
Meu primeiro dia de aula virou fábula entre os amigos. Já contei essa história um milhão de vezes. Cheguei um pouco atrasado e na pequena sala decorada com notas e claves, já estava uma meia-dúzia de alunos. Estranhamente, ninguém sentado em frente ao birô do velho mestre. Todos bem localizados em lugares afastados. Achei que era medo da aula e resolvi sentar na primeira fila. Ouvi alguns risinhos disfarçados mas permaneci impávido, prostrado diante do birô à espera do mestre.
Alguns minutos depois, entra o velho maestro com a aparência debilitada e mãos trêmulas. Depois de uma breve apresentação ele nos convidou à primeira aula de solfejo: “Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si, Dó – Dó, Si, Lá, Sol, Fá, Mi, Ré, Dó”. O breve cantarolar dessas notas jogou no meu rosto uma brisa etílica que me deixou enebriado, quase bêbado. Sentei-me duas fileiras atrás e contemplei, debaixo dos disfarçados risos dos outros alunos, o restante da aula.
Minha passagem pela escola da Banda de Frevos do Nordeste foi breve, mas percebi o quanto o dom é importante. Enquanto eu, literalmente, brigava com meu violão para aprender os primeiros acordes, via o jovem Carlos, ex-menino de rua, que depois de alguns meses em contato com o instrumento, passou a dar aulas (e shows) na escola. Que ódio! Brigo com o violão ( e com a guitarra) até hoje, menos do que devia, é certo. Ficamos um pouco mais íntimos, mas o tal do dom, esse me ignorou desde o nascimento.
Abaixo, um vídeo raro em que o velho mestre rege uma orquestra que interpreta o grande frevo "Cabelo de Fogo".
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4 Responses to “EU, O VIOLÃO, O MAESTRO NUNES E UMA BRISA ETÍLICA”
Nunca é tarde para estudar, crescer, mudar, evoluir, Ed!Parabéns por tentar, sempre!Seus atuais encontros etílicos se inspiraram nessa primeira brisa?
Será que esse frevo foi escrito em minha homenagem???
Bons tempos e momentos aqueles em que nos reuníamos no intervalo lá na sala dos professores no Jordão Emerenciano (2007) para ouvir Ed cantar e tocar violão.
Tenho exercitado pouco ultimamente, mas, pretendo mudar isso. O violão ajuda a esquecer os problemas da vida.
Abraço!
Era louca pra aprender violão!Enchi tanto que ganhei um muito bom, mas quando finalmente uma amiga se dispôs a me ensinar, pouco tempo depois, de manhã cedo, andando de bicicleta na rua, teve a vida adolescente ceifada por um louco guiando um táxi. Adeus minha querida amiga Mildred e o violão perdeu a graça.Emprestei ao veio Mangaba que deu fim a ele, nunca mais tive notícia,kkkkkk. Bem que me ajudaria a esquecer os problemas da vida...
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