Campos
Lara – (O Fejião e o Sonho- Orígens Lessa).
Conheci
o poeta Campos Lara antes de ler o livro, numa adaptação feita para
a tevê em 1976. Cláudio Cavalcante interpretou brilhantemente o
personagem na novela de Benedito Ruy Barbosa. Pouco depois tive que
ler o livro na escola. Identifico-me com esse personagem porque vivi
na pele o drama dele: optar entre o sonho da arte – no meu caso a
música – e a sobrevivência. Campos Lara, um intelectual, vivia o
drama de não poder manter sua família apenas escrevendo poemas.
Enquanto isso, via seu cunhado, um homem de pouca instrução, ficar
rico com o comércio. É um personagem inquietante, mora no meu imaginário.
Holden
Caulfield – (O Apanhador No Campo de Centeio – J.D. Salinger).
O
personagem que fez o mundo enxergar a adolescência como uma fase
importante e difícil. Identifico-me com ele, não só por esse
aspecto mas, também, pela resistência ao envelhecimento.
Caulfield sabia que estava envelhecendo mas queria conservar o
lirismo da infância, coisa que normalmente é vista como desajuste
entre as pessoas ditas normais. Holden Caulfield é meio Peterpan.
Duvida? Como seria possível um personagem concebido há mais de
sessenta anos ser tão atual. Maravilhosamente intrigante!
João
Grilo – (Auto da Compadecida – Ariano Suassuna).
Esse
personagem, sabidamente, não é criação de Ariano Suassuna,
figurava nos cordéis que ele usou como base para construir sua
famosa obra. Além do mais, João Grilo é um estereótipo:
no interior, Pedro Malasarte, no meio urbano, o malandro. O fato é
que Ariano deu um tratamento literário a esse adorável personagem e
ele me encanta desde criança. É muito mais difícil ser um
anti-herói do que um herói pura e simplesmente. O anti-herói tem
que transitar nos dois lados, o da maldade e o da bondade. João
Grilo percorre esse caminho sinuoso com uma naturalidade tão grande
que todos nós aceitamos suas tramoias como coisa normal. Bom demais
Hercule
Poirot – (Várias obras de Agatha Criste).
Tornei-me
fã dele quando li “Morte Sobre o Nilo”, romance policial de
Agatha Criste. Na verdade, durante a trama, Poirot se comporta como um
velho chato e ranzinza, o tempo todo corrigindo as pessoas que,
erroneamente, o tratam como um francês: “Não sou francês, eu sou
belga”. Em Morte Sobre o Nilo, o momento em que o detetive desvenda
o crime, com aqueles detalhes, falando da echarpe e tudo mais, mostra
a grandeza do personagem. Não por acaso, ele aparece em várias outras obras da autora. Inesquecível!
Capitu
– (Dom Casmurro – Machado de Assis).
Odiei
Capitu por algum tempo, colocava-me na pele do Bentinho, um papel que
todo homem, algum dia, já encenou. Hoje entendo a riqueza desse
personagem, uma interessante criação do analista da alma humana,
Machado de Assis. Capitu é quase tão importante quanto a obra, tem
vida própria. As teorias sobre sua suposta traição, criaram no
imaginário dos leitores, uma obra paralela. Isso não é pouco.