SER PROFESSOR EM PERNAMBUCO, UMA PROVAÇÃO.

Em 1941, os alemães invadiram a cidade de Lviv, na Ucrânia, e promoveram um impiedoso massacre. Cerca de 45 professores e seus familiares foram sumariamente executados. Esse genocídio  fazia parte de uma política de limpeza étnica que os alemães chamavam de “Operação Especial de Pacificação”. Não bastava perseguir e prender as cabeças pensantes, o extermínio foi a saída para aniquilar uma possível insurgência intelectual.

Dando aulas de história, já falei diversas vezes sobre esse triste episódio. Nos últimos meses, aqui no Estado de Pernambuco, além das agruras cotidiana do duríssimo ofício de lecionar em escolas públicas, nós professores, temos que brigar (muito) para que os direitos adquiridos no concurso que prestamos sejam respeitados. Primeiro fomos informados (durante as férias) que os professores efetivos seriam substituídos por contratados. Nós não poderíamos trabalhar em turmas de correção de fluxo. Muitos, incompreensivelmente, não lutaram por seus direitos e hoje estão perambulando de escola em escola tentado refazer seus horários.

Muitos dos que brigaram conseguiram fazer valer os seus direitos e permaneceram nas suas escolas de origem. Houve um encontro com o Secretário de Educação, Anderson Gomes, e ele garantiu, textualmente, que o “professor concursado, como em qualquer lugar do mundo, teria seus direitos adquiridos”. Ao menos nos foi “permitido” continuar no Projeto Travessia e concluir os trabalhos iniciados em 2010. Hoje, entretanto, mais um round dessa inaceitável briga foi iniciado. Fomos informados que professores que têm dois vínculos em regência não podem continuar no Projeto Travessia.

Lembrei-me do Massacre de Lviv. Em 1941 os alemães foram menos cruéis. O extermínio rápido e sumário, ao menos, poupou os professores do sofrimento diário a que estamos sendo submetidos. Particularmente me sinto triste e desmotivado. Dias depois do Secretario de Educação garantir, diante de professores e representantes sindicais, que nós teríamos os direitos respeitados, recebemos a notícia de que teremos que interromper um trabalho pela metade. Imagine com que ânimo um professor que passa por essa pressão estúpida entra em sala para trabalhar. Imagine um médico tendo que operar sendo perseguido assim. Imagine um juiz tendo que julgar sendo perseguido assim. Imagine um governador tendo que governar sendo perseguido assim. Imagine, se possível, um professor tendo que lecionar sendo perseguido assim e com o agravante de ganhar muito menos que os profissionais citados anteriormente.

Termino esse breve desabafo com uma célebre frase de Bertolt Brecht que traduz, com perfeição, a indignação que estamos sentindo e serve de incentivo para a luta que virá pela frente: “Não diga 'tudo bem' diante do inaceitável, para que este não passe por imutável”.

CAÇA AS BRUXAS (Season Of The Witch) - NADA DE NOVO

Vira e mexe o cinema rebusca a história dos Cavaleiros Templários. Como é um tema clássico e bastante explorado, os roteiristas buscam caminhos para fugir da mesmice. Em “Caça As Bruxas” (Season of the Witch, 2010) Nicolas Cage interpreta Behmen, um cavaleiro templário em crise que rompe com a Igreja e torna-se desertor. Para fugir da condenação, Behmen e seu fiel amigo Felson (Ron Perlman) aceitam conduzir um garota, acusada de bruxaria pela Igreja, à um monastério onde um ritual de exorcismo aniquilaria a bruxa e salvaria a Europa da Peste.

O filme tenta ser original misturando exorcismo com bruxas, mas não apresenta nenhuma novidade no roteiro e acaba apelando para o entretenimento barato mostrando clichês clássicos: soldado desertor que recebe uma missão quase impossível para se redimir; ponte de corda ligando dois penhascos que se rompe durante a passagem e um demônio alado, entre outras coisas.

Para quem procura um filme para um mero entretenimento, “Caça As Bruxas” se encaixa perfeitamente.


Ficha Técnica

País: EUA

Título original: Season Of The Witch

Duração: 99 minutos

Gênero: Aventura

Direção: Domenic Sena

Estreia: 07 de janeiro de 2011 (EUA) – 21 de janeiro 2011 (Brasil)

RELICÁRIO VOL. 05 - OS PRIMÓRDIOS DAS SÉRIES JAPONESAS

Nacional Kid (Nashônaru Kiddo - 1960)

O encontro entre a cultura pop nipônica e o mundo ocidental tem um marco: Nacional Kid (Nashônaru Kiddo). A série foi lançada no Japão no dia 04 de agosto de 1960 e virou febre no mundo inteiro. O interessante na história desse super-herói oriental é que ele surgiu como um produto de propaganda para uma indústria de eletrodomésticos, “National Eletronics Inc” (Depois, National). Mais comercial, impossível. O fato é que o merchant deu certo e ganhou o mundo. A série chegou ao Brasil em 1964 sendo exibida, primeiramente, pela TV Record com dublagem da AIC/ São Paulo.

A partir de então, o universo japonês alternou inúmeros heróis lendários:

Ultraman (Urutoraman – 1966)

Um clássico das séries japonesas, fez tanto sucesso que gerou franquias em diversos países do mundo. A série, que foi produzida em cores, chegou ao Brasil no final da década de 60 sendo exibida pela extinta TV Tupi. Depois foi atração, de muito sucesso, nas Tvs Bandeirantes, Record e Manchete. Ultraman é uma das séries japonesas mais cultuadas de todos os tempos perdendo apenas para Nacional Kid. Na década de 80 o SBT exibiu um remake da série intitulada “Ultraman Hideki Goh” ou “O Regresso de Ultraman”. Entretanto, a emissora não deixava claro que se tratava de uma reedição e muitos faziam confusão achando se tratar do seriado original.

Ésper (Kousoku Esper - 1967)

A série narrava as aventuras do garoto Hikaru, que perdeu os pais num acidente em que o balão que ele e seus pais viajavam se chocou com uma nave alienígena. Os pais de Hikaru morreram e os et's assumiram as identidades dos mesmos. A série foi exibida com grande sucesso na década de setenta pela TV Tupi.

Vingadores do Espaço (Maguma Taishi – 1966)

Apesar de ser do final da década de 60, foi lançada no Brasil apenas em 1973, na TV Tupi, no programa do Capitão Aza. A série foi exibida, ainda, na TV Record (final da década de 70) e na extinta TV Manchete (década de 80). A produção teve 52 episódios que mostraram a saga dos Vingadores terráqueos que lutavam contra o terrível Rodak (também conhecido como Goa), um invasor alienígena que queria conquistar a Terra.

Robô Gigante (Jainto Robô – Jaianto Robo – 1967)

No Japão, a série criada por Mitsutero Yokayama, teve um relativo sucesso. Já no Brasil virou mania entre os garotos quando era exibida na extinta TV Tupi. A série narrava as aventuras do garoto Daisako (Mitsunobu Kaneko) que depois de sobreviver a um naufrágio, descobriu um robô gigante em uma ilha misteriosa no esconderijo secreto da Big Fire, organização alienígena liderada pelo Imperador Guilhotina. Acidentalmente, Daisako gravou a sua voz nos registros de comando do robô e passou a controlá-lo. Depois de escapar da ilha, o garoto foi recrutado pela Unicorn e, sob o codinome “U7”, passa a combater a Big Fire. As Actions Figure da série lançadas na década de 80 são disputadas por colecionadores do mundo inteiro. Curiosidade: o jovem astro mirim, Mitsunobu Kaneko, que interpretava o herói Daisako, morreu jovem, com apenas 41 anos, em 1997. A série Robô Gigante foi seu único trabalho de destaque.

Ultraseven (Uruturasebun – 1968)

Esse grade clássico das séries japonesas foi o maior êxito da Tsuburaya Productions. O grande diferencial dessa produção foi a temática mais adulta com roteiros mais complexos. Por esse motivo, Ultraseven conquistou um público de uma faixa etária superior a dos seus antecessores. No Brasil, entretanto, a série, que foi exibida pelas tv's Tupi, Bandeirantes e Record, foi um grande sucesso infantil. Hoje em dia é tão cultuada quanto Ultraman e Nacional Kid.

Spectreman (Supekutoruman – 1971)

O seriado nasceu no rastro do sucesso do seu antecessor, Ultrama. Ao contrário dos demais seriados japoneses, o herói Spectreman não era humano e sim um androide que lutava contra um simióide, o poderoso Gori. A produção durou apenas um ano mas foram exibidos 63 episódios com relativo sucesso. A série marcou época porque foi uma das primeiras a abordar temas relativos a excessiva densidade demográfica japonesa. O discurso de abertura da série falava claramente sobre o assunto: "Planeta: Terra. Cidade: Tóquio. Como em todas as metrópoles deste planeta, Tóquio se acha hoje em desvantagem em sua luta contra o maior inimigo do homem: a poluição. E apesar dos esforços das autoridades de todo o mundo, pode chegar um dia em que a terra, o ar e as águas venham a se tornar letais para toda e qualquer forma de vida. Quem poderá intervir? Spectreman!"

No Brasil a série foi exibida na TV Record, no final da década de 70, e no SBT, na década de 80.

Jaspion (Koyoju Tokuso Jasupion – 1985)

Jaspion reinaugurou a nipomania no Brasil, arrefecida no final da década de 70. A série alcançou um estrondoso sucesso no Japão e virou febre no por aqui. Foi reprisada até a década de 90 e hoje está entre as produções japonesas mais cultuadas no Brasil. A tradução literal do nome da séries, “O Caçador de Monstros Jaspion”, dá uma ideia da premissa dos roteiros. A série narrava a saga de um garoto, Jaspion, que foi adotado por um profeta de nome Edim que resgatou o menino depois dele ter sobrevivido a um acidente com uma nave espacial no planeta. A produção seguia a linha maniqueista bem explicitada no eixo central da trama: o Profeta Edin era seguidor da Bíblia Galáctica e preparou Jaspion para combater Satan Goss, o líder do Império dos Monstros.

"O SANTA É DO POVO, COMO O CÉU É DO CONDOR"

A lembrança mais antiga de que tenho do amor que eu sinto pelo Santa Cruz é do longínquo ano de 1970, quando eu contava apenas cinco anos. Morava no bairro da Mangueira (zona leste do Recife) e visitava minha tia, Lena, que ostentava, imponente, um enorme quadro na sala da sua casa. Era um objeto de adoração de toda família Oliveira (todos, absolutamente todos, torcedores do Santa Cruz), um quadro que exibia a belíssima imagem de uma cobra enforcando um leão (ou uma leoa, não sei distinguir esses bichos).

Tem mais: o quadro tinha uma luminária por trás e eu pedia: “tia, liga o quadro”. Ela, obviamente, satisfazia o desejo do jovem tricolor. Era uma época de ouro, time imbatível, orgulho de Pernambuco. A inferência mais lógica para os leigos em “santa cruz mania” é que ser torcedor do clube naquela época era mais prazeroso do que hoje, tempos de entressafra de títulos e boas notícias. Mas, contrariando a lógica cartesiana futebolística, a torcida do Mais Querido vem quebrando recordes e deixando de queixo caído os que contemplam as insofismáveis provas de amor.

Não tente entender mais de quarenta mil pessoas na quarta divisão, o limbo do limbo do resto do futebol. Não tente entender o fato de que, em 2010, ano em que as decepções se repetiram, o Santa foi o campeão brasileiro de público, teve uma média anual superior a do Flamengo e a do Corinthians, os queridinhos da mídia. Não se atreva a tentar entender!

O Arruda lotado sugere uma paráfrase em forma de homenagem ao grande Castro Alves: “O Santa é do povo como o céu é do Condor”. Parabéns e sorte ao meu clube do coração!

Abaixo, um vídeo que fiz em uma das inúmeras vezes que estive no Arruda lotado. Um mergulho na torcida mais apaixonada do mundo. Regozije-se:

HISTÓRIAS DO ROCK PERNAMBUCANO

No final da década de 80, a cena rock do Recife estava numa fase de declínio apesar do grande número de bandas que se apresentava no escasso circuito underground da cidade. A maioria das bandas era composta por jovens de classe média e  classe média alta. Apesar de muitos desfilarem um certo talento, a música parecia ser diversão, não era levada muito a sério.

Nessa época eu trabalhava no Espaço Cultural Arteviva com a queridíssima bruxinha do rock, Lourdes Rossiter. Atenta ao processo de estagnação da cena rock do Recife, Lourdes, através dos seus contatos, conseguiu marcar um encontro que reuniria, além do Arteviva, representantes da imprensa, várias bandas de rock e interessados no assunto. A pauta era: o que fazer para alavancar o pop rock pernambucano?.

O encontro aconteceu no prédio central do Diário de Pernambuco, no coração do Recife. Estavam presentes o jornalista Wilde Portella (Sempre divulgava a agenda de shows do Arteviva e de várias bandas) o apresentador de tevê Paco Fonseca, Eu e Lourdes representando o Arteviva, e várias bandas. Lembro-me de alguns nomes: Orion, Sparta, Ária, Exocet, Mendigos da Corte, Alquimia, Van Filosofia e tantas outras.

Bom, e a reunião? Foi uma das coisas mais frustrantes que eu presenciei na minha vida. A conversa começou com uma cobrança do Jornalista Wilde Portella que questionou, duramente, Lourdes porque, segundo ele, a série programas que a Tevê Jornal produziu, sob a batuta da Arteviva, omitiu o nome dele nos créditos. “Tive uma participação importante na organização e meu nome apareceu, timidamente, uma só vez”, disse o jornalista direcionando suas palavras a Lourdes. Os garotos das bandas de rock ficaram calados ouvindo a queixa que não estava prevista na pauta.

Lourdes fez suas considerações e tentou direcionar a discussão para o tema proposto inicialmente. Não adiantou. Ela havia falado da dificuldade de se ganhar dinheiro com música – sobretudo rock – em Recife. O apresentador Paco Fonseca entrou na discussão com a seguinte frase: “Lourdes, eu sou um ser absolutamente capitalista, não faço nada que eu não ponha o dinheiro como meta...” O cara desandou a falar e os representantes das bandas perceberam que um circo estava se formando e foram saindo um a um.

Antes da sala se esvaziar foi possível perceber mais um entrave que estagnou a cena daquela época: algumas das bandas, apesar do completo anonimato fora da cena alternativa, posavam de estrelas. Tinha muito “filhinho de papai” empunhando guitarra fazendo rock insosso, pasteurizado. Um buraco enorme foi cavado e quase todas as bandas daquela época sucumbiram.

O fracasso dessa fase do pop rock pernambucano acabou enterrando consigo vários músicos talentosos: Cláudio Munheca, guitarrista do Sparta, Paulo di Biasi do Caco de Vidro, Ricardo do “Aria”, o baterista Carioca que tocou em várias bandas e se destacou no Van Filosofia. Algumas bandas dessa fase tinha uma proposta interessante:


A Banda: misturava emepebê com rock com um resultado muito bom.


Ária: uma ótima banda que vivia à procura de um vocalista. Como nunca encontrou, fazia um hard rock instrumental de responsa, com destaque para as guitarras de Ricardo.


Van Filosofia: fazia um pop rock com letras inteligentes e introspectivas. Confira aqui


Mundo Livre S/A: Com uma proposta diferente da que a consagrou no Movimento Mangue, mas com a mesma atitude, a banda (na época já era veterana, eles são de 1984) já dava sinais de que teria uma vida perene.


Merecem menção, ainda, as bandas: Cristal, Cromo, Exocet, Cruor, Orion  e Alquimia.


Curiosidade: A banda Urb Et Orb, que tocava um pop despretensioso, tinha no vocal um certo Chico que, mais tarde, se tornaria um dos maiores ícones da música pernambucana da década de 90 depois de adotar o sobrenome artístico “Science”. Está tudo registrado nas páginas amareladas da riquíssima música pernambucana.

FELINHO E A REINVENÇÃO DE VASSOURINHAS

Não tem jeito, quase todo mundo que escuta uma gravação antiga  do frevo “Vassourinhas”, um ícone centenário do carnaval de Pernambuco, fica de queixo caído com as variações de um certo saxofonista quase desconhecido fora do ambiente dos músicos: Felinho. Foi no longínquo ano de 1944, quando o clássico frevo já contava 37 anos, que o músico  introduziu as famosas variações na regravação de “Vassourinhas” feita para a Rádio Clube de Pernambuco. Sobre esse emblemático momento escreveu, certa vez, o cronista Antônio Maria:

“A grande nota do carnaval não foi a fantasia do seu Abóbora, nem tampouco o Clube Limão de Cheiro... A melhor coisa  carnavalesca, em 1944, foi a gravação feita na PRA-8 (Rádio Clube de Pernambuco), da Marcha Nª1 de Vassouras, com suas estupendas variações, brilhantemente executadas por Felinho e a orquestra de Nelson Ferreira”. A partir de então, criou-se uma licença poética perene e, a cada execução, os solistas brincavam de improvisar.

O toque do genial músico acrescentou um “molho” ao hino do carnaval mais popular do mundo. Mas, quem era  Felinho? Felix Lins de Albuquerque nasceu na cidade de Bonito no dia 14 de dezembro de 1895. Discípulo do seu tio, João Archelau Lins de Albuquerque, que o orientou a ler música em todas as claves, Felinho, desde cedo, ganhou um suporte teórico que marcaria sua vida como músico. Com apenas quinze anos iniciou sua carreira de regente de bandas em diversas cidades do interior de Pernambuco.

Além da enorme contribuição como músico do carnaval, Felinho tem no seu currículo o mérito de ter inaugurado, tocando flauta, a Orquestra Sinfônica do Recife em 1931. Também era compositor. Suas principais obras foram os choros “Amoroso", "Apaixonado", "A Vida é um Choro" e as valsas "Olhos que Mentem", "Silêncio" e "Triste Consolo" e o frevo "Formigão".

Mais da sua obra:

"Formigueiro", "Pretensioso", "Meu Choro a São João", "Contemplando", "Venha para o Choro, seu Paiva", "Sacrifício por Amor", "A Saudade Vive Comigo", "Soluços", "Suave Tortura", "Delírio de Amor" e "Triste Consolo" (MPB - Compositores Pernambucanos - Coletânea - 1920-1995", Renato Phaelante da Câmara, Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massanga, 1997).

Felinho morreu pobre e esquecido, em Recife,  no dia 09 de janeiro de 1980. A pobreza a que me refiro, claro, é a material. A vasta obra musical deixada, como legado, por esse extraordinário músico é rica e serve como lastro para manter viva a magia do frevo e do carnaval pernambucano.  Abaixo, regozije-se ouvindo a obra reinventada:

RADIOLA VOL. O4: CAPIBA – 25 ANOS DE FREVO (CLAUDIONOR GERMANO)

Escrevi num post passado sobre o novo frevo pernambucano capitaneado pelo maestro Spok. Hoje lembrei-me do grande disco do mestre Claudionor Germano gravado em homenagem ao outro grande mestre, Capiba. Na verdade, essa dobradinha é a marca registrada de uma das melhores coisas que o carnaval de Pernambuco pôde produzir. Ouvir Claudionor Germano cantando Capiba é como mergulhar no universo mágico da história do carnaval da terra do frevo.

Não vou perder tempo aqui reproduzindo a biografia do Capiba, esse detalhe pode ser facilmente encontrado na rede. Quero apenas lembrar que o começo de sua carreira artística foi cercada de um lirismo incomum. Ele era pianista de cinema, tocava enquanto os filmes mudos eram exibidos. Certamente, essa inusitada experiência contribuiu muito para a formação de grande artista.

O maior intérprete de Capiba (e do frevo pernambucano, de maneira geral) é Claudionor Germano. Na ativa até hoje, Claudionor mantém viva a chama do frevo de raiz. No disco “Capiba – 25 Anos de Frevo”, sua parceria com Capiba teve o seu melhor momento. São apenas cinco faixas, mas cada uma delas é uma espécie de pot-pourri com vários temas de frevos que marcaram época. Esse estilo de gravação era comum nos antigos discos de frevo gravados no selo Mocambo da lendária Fábrica de Discos Rozemblit.

Claudionor Germano e Capiba viraram uma marca registrada do frevo cantado em Pernambuco e em todo o Brasil. Reverencio essa dupla de mestres!

Capiba - 25 Anos de Frevo - 1959

1
É de amargar
• Tenho uma coisa para lhe dizer - • Manda embora essa tristeza - • Quem vai pra Farol é o bonde de Olinda
2
Júlia
• Casinha pequenina - • Gosto de te ver cantando - • Linda flor da madrugada
3
Quem me dera
• Teus olhos - • Não sei o que fazer - • Quem bom vai ser
4
Quando é noite de lua
• E... nada mais - • Morena cor de canela - • Os melhores dias de minha vida
5
Quando se vai um amor
• Você faz que não sabe - • Deixa o homem se virar - • A pisada é essa - • Vamos pra casa de Noca - • Ai! Se eu tivesse - • Que é que vou dizer em casa - • Nos cabelos de Rosinha - • Modelos de verão

À ESPERA DA TRAGÉDIA

As assustadoras imagens das catástrofes climáticas do Rio de Janeiro e de outras partes do planeta, trouxeram à tona as discussões sobre como evitar essas tragédias. Não é preciso um estudo muito aprofundado sobre o assunto para descobrir algumas pistas bem claras.

Morei em duas cidades, Olinda, década de 70, e Recife, onde resido atualmente. Em ambas, coincidentemente, vivi em bairros próximos a áreas de manguezal. Nessas localidades, sempre que era dia de maré alta, as águas dos rios fluíam pelas galerias. Ouvíamos os mais velhos dizerem: "a maré tá invadindo a rua". Na verdade, o fluir das águas era, meramente, uma comprovação do Princípio da Impenetrabilidade: "dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo".

Não entendeu? É simples, encha uma bacia com água até o limite da borda e entre nela. O volume da água deslocada para fora da bacia sera igual ao volume da parte do seu corpo imersa no recipiente. E o que as enchentes tem a ver com essas concepções científicas? Tudo! O volume de água que inunda a sua rua é exatamente igual ao volume de terra (ou lixo, ou qualquer tipo de entulho) que algum idiota jogou dentro do rio. A água tem que ir para algum lugar e procura os terrenos mais baixos.

O triste nessa história é que todos nós temos um pouco de culpa nesse desequilíbrio, mas pouquíssimos têm essa noção. Além do mais, os que reconhecem a sua participação deletéria, fazem pouco (ou quase nada) para corrigir o erro. Normalmente a razão é vencida pela emoção. A pobreza no avançado estágio da miséria produz áreas de sub-habitações que se transformam em palcos de catástrofes.

No Rio de Janeiro, devido a geografia altamente acidentada, as tragédias são “compartilhadas” por ricos e pobres. Áreas de veraneio frequentadas pela alta sociedade foram devastadas na mesma proporção das sub-habitações com características de favelas.

Muito se ouviu falar, após o desastre, de um planejamento para prevenir catástrofes. O Governo do Rio de Janeiro anunciou a instalação de 60 sirenes que soarão quando o perigo de um temporal for detectado. Algo como os avisos que ecoavam nas cidades atacadas por aviões na Segunda Guerra Mundial. Um terror sonoro que pode surtir um efeito satisfatório, mas também pode piorar a situação porque no primeiro aviso, possivelmente, o caos será instalado.

Um bom exemplo de planejamento que surtiu um efeito quase satisfatório pode ser verificado aqui no Recife que, apesar de sofrer com graves problemas de alagamentos, livrou-se das gigantescas enchentes que arrasaram a cidade nas décadas de 60 e 70 construindo barragens. A retenção do grande volume de água foi o início de uma grande ação que teve suas etapas subsequentes prejudicadas por rivalidades políticas. Recife sofre hoje com os alagamentos que já deveriam ser coisa do passado se os trabalhos iniciados com a construção das barragens tivessem seguido adiante.

Enquanto isso, aqueles que têm a infelicidade de morar em áreas de risco vivem à sombra de uma tragédia (climática) anunciada. É o fardo da miséria aliado ao descaso.

PROFESSOR OBJETO

Leciono na Rede Estadual de Pernambuco há doze anos. Desde que ingressei no ensino público venho colecionando decepções e dissabores. Não bastasse o vergonhoso fato de receber o pior salário do Brasil, vejo agora, entristecido, que a situação dos docentes aqui em Pernambuco caminha para um desfecho que certamente não será feliz.

A escola em que eu estou lotado foi transformada em “escola de referência” e experimentou, em um primeiro momento, o regime de ensino semi-integral. Assim como eu, vários professores não puderam se candidatar a uma vaga porque tinham outras ocupações, afinal, não dá para viver com o vergonhoso salário que nós ganhamos. Para que os professores do quadro não perdessem o direito adquirido de trabalharem na escola em que foram lotados após prestarem concurso público, muitos migraram para o “Projeto Travessia” que trabalha com correção de fluxo.

Não foi fácil, uma batalha foi travada e a direção da escola conseguiu manter o contingente de professores efetivos que foi distribuído em várias turmas. Viajamos duas vezes cumprindo os períodos de capacitação previstos para os dois primeiros módulos. Agora, qual não foi a nossa surpresa, durante as férias, recebemos a notícia que todos os professores efetivos seriam impedidos de continuar no Travessia.

Pela segunda vez, nós teremos que brigar para continuarmos lecionando no local em que fomos legalmente lotados. Inconformados com a situação, os prejudicados, obviamente, começaram a se mobilizar e protestar. Vários professores contratados entenderam que essa mobilização era contra eles. Muitos reagiram com frases sarcásticas e acusações infundadas aos professores efetivos. A professora Silvana Barros, depois de ler a convocação que os professores do Amaury de Medeiros estavam fazendo, me enviou um e-mail que dizia o seguinte:

NA REALIDADE ACREDITO QUE A CULPA É DE ALGUNS PROFESSORES QUE NÃO CUMPRIRAM SUAS OBRIGAÇÕES E DA DEMANDA DE PROFISSIONAIS NAS ESCOLAS. RECLAMAR NÃO ADIANTA AGORA, JÁ QUE ORDEM FOI REPASSADA P/ SER CUMPRIDA. QUE TAL VC FALAR DIRETAMENTE COM O SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO?”

Recebi vários outros e-mails com tons menos agressivos, mas, que na essência, comungavam com o discurso acima. Criou-se um clima de animosidade que não deveria existir. Contratados ou concursados, somos todos professores, ninguém questionou isso. O que todos nós estamos questionando é a legalidade do ato (sumário) que está substituindo professores que prestaram concurso – e por isso têm direitos adquiridos – por profissionais contratados.

Todo mundo sabe o quanto custa a um professor encontrar uma escola próxima de sua residência e que tenha carga horária disponível. A questão do horário é outra complicação porque, como acentuei acima, todos nós temos outros empregos para poder vivermos com um pouco mais de dignidade. Nada disso é levado em conta por quem tem o poder de decidir.

Aos professores, que estão sendo tratados como objetos que podem ser mudados de lugar a qualquer hora, resta lutar e enfrentar com dignidade as acusações infundadas, as frases sarcásticas e os atos arbitrários.

A REALIDADE NÃO TEM GRAÇA

O cinema e a tevê sempre foram criticados por criarem uma realidade paralela, uma espécie de mundo em que situações absurdas acontecem como se corriqueiras fossem. Em uma cena do filme “Duro de Matar 4”, John McClane lança um carro que sobe numa rampa é alçado no ar acertando um helicóptero. “Exagero, isso jamais aconteceria na vida real”, muita gente repetiu essa frase.

Parte da magia da ficção reside, justamente, na incrível possibilidade de subverter a ordem real das coisas. Mas, contraditoriamente, quando o assunto é o “final” da história, tudo tem que dar certo. Como nas historinhas de criança, a máxima “e foram felizes para sempre”, tem que imperar. Pouquíssimos aceitam finais que se afastem dessa premissa.

Em um dos episódios da sexta temporada do seriado CSI, um jovem foi absolvido de uma acusação de assassinato. A irmã do réu, uma superdotada de apenas doze anos, criou uma história muito bem elaborada e conseguiu convencer os jurados. No final do episódio, ela própria revelou a farsa para a policial Sidle falando-lhe, em tom de ironia, ao pé do ouvido. No universo das séries americanas, o bandido escapar no final é comum, o público já aprendeu a lidar com isso.

Nas novelas brasileiras o vilão escapar e o mocinho morrer no final é algo quase que inaceitável. Dois exemplos clássicos:

A morte do mocinho: Na novela Pecado Capital (1975 – Rede Globo), o protagonista da história, Carlão (Francisco Cuoco), tombou sem vida no último capitulo causando uma comoção jamais vista no mundo da teledramaturgia. Tudo bem que Carlão era uma espécie de anti-herói, afinal, havia ficado com uma mala cheia de dinheiro que não lhe pertencia, mas era o galã da novela e o público não aceitou sua morte. A imagem dele caindo abraçado com a mala de dinheiro (clique no título desse bloco e assista) ao som de “Pecado Capital” (Paulinho da Viola) entrou para a história da tevê brasileira.

A fuga do bandido – Na ótima novela “Vale Tudo” (1988 – Rede Globo) o vilão Marco Aurélio (Reginaldo Faria), depois de aprontar com todo mundo, fugiu num jatinho com sua mulher, a assassina de Odete Roitiman, e ainda deu uma banana para o Brasil (Clique no título desse bloco e assista). A polêmica imagem revoltou os puritanos gerando até protestos na imprensa.

Essa discussão voltou à tona quando Sílvio de Abreu “matou” Diana na novela “Passione” (Rede Globo). A personagem fazia parte do grupo dos mocinhos e, segundo o julgamento do público, não deveria morrer. As críticas em torno da morte de Diana levou Sílvio de Abreu a brincar com a história: ele simulou a morte do protagonista Toto e experimentou uma avalanche de criticas. Como hoje em dia a mídia está presente até no set de gravação, a farsa foi revelada antes de ir ao ar. Ainda dentro da mesma discussão, os sites especializados em tevê anunciam que a dupla de vilões, Clara e Fred, escapará sem punição.

A dedução a que se chega após essa breve análise é que a realidade parece não ter muita graça para quem vai ao cinema ou liga a tevê. Mergulhar na ficção e esquecer os problemas da vida, ao que parece, é uma terapia para o telespectador. Viva o faz de conta!

RELICÁRIO VOL. 04 – CAVERNA DO DRAGÃO (DUNGEONS & DRAGONS)

A série animada, “Caverna do Dragão”, é uma unanimidade não só entre a garotada, mas também entre os adultos. Nascida de um RPG, a saga dos seis garotos perdidos num mundo mágico tem uma legião de fãs pelo mundo afora. Criada pela “Marvel Productions”, a pedido da CBS, a série foi ao ar pela primeira vez em 1983. O sucesso foi estrondoso, mas apenas 27 episódios foram produzidos. Esse estranho paradoxo originou várias lendas em torno do programa. Várias teorias circulam pela internet tentando explicar o porquê do cancelamento prematuro de uma série de sucesso.

Outra curiosidade, envolvendo a série, foi o suposto final que teria sido gravado e nunca fora ao ar. Segundo essa teoria, os garotos, na verdade, já estariam mortos desde o primeiro episódio, devido a um acidente no carrinho de montanha russa no qual embarcaram. Os meninos teriam sido mandados ao Inferno sendo o Mestre dos Magos e o Vingador, as duas faces de um mesmo ser demoníaco, capaz de oferecer esperança e temor para aumentar o sofrimento deles. Mark Evanier, um dos criadores da série, desmentiu esse boato: "Isto é totalmente falso! Apesar de vários possíveis finais terem sido discutidos, nenhum último episódio foi produzido de fato." O fato é que essa série é cultuada e muita gente por aí afora tem a esperança de que, algum dia, façam um remake, claro, mantendo as características originais.

Sinopse

A abertura do primeiro ano da série mostra um grupo de jovens em um parque de diversões, embarcando em uma montanha russa chamada Dungeons & Dragons. Contudo, durante o passeio um portal se abre e traga o carrinho, onde eles estavam, para um outro mundo, no qual aparecem trajando outras roupas e recebendo logo em seguida armas mágicas de alguém que se apresenta como Mestre dos Magos. A partir daí, os jovens passam por uma série de aventuras em busca de uma forma de voltar para casa, nas quais o Vingador, um mago maléfico, tenta a todo custo pegar as armas mágicas dos jovens com a intenção de destruir o Mestre dos Magos e tomar todo o reino.

Ficha Técnica

Nome Original: Dungeons & Dragons

Nome no Brasil: Caverna do Dragão

Ano de produção: 1983

Emissora: CBS

Criador: Gary Gigax

Roteiros: Mark Evanier e Michael Reavens

Produtora: Marvel Productions

Número de Episódios: 27

Personagens:

Hank: o arqueiro

Eric: o cavaleiro

Diana: a acrobata

Sheila: a ladra

Presto: o mago

Bobby: o bárbaro

Mestre dos Magos: o mágico do bem

Vingador: o vilão

Uni: o unicórneo mágico

Tiamat: dragão de cinco cabeças

Demônio das Sombras: lacaio do vingador

OS SONS DO METRÔ E UM PEDIDO DE CANONIZAÇÃO

Já escrevi bastante sobre as benesses dos avanços tecnológicos a que temos acesso nos dias de hoje. Adoro essas facilidades, quero deixar claro. Mas.... tem horas que o reverso da faca de dois gumes fere sem pena. Ando muito de metrô, uso esse meio de transporte para ir ao trabalho. Não fosse o meu (salvador) mp3 player, certamente, abdicaria de transitar nos trens. É um inferno aguentar aqueles celulares – quase todos genéricos chineses – tocando brega, pagode ou (sub) funk no último volume. As pessoas ouvem música nos vagões como se em casa estivessem.

Vou não, quero não, posso não, minha mulher não deixa não”, essa pérola de verso ecoa pelos quatro cantos da cidade e é um mega-hit dos insuportáveis celulares do metrô. Mas não é só isso, disputando (no mesmo volume) com os celulares tem os vendedores de balas, pipocas, tem os pregadores religiosos e os pedintes com discursos decorados.

Para cada uma dessas agressões sonoras, existe uma justificativa sentimental que, em geral, se sobrepõe a razão. “É melhor pedir do que roubar”, “Eu estou trazendo a palavra de Deus”, “Compre um pra me ajudar” e por aí vai. Sorte que o meu trajeto é curto, apenas seis estações. Imagino o sofrimento de quem pega o metrô no ponto inicial e desce no centro. Tortura!

Por essas e outras que estou propondo nesse breve post a canonização de Bernhard Grill, Karl-Heinz Brandenburg, Thomas Sporer, Bernd Kurten e Ernst Eberlein, os pais do mp3. Parece ironia, afinal, os celulares insuportáveis se utilizam dessa tecnologia, mas, assim com eu, muitos são salvos do "inferno" com um simples fone de ouvido. E tenho dito!

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