








Todo mundo no Brasil afora conhece o clássico “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga. Sempre que essa música é citada apenas o nome do velho Luiz é lembrado. Humberto Teixeira, co-autor da obra é sempre esquecido. Além de “Asa Branca”, Humberto compôs: “Assum Preto”, “Baião”, “Juazeiro”, “No Meu Pé de Serra” “Paraíba (Mulé Macho)”, “Que Nem Jiló”, “Respeita Januário”, só pra citar as mais conhecidas.
Outro protagonista disfarçado de coadjuvante foi o George Harrison. Sou fã incondicional desse cara. Era, de longe, o beatle mais equilibrado. Sempre viveu à sombra da marca “Lennon McCartney”. Muito injusto.Ele era, no mínimo, do mesmo nível da famosa dupla. Escreveu clássicos como: “Somenthing”, “Here Comes The Sun”, “While my Guitar Gently Weeps”, e “Taxman”. Na época dos compactos de vinil apenas uma vez Harrison teve música incluída no lado “A”: Somenthing/ComeTtogether. Pouco, pra um artista tão importante.
No cinema, o exemplo mais marcante de um protagonista que sempre aparece como coadjuvante é o mestre Morgan Freeman. Com quase 50 filmes no currículo e personagens marcantes, ele várias vezes foi indicado ao Oscar como ator coadjuvante. Foi assim em “Street Smart” (1987) e em “Menina de Ouro” (2004). Nesse último ele sagrou-se vencedor, ganhando também o Globo de Ouro.
Sei que há muito mais, essa lista de injustiças é grande, mas esses exemplos já dão a medida do que falo. O status e o reconhecimento nem sempre são proporcionais ao talento.
Na semana passada tive um grande susto que me alertou para uma velha questão: o bairrismo.O jornalista Chico Pinheiro abriu o Jornal Nacional do dia 14 com a manchete:”morre o maior intérprete do carnaval brasileiro”. Pensei: Claudionor Germano (maior cantor de frevos de Pernambuco) morreu! Corri pra frente da tv e vi que falavam de Jamelão, o cantor de samba. "Como pode ser o maior intérprete do carnaval brasileiro se ele jamais cantou frevo?" ( Perguntei-me vendo a reportagem).
O carnaval de Olinda e Recife é gigantesco e importantíssimo. E o carnaval baiano? E o carnaval amazonense com os seus dois bois? Será que o mestre Jamelão brilhou em alguma dessas festas? Lembrei-me então do Jomar Muniz de Brito (cineasta e professor pernambucano) criticando o livro de Zuenir Ventura: “ele vê 68 como uma coisa apenas carioca” .Lembrei-me dos livros e sites da internet que colocam a “Rádio Sociedade” do Rio de Janeiro, fundada em 1923, como a primeira do Brasil e ignoram a “Rádio Clube de Pernambuco” fundada em 1919 (com registro da época para comprovar). Até Juca Kifouri, que sempre ignorou o futebol do nordeste, andou escrevendo sobre a exacerbação do bairrismo do centro-sul. Jamelão foi o maior intérprete do carnaval carioca, assim como Claudionor Germano é o maior em Pernambuco, Armandinho Dodô e Osmar na Bahia... etc.,etc. O Brasil é muito maior do que eles pensam.