CENSURA À MODA BRASILEIRA

Ontem vi pela tevê que a escola de samba carioca, Beija-Flor, vai homenagear seu ex- carnavalesco, “Joãozinho Trinta”, falecido em Dezembro  passado. A escola vai reeditar o “Cristo Mendigo”, censurado em 1989. Desta feita, a estátua desfilará sem o pano negro. O segredo que a retirada do pano negro revelará é guardado a sete chaves. O interessante nessa história é que a censura a Joaozinho aconteceu numa época em que a redemocratização era muito celebrada. O veto à alegoria da Beija-flor foi uma intervenção religiosa, não teve caráter político. O Cristo de Joãozinho contrariou algum ponto do Índex da Igreja.

O Brasil teve outros exemplos de espasmos de censura em tempos de redemocratização. Em 1985, o filme “Je Vous salue, Marie”, de Jean-Luc Godard, uma das atrações do Fest Rio daquele ano, teve sua exibição vetada por pressão da CNBB. Mais uma vez a força da Igreja Católica, apoiada pela hipocrisia do poder público da época, cerceou uma obra artística. O filme foi exibido para pequenos grupos que peitaram a decisão da justiça mas, na prática, ficou de fora da mostra retrospectiva, em homenagem a Godard, planejada para o Fest Rio de 1985.
Vinte e cinco anos depois, mais um evento de censura aconteceu no Rio de Janeiro. Dessa vez pela força de um partido político. Numa ação movida pelo DEM, o filme sérvio “A Serbian Film – Terror Sem Limites”, teve sua exibição vetada. A juíza Katerine Jatahy Nygaard, da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, acatou a ação que alegava que o filme fazia apologia a crimes contra a criança e a pedofilia. O fato é que a obra foi censurada. O inalienável direito de escolher, coisa elementar em qualquer sociedade que se diz organizada, foi cerceado.

O mais absurdo é que essas intervenções do poder instituído não aconteceram em momentos em que o Brasil vivia sob a tutela de um regime ditatorial. Essa é uma censura que segue entranhada no modelo de democracia que o Brasil vem (des)construindo desde 1985, quando os militares saíram de cena. E por falar em ditadura, na última terça feira (3), desembarcou em Pernambuco o padre Victor Miracapillo, que teve seu visto renovado depois de trinta e dois anos do seu desterro. Em 1980, quando era pároco de Ribeirão, cidade da mata sul de Pernambuco, o padre Miracapillo recusou-se a celebrar uma missa em homenagem ao dia da independência do Brasil. Um movimento encabeçado pelo ex-deputado federal (atual prefeito do município de João Alfredo) Severino Cavalcanti, resultou na expulsão do padre Victor do Brasil.

Ontem a noite, de volta à cidade de Ribeirão, o padre Victor celebrou uma missa em homenagem a decisão do Ministério da Justiça que revalidou o seu visto. A censura teima em permanecer viva na sociedade brasileira, mas  a revogação de atos extremos como a expulsão do padre Victor, serve de alento para  acreditarmos que algum dia, talvez, o direito de escolha seja exercido sem a intervenção do Estado.

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