Sempre
que comento com algum amigo que gosto de ouvir Roberto Carlos, tem
sempre alguém torcendo o nariz e dizendo: “Não aguento as chatices dele”. Isso porque quase todos os críticos do Rei cometem o erro
de julgá-lo pelo momento atual. O velho adágio “A última imagem
é a que fica” explica isso. Uma pena. Roberto é um artista
importantíssimo na música popular brasileira. No início da
carreira ajudou a sedimentar o pop rock brasileiro com dois grandes
discos: Roberto Carlos 1966 e Roberto Carlos Em Ritmo de Aventura1967.
Durante
muito tempo ele foi um artista originalíssimo. Em 1967 lançou o
filme “Roberto Carlos Em Ritmo de Aventura” que fazia parte do projeto do disco
homônimo. Nesse filme, o clipe da música “Quando” foi gravadono alto do edifício Copam, em São Paulo. Um ano depois os Beatles
realizavam um evento com uma configuração idêntica, o “RooftopConcert”, que ganhou o mundo como ideia original. O clipe da música
“Quando” é belíssimo, Roberto de caxarrel e capa preta, uma
bandinha de rock acompanhando e um cenário reproduzindo uma sala
cheia de belas modelos.
Ele foi
original até 1983 quando lançou seu último bom disco. Claro, esse é um julgamento particular, absolutamente subjetivo. Entretanto, sei
que muitos comungam dessa opinião. O contrato com a Rede Globo
garantiu a ele a mitificação, mas tirou-lhe o direito de gravar um disco quando quisesse. Durante anos
foi obrigado a lançar o famoso disco de final de ano. Tornou-se,
então, um produto da mídia, e passou a homenagear as gordinhas,
baixinhas, atrizes, as de óculos, o símbolo sexual, as santas e
etc.
O mais
importante, entretanto, é não esquecermos o legado dele. Roberto
Carlos é tão importante que serve, inclusive, como referência
temporal. Quando eu garimpava revistinhas de cifras de violão pelos
cebos do Recife, manuseava revistas velhas e só as músicas do
Roberto – fosse qual fosse a época – eram-me familiar. Mesmo quem não gosta dele sabe do que estou falando. Cada hit, por mais longínqua que seja a data, serve como uma referência temporal,
remete a uma situação, uma lembrança registrada no disco rígido
da memória. Poucos artistas conseguem isso.
Eternizar
essa melancolia atual do Rei, seria a repetição do erro cometido
com Elvis Presley, por exemplo. O Rei do Rock teve momentos
brilhantes na sua carreira, mas eternizaram a imagem do Elvis com aquela roupa brega cheia de babados. A fase decadente foi eternizada. O mesmo vem acontecendo com Roberto, ninguém lembra mais
do Roberto da década de 70, por exemplo. Ora
(direis) “a culpa é dele mesmo”. E eu vos direi, no entanto: ouça o disco que quiser. Desligue a tevê no especial de fim de ano
e ponha no seu Blu-ray o filme “Em Ritmo de Aventura”. Tens ou
não o livre arbítrio?