Quando
se é jovem e inexperiente, um dos fardos mais pesados na vida é o medo de
enfrentar o mundo real. A pouca experiência, via de regra, induz a caminhos ilusórios para fugir da dura realidade do cotidiano. Sonhar que os pais vão
morrer bem velhinhos e dormindo, imaginar que num belo dia todos os sonhos se
realizarão como num passe de mágica e por aí vai. O tempo passa e a experiência
nos mostra que o mundo, de vez em quando, vira de cabeça para baixo e temos que
ter força para encará-lo.
As
aterrorizantes noticias que chegaram da cidade de Santa Maria no final de
semana passado é um desses momentos. Você fica remoendo, remoendo e não
consegue digerir. Não dá nem pra fugir da tristeza. Na era da interatividade
total, as notícias chegam de tudo quanto é lado. Você lê a história do jovem
que salvou a esposa e voltou para ajudar os outros e morreu. Muitos trocaram a
sorte de terem se safado pelo risco de ajudar outras pessoas e acabaram
morrendo também. Seres humanos, afinal,
eles existem, é por isso que o mundo ainda se mantém com uma certa ordem. Somos
infinitamente mais humanos do que imaginamos.
Tenho
que repetir o que escrevi acima agora com um grifo: vários jovens que tiveram a sorte de escapar da morte, voltaram para
ajudar os amigos e acabaram morrendo também. Não eram bombeiros treinados, eram
pessoas normais que se, eu ou você, tivéssemos a incumbência de descrevê-los,
logicamente, não imaginaríamos que eles, frequentadores de baladas noturnas,
namoradores, jamais dariam a vida por outros, mas deram.
Esse
não é um texto escrito para lamentar a tragédia ou descrever o horror do
acontecido. Como destaquei acima, estamos na era da interatividade e um turbilhão
de notícias chega a toda hora. Escrevo pra celebrar a prova inconteste de que
ainda somos humanos. Aos que pereceram, que encontrem a luz.