
Já escrevi aqui sobre os efeitos da modernidade, mas ando meio paranóico. Descobri, nos últimos dias, que vários dos meus prazeres, de tantos anos, foram afetados pelo avanço tecnológico. Não, não estou sendo catastrófico, é meramente uma constatação. Alguns exemplos:
*Ir ao cinema: não consigo mais assistir a um filme no cinema. Primeiro porque eles (os cinemas) não existem mais. O som é perfeito, double surround, salas modernas, mas não são cinemas. O São Luiz era um cinema. Mas não é só o espaço!Desde a popularização do vídeocassete me acostumei a ver filmes em casa. Tenho o vício de ver uma mesma cena várias vezes. Volto para entender um diálogo um pouco mais complexo. No cinema não tem isso, é como ver o jogo no estádio: se perde o lance só vai ver de novo na tv. Ficar confinado num cubículo (mesmo hi-tec) sem charme, para mim, não é diversão.
*Pesquisar em livros: há dois anos fiz uma pós-graduação. Quase tudo que pesquisei foi garimpado na internet. Percebi (e fiquei perplexo) que o saudável e prazeroso hábito de folhear livros está sumindo do meu cotidiano. Construir textos no computador com um arquivo monstruoso chamado internet bem ao seu alcance, virou rotina. Aquela referência que embasa sua idéia surge na tela com apenas um clique. Você vai ao passado e volta num instante. Você vê o passado, não mais imagina ou recorda. Tudo isso causa dependência.
*Ouvir música: não ouço mais rádio. Antes sintonizava as rádios alternativas de mpb, rock, flash back. Bom, agora eu faço uma programação no meu mp3, coloco 300 músicas escolhidas a dedo e escuto enquanto estou em trânsito. Ou seja, eu ando com minha rádio no bolso. Ouvir música no Mp3 gera ansiedade, percebi. Às vezes a canção nem termina e você já clica pra ouvir a próxima. Esquece que as músicas foram selecionadas por você mesmo e sai procurando “as melhores”. Eu, que ainda tenho elepês guardados a sete chaves, não estou conseguindo nem ouvir mais os cedês.
Esses três exemplos mostram que até ficar doente hoje em dia é diferente. Isso mesmo, estou doente e não sei qual especialista procurar. O neuro, o psicanalista, o analista de sistemas, o guru...Quem me ajuda?