Hoje,
véspera de Natal, com o intuito de escrever esse post, fui rebuscar minhas
referências dessa data comemorativa. A lembrança mais remota que tenho dessa
época de festa é do início da década de setenta, eu era um garotinho, uns cinco
anos, acho, e ficava animadíssimo com a montagem da “vinatal”, era assim que eu
chamava a árvore de Natal. Não me reporto a esses detalhes através de relatos de
terceiros, são lembranças minhas que permanecem vivas apesar de longínquas.
Lembro-me
que meu tio Janja - irmão da minha mãe – era o técnico da montagem, isso porque
o pisca sempre dava problemas. Antigamente tudo custava caro, uma lampadinha queimada
era um tormento. Tio Janja retirava a lâmpada queimada e
colocava papel laminado retirado de maços de cigarros. Ele parecia o McGywer em ação. Incrédulo eu
via a série de luzes voltar a piscar depois da gambiarra implementada pelo
meu tio. A explicação era bem simples: quando uma das lâmpadas apagava, a série
era interrompida e o resto não funcionava. O papel laminada, com sua cobertura
metálica, introduzido no bocal, reconectava a série e tudo voltava ao normal
como num passe de mágica.
O
Natal da minha infância também tem um referencial fortíssimo chamado “Festa do
Ypiranga”. Era uma tradição nos arredores onde eu morava. Nas semanas
antecedentes ao Natal, o “Parque de Diversões Democrata” se instalava numa área
militar próxima a estação ferroviária do Ypiranga, e tudo era festa. Ainda hoje
o parque funciona, já está armado, mas não tem a tradição e o brilho do
passado, os tempos são outros. Hoje em
dia ele funciona bem perto do antigo local, na margem oposta da linha férrea,
dentro do campo do Clube Ferroviário.
Quando
criança eu nunca entendia porque quase todas as referências do Natal remetiam
ao inverno, se dezembro era o mês do verão. Descobriria mais tarde que o mês de
dezembro no hemisfério norte é o mês do inverno. O Papai Noel, o pinheiro, a
neve, tudo era de lá. Quando comecei a estudar e a burilar o meu intelecto, "aprendi" que esse Natal com referências estrangeiras
era errado, o certo era um outro que me foi apresentado.
Aprendi
sobre os autos de natal, as manifestações folclóricas. A festa estrangeira das minhas lembranças de infância eu tentava deixar de lado. Um belo dia,
ironicamente assistindo a uma aula espetáculo de um bastião da cultura nordestina,
Ariano Suassuna, aprendi uma grande lição. Disse ele, no meio da aula: ”Durante
uns vinte anos eu tomei cafezinho no trabalho só porque os outros diziam que
era bom, em casa eu nunca tomava. Deixei de lado esse habito que era dos outros, não meu”.
Percebi,
a partir desse valioso exemplo, que o Natal “certo” que me apresentaram, era certo para os outros, o Natal errado, com neve, Papai Noel,
Árvore, Manjedoura, esse era o da minha lembrança. Ainda tem aqueles chatos que
pregam que o Natal refere-se apenas, e tão somente, à questão religiosa. Tudo
bem, respeito, mas minhas lembranças são minhas, ninguém pode mudar. Minha árvore
continua sendo armada todo ano, para mim é um momento de felicidade. Feliz
Natal para todos!