Hoje, no
meio de uma aula sobre fusos horários – os alunos detestam – fui
interpelado por uma aluna que divagou e afirmou que estudava mesmo
sem gostar. Entrei na onda e lá fui eu falar sobre as dificuldades
da vida. Algumas utopias são propagadas em salas de aulas como se
verdades fossem. Dizer que qualquer pessoa pode trabalhar e estudar
ao mesmo tempo é uma delas, isso não é para todo mundo. Esse dueto
é apenas um dos peneirões que a vida e a escola pública impõem
aos alunos, só os fortes e determinados conseguem superar.
Muitos
dos que frequentam a escola entram na sala com um asco aparente.
Outro dia, assim que comecei a desenhar no quadro uma malha de
paralelos e meridianos para explicar coordenadas geográficas, fui
interrompido várias vezes com frases do tipo: “Isso de novo,
professor?” “Quando esse assunto termina?” “Geografia com
números, nunca vi”. Era, apenas, a segunda aula sobre o assunto e
para dar continuidade a explicação, eu teria que retomar de onde
parei. Os alunos me irritaram de uma forma que dei a aula por
encerrada. Como é possível lecionar desse jeito?
Esse tipo
de situação é muito comum nas escolas públicas. Trabalhar e
frequentar a escola é um sacrifício inominável, sei, mas essa
realidade torna-se muito mais difícil quando os alunos criam esse
tipo de situação. A grande verdade é que pouquíssimos enxergam a
escola como algo importante, apenas almejam uma “Ficha 19” que na
disputadíssima realidade atual, não representa quase nada. Ficha 19
serve, no máximo, para manter-se naquele subemprego que deveria
fazer parte, apenas, do início da vida do jovem. Hoje em dia, muitos
aceitam essa realidade como algo imutável.
Trabalhar
e estudar não é para todos, só para os determinados, repito. Não estou
levantando a utópica bandeira do “vocês têm que ter amor pelo
estudo”. Muitos vencem sem gostar de estudar. Estudam porque sabem
que esse é o único caminho para quem nasceu pobre. Mais: alguns –
eu, por exemplo – não gostavam do ensino médio e se encontraram
na faculdade. A vida é feita de estágios, você não é obrigado a
gostar de todos, cumpra os que não gosta, porque são pré-requisitos, e realize sonhos mais a frente. Quem vive de cara feia na sala, achando
que está fazendo demais por si, na verdade, está se enterrando na
falta de iniciativa. Obrigue-se a fazer, temporariamente, o que não
gosta, para se realizar no futuro, esse é um caminho.
Comments
5 Responses to “TRABALHAR E ESTUDAR NÃO É PARA TODO MUNDO”
Existem pessoas que só podem fazer uma coisa de cada vez.Pode ser por preguiça ,ou falta de auto controle,enfim por vários fatores...
Eu trabalhava em duas escolas particulares e fazia graduação à noite .Foi muito difícil mas eu consegui terminar meu curso com muito esforço...
Eu fiz minha graduação com muito esforço.
Trabalhava em duas escolas particulares e estudava à noite.Em alguns momentos pensava que não iria conseguir , não tinha ajuda financeira ...
Existem pessoas que não têm estrutura ,outras é pura preguiça , ou pq têm alguém que em quem se escorar...
Puxa Ed!! essa batalha eu venci, com muito sacrifício e a base de muuuuuuito guaraná do amazonas. No fim da graduação cometi a loucura de iniciar a pós-graduação, então trabalhava e fazia a graduação de segunda a sexta e nos sábados fazia a pós. Só faltou o domingo.... kkkk
bjus e parabéns mais uma vez pelas postagens do blog
Muito bom meu Caro, continue como um Dom Quixote a "erguer sua loucura como um facho na noite escura".
Grande abraço,
Ricardo Santos. (via e-mail)
Leitura correta do que pensa nosso aluno, é a cultura do imediatismo, do "terminar" isso logo... Mas vão para onde??Qual caminho eles pensam que vão??? A "Pós modernidade" projeta ilusões infelizmente e pouca consciência das coisas. O pior,! Nós somos os reprodutores dessas ilusões, mesmo sem querer. Os intelectuais e o poder... Mas resta-nos fazer um discurso crítico dessa realidade e não fortalecer a cultura que está aí.. Parabéns pelas palavras sábias.
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