GO DENNIS, GO !

Hoje, aos 74 anos, Dennis Hopper partiu para o infinito. O vídeo acima, extraído do clássico "Easy Rider", estrelado por Hopper, é carregado de simbologia e traduz com fidelidade o que representa essa momento: liberdade! Go Dennis, go!

A SIMPLICIDADE DO MESTRE E OS CHATOS SAZONAIS

Passei cinco dias numa formação de professores, tendo aulas das oito às dezoito horas. Nessa minha maratona diária, de troca de ideias e palestras, aprendi mais do que esperava. Tive a sorte de ouvir o professor Luiz Schetine falar. Ótimo palestrante, fala como se estivesse numa roda de amigos e consegue transmitir sua valorosa mensagem sem as costumeiras chatices das palestras sobre educação. Tenho percebido nas inúmeras palestras a que assisti, nas capacitações da vida, que o público, invariavelmente, prostra-se diante do palestrante por obrigação e suporta o falatório com extrema dificuldade.

Com o professor Schetine foi diferente. Rimos bastante, aprendemos bastante. Entre outras coisas, ele explicitou a importância de darmos mais atenção às perguntas formuladas pelos alunos do que às respostas. Quem sabe questionar está com a mente aberta para aprender. Quem aceita respostas prontas apenas reproduz conhecimento, não assimila. Lógica pura!

A simplicidade do velho professor me fez lembrar de outro assunto que sempre entra em voga em ano de Copa do Mundo: “a turma do contra”. Pode se preparar: quando você falar que vai assistir aos jogos e torcer pela Seleção Brasileira, vai aparecer um CHATO, daquele bem pernóstico, sazonal, que só aparece de quatro em quatro anos, com aqueles discursos pseudo-intelectuais que falam que o país não tem cultura, que os jogadores são vendidos, que existem coisas mais importantes que o futebol, blá, blá, blá, blá!

Não se pode mais assistir a uma partida de futebol em paz. Como o futebol é um fenômeno popular, torcer pela Seleção Brasileira agora é brega. E aqueles CHATOS que torcem pela Argentina? Esses são insuportáveis e incoerentes. Com o mesmo discurso dos “jogadores vendidos” eles viraram a casaca e foram torcer pelos “hermanos” que os chamam de “macaquitos”. Incoerência. A Europa está cheia de jogadores argentinos que, MERECIDAMENTE, ganham altos salários.

Portanto, dou-te um conselho. Assista aos jogos em casa com seus amigos de verdade e/ou com a família. Use sua camisa da Seleção Brasileira e não ligue para os “pseudo-intelectuais” e os argentinos do Paraguai. Quando a Copa acabar eles voltarão a hibernar e só retornarão daqui a quatro anos. Ignore-os, deixe-os latirem, eles ladram mas não mordem. Eles precisam aparecer, precisam de plateia e de MUITA atenção, sobrevivem disso. Quando o Brasil fizer um gol, abra a janela e grite, eles odeiam ver a nossa alegria. Quem paga suas contas é você, eles são apenas intrusos. Bola pra frente!

AQUELE SHOW DOS SECOS & MOLHADOS

Em 1974 o pop brasileiro experimentou seu primeiro grande espetáculo. Apesar de ter acontecido em época tão remota, esse show foi um dos maiores fenômenos de público já verificados no Brasil até hoje. A banda “Secos & Molhados”, formada três anos antes pelo cantor, compositor e artista performático, João Ricardo, protagonizou o espetáculo. O ginásio do Maracananzinho comportou um público de mais de 30 mil entusiasmados fãs. O espetáculo não foi apenas musical. Secos e Molhados era uma banda performática de vanguarda. Só apareciam em público com os rostos pintados e usando figurinos tribais. Anos depois seriam imitados pela banda de rock Kiss. O grande destaque dos Secos & Molhados era, sem dúvida, o carismático vocalista Ney Matogrosso. Ele dominava o palco de um jeito quase que teatral. Ney cantava e encenava as músicas. Abaixo, um raríssimo registro do grande show do Maracananzinho, com a poesia musicada, de Vinícius de Moraes, Rosa de Hiroshima .

DANIEL AZULAY E O DESENHO COLOQUIAL

Lembrei-me do Daniel Azulay, outro dia, quando rabiscava um desenho para um grupo de alunos da 5ª Série. Costumam tirar onda com o fato de que só sei desenhar dois personagens: Barney (Os Flintstones) e Tutubarão. Onde entra o Daniel nessa história? Bom, ele é um dos meus ídolos de infância, assistia a seus programas todos os dias e me deliciava vendo-o desenhar com tanta habilidade e sugerindo que aquele dom, por mais fantástico que parecesse, poderia ser compartilhado com todos. Aprendi a desenhar os dois personagens porque acreditava no que Daniel falava.

Daniel Azulay, como desenhista, era autodidata, sua formação acadêmica foi em Direito. Antes de se popularizar na tevê, desenhando histórias ao vivo, trabalhou por trás das câmeras criando vinhetas. Ganhou popularidade com a famosa “Turma do Lambe-Lambe”, no programa “TV Criança”, em 1981, na TV Bandeirantes. Mesmo como atração de uma tevê comercial, Daniel conduzia o seu programa com espírito de tevê educativa. Esse era o seu grande diferencial. Bastava assistir a um programa para acreditar que desenhar era fácil. E era mesmo!

Daniel Azulay, na verdade, é um grande educador. Tanto na tevê quanto nas palestras que ministra pelo Brasil afora, ele consegue transmitir credibilidade. Pra mim, a maior qualidade do educador é a credibilidade que ele tem perante os alunos. Desenhar com Daniel é fácil porque seu traço é coloquial, não tem a formalidade assustadora dos livros e cursos de desenho. Talvez seja por isso que até hoje sua imagem povoa o meu imaginário. “Algodão doce pra vocês!”

Turma do Lambe-lambe

Damiana
Pita
Gilda
Piparote
Prof. Pirajá
Ritinha
Tristinho
Xicória

A MÚSICA BRASILEIRA E ALGUNS DE SEUS CICLOS

A música, assim como diversas outras manifestações artísticas, vive de ciclos. Vez ou outra, um estilo musical se sobressai e sedimenta um ídolo. Alguns desses ídolos tornam-se perenes, mas a grande maioria cai no limbo do esquecimento. Da década de 50 (século XX) até os dias de hoje, a música brasileira experimentou diversos ciclos que comprovam essa tese. A Bossa Nova, elitizada na essência, ganhou o mundo como um ritmo popular do Brasil em meados da década de 50. Nascida da batida sincopada criada pelo baiano João Gilberto, esse estilo musical ganhou força na elite carioca e virou febre. Esse ciclo produziu alguns artistas geniais como Tom Jobim e Baden Powelll e “genializou” alguns nomes como João Gilberto e Roberto Menescal. Os bons de verdade sobreviveram à época de euforia do movimento.

Bem menos importante que a Bossa Nova (e sua contemporânea), a “Jovem Guarda”, um movimento com os pés fincados no universo popular, teve vida breve mas deixou como principal legado o cantor mais popular do Brasil, Roberto Carlos. A importância desse artista pode ser medida pelas homenagens que ele recebeu no Brasil e nos Estados Unidos por ocasião dos seus cinquenta anos de carreira. Nos Estados Unidos, sua gravadora preparou uma grande festa pelos cem milhões de discos vendidos ao longo da sua vitoriosa carreira. Muitos torcem o nariz para ele mas sua importância, para a música popular brasileira, é inegável. Como o Rei tem uma carreira bastante extensa e plural, cada um ouve o Roberto que quiser.

Na década de 70 a turma da Bahia, capitaneada por Caetano Veloso e Gilberto Gil, nos apresentou o tropicalismo. Foi um movimento muito mais performático do que musical. Os principais nomes do Tropicalismo – além de Gil e caetano, Gal Costa, Maria Bethania, Tom Zé e os Novos Baianos - muito antes do movimento, já tinham uma carreira de sucesso. Outros artistas conhecidos regionalmente tornaram-se nomes nacionais: Alceu Valença e Dominguinhos são dois bons exemplos.

No início da década de 80, mais precisamente em 1982, teve início o renascimento do rock brasileiro. A partir do estrondoso sucesso da banda performática, Blitz, com o single “Você Não Soube Me Amar”, a cena pop brasileira assumiu status de movimento e se popularizou. Alguns dos grandes nomes desse ciclo estão na estrada até hoje: Titãs, Kid Abelha, Paralamas do Sucesso, Lobão e Capital Inicial. O movimento rock da década de 80 produziu alguns fenômenos de popularidade como o cultuado Legião Urbana, Cazuza, Barão Vermelho e RPM. Esse último chegou a vender mais de um milhão de cópias do dico “Rádio Pirata”.

Além dos grandes ciclos destacados acima, ao longo dos últimos cinquenta anos, a música brasileira experimentou pequenos movimentos que revelaram nomes importantes:

*Movimento Armorial (Recife): durante a década de 70, esse movimento artístico teve sua vertente musical da qual participavam Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Alceu Valença, Teca Calazans, Ave Sangria, Quinteto Violado e Lula Cortes, entre outros.

*Soul Music: durante a década de 70, o Brasil teve uma importante cena soul encabeçada por Tim Maia, Cassiano, Hildon, Tony Tornado, Carlos Dafé e a Banda Black Rio. Desse grupo, apenas Tim Maia conseguiu se firmar como um grande nome nacional.

*Movimento Mangue (Recife): Encabeçado por Chico Science e a Nação Zumbi, o Movimento Mangue estourou na década de 90. Mais importante do que a mistura de ritmos, tão celebrada pelos críticos, esse movimento musical cumpriu o importante papel de reaproximar os jovens da cultura popular. Chico Science, o grande nome desse ciclo, teve vida breve mas deixou um importante legado. Hoje em dia sua música serve de referência para inúmeras bandas que surgem todo ano na cena nordestina e brasileira.

A análise desses ciclos, bem como a inclusão ou não do nome de algum artista em determinado movimento, é absolutamente subjetiva, depende do olhar (e do ouvido) de quem vê (e escuta). A música tem essa particularidade. Além do mais, as experiências musicais dos inúmeros artistas acima citados tornam a classificação por estilos uma tarefa inglória. Salve a música brasileira!

PS: Grandes nomes da música brasileira ficaram de fora desse meu breve post pelo simples fato de não fazerem parte (pelo menos de forma ativa) de nenhum movimento.

O POP ROCK DA DÉCADA DE 80 RECICLADO NA MALHAÇÃO ID

Ouvi, por acaso, o cedê da trilha sonora da nova Malhação. Exatamente na temporada em que a novelinha teen agregou um “ID” (abreviação de identidade) ao seu nome, resolveram reciclar velhos clássicos do pop rock da década de oitenta. Será essa a nova identidade da série? Segue uma radiografia do cedê faixa por faixa:

A música que abre o disco traz uma releitura do mega hit do Lulu Santos, “Um Certo Alguém”. A versão do “NX Zero” não acrescentou nada à versão antiga, ficou com jeito de Karaokê. Gostei não. A faixa 02 resgata um grande sucesso do RPM, “Rádio Pirata”. A nova versão, criada pela “Hevo 84”, segue o padrão da maioria das bandas jovens do pop rock atual, um som na linha Green Day. O resultado não foi bom. Na faixa 03, a banda “Fresno” faz uma boa releitura de um clássico dos “Paralamas do Sucesso”, “Lanterna dos Afogados”. Apesar de terem mantido quase o mesmo arranjo original, o resultado ficou bem legal porque a voz do Lucas se encaixou perfeitamente na música.

A faixa 04 traz uma bela reedição de mais um hit do “Lulu Santos”, “Apenas Mais Uma de Amor”, com a doce voz da “Mylenna” e a participação especial do rei do cover, “Emerson Nogueira”. Muito bom. A faixa 05 também é excelente. Uma versão reggae do clássico dos Paralamas do Sucesso, “Meu Erro”, sob a tutela do “Chimarrutus”. Bom demais! A faixa 06 traz uma aguada reedição da clássica “Perdidos Na Selva”, sucesso da “Gang 90”. a versão do “Seu Cuca” deixou muito a desejar, é um dos pontos baixos do cedê. Na faixa 07, mais uma participação do “Hori”, dessa vez revisitando um hit do “Vinícius Cantuária”, “Só Você”. O resultado foi bom, mas a voz do Fiuk lembra muito a do Fábio Jr que já regravou essa canção. As comparações, obviamente, são inevitáveis.

A faixa 08 traz uma releitura de um dos maiores sucessos da “Blitz”, uma das precursoras do rock Brasil da década de 80. A canção “Mais Uma de Amor” foi competentemente revisitada pelo “Dibob”. Um ótimo momento do cedê. Na faixa 09, uma releitura do hit “Tudo Pode Mudar”, da banda franco-brasileira, “Metrô”. Se o original já soava um tanto quanto adolescente, a versão da “Julie” transformou a música num tema quase infantil. Além do mais, repetiram quase o mesmo arranjo do Metrô. Ruim demais! A faixa 10 traz um dos grandes equívocos desse cedê: o “Bonde da Stronda” com uma versão funk (carioca) de “Tic Tic Nervoso” do “Magazine”, a banda do Kid Vinil. A música soa artificial do começo ao fim. Muito ruim.

A faixa 11 traz uma versão ska do hit “Ciúme” do “Ultraje a Rigor” interpretado pela banda “Catch Side”. Esse é um bom momento do cedê, som de garagem puro! Na faixa 12 uma belíssima versão da canção “Fui Eu”, hit dos “Paralamas do Sucesso” e do “Sempre Livre”. A versão das “Ruanitas” deu nova vida à antiga canção com destaque para a belíssima voz da “Tay Dantas”. A faixa 13 mostra uma versão eletrônica do mega hit do “Lobão”, “Me Chama”, interpretada por “Babi”. Voz suave contrastando com teclados, batida eletrônica e guitarras produziram um bom resultado. Na faixa 14, a banda de reggae “Marauê” tinha uma missão importante: reeditar um dos maiores hits do pop rock da década de 80, “Sonífera Ilha”, dos Titãs. O resultado foi excelente. Transformaram a baladinha titânica num reggae cadenciado e muito, muito legal. Aprovadíssimo!

A faixa 15 traz um clássico da mpb que tem várias regravações: “Jorge Maravilha”. A versão Malhação ficou a cargo do “Playmobille” que cumpriu a tarefa com maestria. É um ótimo momento do cedê. Na faixa 16 mais um momento sofrível do cedê: uma fraquíssima versão do hit “A Fórmula do Amor”, originalmente gravada pelo “Kid Abelha & Leo Jaime”. A versão atual ficou a cargo do “Jammil”, que deixou muito a desejar. A faixa 17 traz uma regravação do hit escrachado do “Dr. Silvana & Cia”, “Serão Extra”, interpretado pela banda “Angela”. Se o original já não era grande coisa, a regravação conseguiu piorar ainda mais a música. Ruim demais! A faixa 18 traz o tema de abertura da Malhação, “Quem Sou Eu”, interpretada pela banda do “Fiuk”, o “Hori”. Já virou hit, claro. É um bom momento do cedê, a interpretação do Fiuk é o diferencial. Ouvi também uma faixa bônus com uma releitura do mega hit “Menina Veneno”, do “Ritchie”. A banda “Restart” rejuveneceu a música. Essa jurássica canção, lançada em 1983, fez parte do renascimento do pop rock brasileiro. Ouvi-la agora, com timbre adolescente, soa como algo poético.

Essa trilha sonora, apesar de cometer muitos equívocos, presta uma bela homenagem ao tão criticado pop rock brasileiro da década de 80.

Obs: clicando nas faixas descritas no texto, você pode ouvir todas as regravações e tirar suas próprias conclusões.

A FORÇA DO BELO E O PRECONCEITO NOSSO DE CADA DIA

Outro dia, numa dessas salutares conversas entre amigos, falávamos sobre a forma preconceituosa com que os países do chamado “Primeiro Mundo” tratam os brasileiros. Em uma das escolas em que trabalho, localizada na periferia de Olinda, em Peixinhos, de tempos em tempos aparecem os estudantes de intercâmbio, que passam um período frequentando a escola e participando do cotidiano das crianças. Certa vez, percebi num desses estudantes estrangeiros (oriundo da Irlanda) um certo asco ao observar as crianças e a estrutura precária da nossa escola. Dava pra ver no rosto da garota que ela estava chocada e amedrontada.

Obviamente, a leitura que fiz dessa imagem produziu em mim um sentimento de indignação. Tempos depois, num recuo de memória, lembrei-me do tempo em que trabalhava como vendedor numa loja de móveis de luxo. Depois da primeira semana transitando entre moveis laqueados e tantos outros itens de decoração, passei a achar a minha casa muito feia. Na época eu era muito jovem, é certo, mas lembro-me bem do quanto me tornei preconceituoso e passei a desdenhar dos móveis das casas por onde passava. Achava tudo feio.

Automaticamente fiz uma analogia e me coloquei no lugar da menina irlandesa, naturalmente pouco acostumada a ambientes de pobreza extrema, e entendi o comportamento que em princípio reprovei. A força do belo, mesmo sendo um conceito subjetivo, leva-nos a uma estupidez como essa. Outro exemplo: Costumamos dizer que “perto do Shopping Recife tem uma favela”. A comunidade do Entra a Pulso, localizada na entrada do Shopping, estava ali muito antes da construção do grande centro de compras. Na verdade, o shopping é que está perto da favela mas a força do belo nos induz a inverter os parâmetros de observação.

Quem trabalha com arte e arquitetura, por exemplo, enxerga as coisas sem se deixar levar por esse julgamento superficial. O velho casarão em ruínas é visto como uma obra de arte danificada e não como um imóvel velho que deve ser demolido. Criar parâmetros a partir do que a sociedade classifica como belo, é uma forma de exclusão comum nos dias de hoje. É por isso que o cabelo crespo é chamado de “ruim” e a mulher gorda é chamada de feia. Termino esse breve post parodiando Vinícius: “As bonitas que me perdoem, mas beleza é subjetivo”.

APRENDENDO A APRENDER

Antigamente quando frequentávamos a escola (dita tradicional) os professores despejavam conteúdos de forma sistemática executando o que Paulo Freire, sabiamente, chamava de “educação bancária” em que o aluno era um mero depositário de conhecimentos. Ao questionar essa forma inglória de se lecionar, numa dessas rodas de amigos, alguém repetiu aquele adágio presente em muitas palestras de auto-ajuda: “não dê o peixe, ensine a pescar”. Verdade seja dita, meu desencanto com o sistema público de ensino (no que se refere ao aluno) me faz pensar nisso de vez em quando.

A cada dia sedimento a ideia de que, mais que ensinar conteúdos, o importante é aprender a aprender. Quando você tem base pode extrair conhecimento de quase todo lugar. Lembro-me da minha professora de didática lá da Federal, “Roynolka” (não lembro se escreve assim, ela era húngara), a querida professora Roy. Em uma de suas aulas ela usou um gibi da Turma da Mônica. Um dos alunos questionou: “professora, um gibi de história em quadrinhos numa aula de didática na Federal ?”.

Bom, o fato é que a aula era sobre saber reconhecer a realidade e as dificuldades dos alunos. O gibi em questão era do “Chico Bento”. Na historinha ele era perseguido pela professora porque chegava sempre atrasado e às vezes dormia na aula. Num belo dia, a professora dirigia-se para a escola e passou pela zona rural da cidade. De longe ela viu o Chico Bento trabalhando duro no roçado e entendeu o porquê dele chegar sempre atrasado. Apesar de ser apenas um garoto, trabalhava duro e acordava muito cedo.

A professora Roy, nessa aula com material didático inusitado, mostrou o valor de saber 'aprender a aprender'. Nessa mesma aula relatei um fato ocorrido comigo enquanto assistia ao capítulo de uma novela. Num dado momento, numa mesa de restaurante, formou-se um triângulo amoroso: Edu (Reynaldo Gianecchine), Helena (Vera Ficher) e Miguel (Tony Ramos). A filha de Miguel, vendo a cena, comentou: “Veja só um triângulo amoroso inusitado”. O amigo dela, que estava ao lado, completou: “E é um triângulo escaleno”. Os dois riram e a cena seguiu. “Triângulo escaleno?” fiquei pensando. Ignaro em matemática, fui ao dicionário e aprendi que se tratava de um triângulo com lados diferentes. Fiz a analogia e entendi o comentário visto na novela.

O problema é que grande parte das pessoas que assiste às novelas não tem base para extrair algum conhecimento daquela fonte (exígua, reconheço). Falta saber aprender a aprender. Quem tem estrutura absorve cultura nas mais inusitadas fontes. Sorte que me ensinaram a pescar.

RADIOLA VOL. 01 – PLEBE RUDE – O CONCRETO JÁ RACHOU

O famoso mini-LP da banda brasiliense, Plebe Rude, é um dos maiores ícones sonoros da década de oitenta. É um daqueles discos clássicos presentes em quase todas as listas de quem curte o rock brasileiro. Ouvi muito esse disco. A história da Plebe Rude tem uma curiosidade sempre citada (com ares de honra) nas entrevistas que a banda dava (e ainda dá): “Muita gente não sabe, mas a Legião Urbana começou abrindo os shows da gente lá em Brasília”. O fato é que seus conterrâneos, liderados por Renato Russo, alcançaram o estrelato, mas isso é outra história.

O Concreto Já Rachou” eternizou dois clássicos: “Até Quando Esperar” (Ressuscitada na trilha sonora da novela global 'Tempos Modernos') e “Proteção”, canção atualíssima apesar de ter sido escrita há mais de 25 anos. Seguindo a linha da crítica com cunho político (Influência de Brasília), o disco traz “Johnny Vai A Guerra (outra vez)”, que é uma espécia de “Era um garoto que como eu...” aquela versão dos “Incríveis” que todo mundo conhece. Na faixa “Minha Renda”, a banda dá uma alfinetada na interferência dos produtores que sempre tentavam pasteurizar as músicas para poder tocar no rádio e na tevê. Curiosa foi a participação do padrinho da banda, Herbert Viana, que cantou nessa faixa o final do inusitado verso “Já sei o que fazer pra ganhar muita grana / Vou mudar meu nome para Herbert Viana”. Completam o disco as faixas: “Sexo e Karatê”, “Seu Jogo” e “Brasília”.

Em 2006, a Plebe Rude voltou com uma nova formação: o baterista Gutje e o guitarrista Jander Bilaphra deixaram a banda e foram substituídos pelo legendário guitarrista Clemente (ex-Inocentes) e Txotxa (ex Mascavos Roots).

O “Concreto Já Rachou” foi lançado em 1985 pela gravadora Emi-Odeon e ainda encontra-se em catálogo.

MINHA BIBLIOTECA – VOL. 01 – VIRANDO A PRÓPRIA MESA

-->Pode um livro que é obrigatório em muitos cursos de economia não ser chato? Pois bem, “Virando a Própria Mesa”, um livro auto-biografico escrito em 1988 pelo jovem (na época) empresário Ricardo Semler, escapou das chatices que envolvem o universo econômico. A obra me foi apresentada, na época do seu lançamento, pelo dileto amigo (e dublê de poeta) Beto Borges.
Usando linguagem simples e humor ácido Ricardo descreve sua trajetória à frente da Semco, empresa que herdou do pai quando contava apenas 28 anos. O conjunto de inovações que ele experimentou quando assumiu a massa quase falida deixada pelo pai, é o ponto alto do texto. Mais de duas décadas depois da publicação, o livro é absolutamente atual. Essa é uma prova inconteste do pioneirismo do jovem empresário.
O livro não trata apenas de questões empresariais, Ricardo fala de sua vida, dos paradigmas quase dogmáticos que teve que suplantar para impor sua forma de gerir. O interessante é que, mesmo tendo uma formação acadêmica sólida, com pós-graduação em Havard, Ricardo se sobressaiu inovando em setores que as empresas da época davam pouca importância: humanização das relações interpessoais, redução da jornada de trabalho, só para citar os mais polêmicos.
Uma das mensagens mais presentes no texto do Semler é a desobediência a várias “verdades” pré-estabelecidas. Sua narrativa sugere, nas entrelinhas, sentimentos quase que anárquicos no melhor sentido dessa ideologia. Quando assumiu a empresa do seu pai, ele ignorou o organograma existente . A empresa teve que se adequar às suas mudanças, quando o normal, quase sempre, é o inverso. O êxito de Semler, ele acentua no livro, baseou-se no tripé: Capacidade para identificar a necessidade de mudanças (Complemento com um pensamento do filósofo Pascal: 'Não me envergonho de mudar de ideia porque não me envergonho de pensar'), conquistar o respeito e a participação dos funcionários e ser flexível.
O sucesso de Ricardo Semler conferiu-lhe um prestigio internacional. Por duas vezes foi aclamado pelo “Wall Strett Journal” como líder de negócios do ano (1990 e 1992).
-->Em 2002 o best seller "Virando a Própria Mesa" foi relançado pela editora Rocco. Clique aqui e confira a capa.

SER PROFESSOR EM PERNAMBUCO É ESTAR NO FIM DA FILA

Sou professor da Rede Estadual de Pernambuco desde 1998. Em pouco mais de dez anos, tenho visto com bastante tristeza a decadência dessa (outrora) nobre profissão aqui em Pernambuco. A questão salarial, numa analogia bem simples, lembra um nadador que se esforça em dar braçadas enquanto alguém lhe segura as pernas. Dessa forma, o quadro de docentes do estado de Pernambuco vem amargando a última colocação no ranking de salários no Brasil, que já não é grande coisa.

O que mais irrita os profissionais de educação em Pernambuco, é a hipocrisia com que o Governo do Estado trata essa questão. Propagandas veiculam a imagem de uma escola que não existe. Reformas de prédios, kits para os alunos e achatamento salarial para os professores. O principal articulador do processo de educação, o professor, é tratado como um detalhe sem importância nessa grande ilha da fantasia. A escola das propagandas não trata das agruras dos docentes.

A maioria dos professores da Rede Estadual de Pernambuco tem o seguinte perfil:

*Sobrevive com o salário comprometido por vários empréstimos consignados.

*Acumula vários vínculos empregatícios para tentar viver com um pouco mais de dignidade.

*Tem a saúde comprometida por acumular vários vínculos empregatícios. Vive estressado, sem voz e sem tempo para a família.

*Não consegue ministrar uma aula de qualidade porque lhe falta tempo para prepará-las.

*Trabalha sob pressão porque o acúmulo de atividades toma muito tempo impedindo que as suas atividades sejam cumpridas nas datas estabelecidas pela escola. Para agravar mais essa situação a Secretaria de Educação elaborou um diário de classe com muitos detalhes, só adequado à realidade do professor que trabalha em jornada única.

*Tem baixa autoestima porque não é respeitado na sala e é tratado pela imprensa como um derrotado.

Sou professor, trabalho num país que paga salários baixos. Esse país que paga salários baixos é dividido em estados. Eu trabalho no estado que paga o salário mais baixo. Eu estou no fim da fila.

Professor Edvaldo Cavalcante de Oliveira

RENATO RUSSO, 50 ANOS HOJE

Legião Urbana foi uma das principais referências da minha juventude, acompanhei o nascimento, a vida e o final da banda. Eu era um daqueles fãs xiitas que compravam os discos (vinil) e se apressavam para decorar todas as letras. Logo no primeiro LP, o álbum branco, todo mundo percebeu que aquela banda de Brasília tinha um diferencial: as letras do Renato. Os textos dele eram tão mais importantes que as músicas que, em alguns casos, a melodia parecia não encaixar. Diziam que Renato imitava o estilo do Caetano, que acelerava o cantar para a letra se encaixar na melodia. Na música “Eclipse Oculto” temos um exemplo clássico desse artifício no trecho “Mas bem que nós fomos muito felizes só durante o prelúdio...” Caetano acelera para a letra caber na melodia. Renato fazia muito isso. Um claro indício da maior importância da letra.

Por ter cara de nerd, Renato ganhou fama de intelectual e passou a ser ridicularizado por muitos. Sim, como ele virou um artista popular, diminuir a sua importância ou tratá-lo como um “mero objeto de adoração da juventude” passou a ser diversão entre a turma dita “cabeça”. Mas esse breve texto não tem a pretensão de levantar nenhuma bandeira em favor do Renato, ele não precisa. Vi nos últimos dias que o culto à sua memória e às suas canções continua fortíssimo e isso é o que importa.

Devo muito a esse artista. Numa época dificílima da minha vida – Entre 1989 e 1992 – em que me sentia absolutamente perdido no mundo, vivia recluso, quase nunca saia de casa, uma coisa que ajudou a me manter vivo foi a música da Legião Urbana, sobretudo por causa dos textos do Renato, isso não é pouco. No disco “Legião Dois” (o meu preferido) passamos a conviver com as metáforas e as entrelinhas dos discursos dele. A inquietação dele devido a problemas com a sua sexualidade, produziu canções antológicas.

Em 1990 estive no inesquecível show realizado aqui no Recife, com o Geraldão lotado. Lembro-me das palavras do Renato na abertura: “Nós somos a Legião Urbana e vamos cantar algumas canções para vocês”. Em seguida a banda tocou “Há Tempos” e Renato jogou flores para a imensa plateia.

A Legião Urbana acabou para mim no disco “A Tempestade”, de 1996. A Partir daí, a melancolia tomou conta das letras do Renato. Preferi não assistir a essa triste caminhada para o fim. Lembro-me da profunda tristeza que senti quando ouvi a canção “Via Láctea” em que Renato canta, já com a voz arrastada, sua tristeza por estar doente. Ali ele explicitou a sua falta de esperança e o pedido para que o deixassem sozinho. Eu fiz o que ele pedia na canção, não ouvi mais os discos lançados depois de 1993 . Os bons se vão cedo mas são imortais!

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