O
que estará pensando o garoto Alcides onde quer que esteja agora? Atrevo-me a imaginar: “Seria mesmo querer demais, tendo nascido pobre
na periferia do Recife (segundo as estatísticas, a cidade mais
insalubre para os jovens entre 15 e 25 anos no Brasil), me formar
biomédico. Numa cidade como a minha, os garotos pobres da periferia
aparecem, costumeiramente, naqueles noticiários do meio-dia, que
respingam sangue nos telespectadores.
Devem estar falando de mim por
lá agora. Um velho lugar-comum diz que 'felicidade de pobre dura
pouco'. Imagine o quanto dura a felicidade do pobre miserável. Dura
menos ainda. Estava me sentindo um herói, afinal, peitei a miséria
e ignorei as estatísticas. Mas não queria ser mártir. Agora, depois
da tragédia, muitos falam que eu deveria ter saído do lugar onde
nasci. Sair para onde? Em que lugar do Recife pode-se viver com
tranquilidade? Em que bairro eu poderia me sentir feliz e seguro?
Bem sei que se lembrarão do meu nome por uns dias, desejarão a morte
dos que me mataram por semanas e se esquecerão de mim em breve. Virarei
mais um nas estatísticas”
Alcides
Nascimento Lins, 22 anos, garoto pobre da periferia do Recife, filho
de uma catadora de lixo, aprovado em primeiro lugar entre os
estudantes de escolas públicas que prestaram vestibular na UFPE,
seria diplomado biomédico no mês de setembro desse ano. Foi
brutalmente assassinado, em casa, diante da mãe e de duas irmãs.
Era madrugada, Alcides estava estudando quando foi morto. Seria mesmo querer demais!
Comments
3 Responses to “SERIA MESMO QUERER DEMAIS!”
Muito bom mesmo Edvaldo... parabens pelo post...
Que Deus o acolha em um bom lugar...
Meu Deus.
Que país sem noção esse que vivemos.
Obrigado, Fabrícia. Essa tragédia é uma triste marca da nossa pobre sociedade pernambucana.
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