantou frevo?" ( Perguntei-me vendo a reportagem).
O carnaval de Olinda e Recife é gigantesco e importantíssimo. E o carnaval baiano? E o carnaval amazonense com os seus dois bois? Será que o mestre Jamelão brilhou em alguma dessas festas? Lembrei-me então do Jomar Muniz de Brito (cineasta e professor pernambucano) criticando o livro de Zuenir Ventura: “ele vê 68 como uma coisa apenas carioca” .Lembrei-me dos livros e sites da internet que colocam a “Rádio Sociedade” do Rio de Janeiro, fundada em 1923, como a primeira do Brasil e ignoram a “Rádio Clube de Pernambuco” fundada em 1919 (com registro da época para comprovar). Até Juca Kifouri, que sempre ignorou o futebol do nordeste, andou escrevendo sobre a exacerbação do bairrismo do centro-sul. Jamelão foi o maior intérprete do carnaval carioca, assim como Claudionor Germano é o maior em Pernambuco, Armandinho Dodô e Osmar na Bahia... etc.,etc. O Brasil é muito maior do que eles pensam.
De tempos em tempos, tenho, com algum amigo, um embate em que o tema é a televisão. As pessoas sempre me criticam porque eu falo que assisto a tv. Na verdade, eu me considero um produto da tv. Cumpro esse ritual de me prostrar (hoje com muito menos gosto que antes, é certo) diante da telinha desde que me entendo por gente. Se algum dia eu decidir escrever as minhas memórias, um capítulo será dedicado a esse assunto. Como eu poderia esquecer as incontáveis aventuras de “Shazan & Xerife” ? E o “Vila Sésamo” ? Educativo e divertido como poucos.
Conheço todos os personagens de “Hanna- Barbera”, os heróis da Marvel, as grandes novelas da década de 70. Contrariando a tese de quem critica a tv, eu fui à escola, depois à universidade, depois me pós-graduei, passei em concursos, etc., etc. Serei eu uma exceção à regra? Claro que não! O mundo é recheado de estereótipos, colocar a tv como grande vilã da cultura é mais um. O que falta nesse país é investir mais em educação. Quem freqüenta a escola e se informa saberá distinguir o que é certo ou errado sem precisar da opinião do Arnaldo Jabor. A seguir, cenas do próximo capítulo.... rsss
Nos últimos meses uma questão vem me tirando o sono: por que eu ainda sou professor? Esse dilema nada tem a ver com a questão salarial. O problema todo está na sala de aula. O quadro é absolutamente desolador. Os alunos não encaram mais a escola como algo importante. A sala de aula é uma arena de guerra. Constantemente o professor é interrompido por piadas, brincadeiras de mau gosto, todo tipo de insultos. O aluno sente-se no direito de desrespeitar o mestre e os poucos colegas que querem estudar. A escola está se transformando num imenso parque de diversões. O tempo vai passar e esses “alunos” que não compreendem a importância da escola, vão ficar pelo caminho. Pior, talvez sejam vencidos pela vida.
Fora dos muros da escola, o comportamento moleque da sala de aula é visto como comportamento marginal. O patrão não vai ter a paciência que o professor tem. O professor põe pra fora da sala, a polícia põe pra dentro da cela. Fora dos muros da escola o garoto que picha as paredes, que quebra as bancas, vai ser tratado como delinqüente. Repito, a vida é duríssima, não tolera a falta de seriedade. Você quer saber por que eu ainda sou professor? Bom, acho que é porque eu fui um aluno peralta que descobriu a tempo o valor da escola. A esperança de que meus alunos também descubram me faz insistir nesse duro ofício.